Por José Freire (*)

O ano passado veio pôr fim a qualquer questão que restasse quanto à necessidade de as organizações digitalizarem e otimizarem os seus processos para dar resposta aos novos desafios que se lhe apresentam. No que se refere à transformação digital, deixámos para trás o “se”, acelerámos o “quando” e ficamos, agora, com o mais importante: o “como?”.

O caminho para esta transformação passa obrigatoriamente pela definição da infraestrutura de suporte ao negócio. Se, há uns anos, não havia muitas opções, desde que a estratégia “cloud first” começou a ter mais expressão no mercado, a oferta cresceu de forma significativa. Segundo as previsões da IDC Portugal para este ano, até ao final de 2021, com base na aprendizagem feita em 2020, 80% dos negócios irão estabelecer um mecanismo de transição para infraestruturas cloud-centric e aplicações duas vezes mais rápidas do que anteriormente à pandemia.

A escolha do modelo cloud a adotar é, portanto, um dos principais desafios com que as organizações se debatem atualmente. A considerar estão abordagens em modelo cloud privada, cloud pública ou cloud híbrida. Mais recentemente, surgiu também uma quarta opção: o multi-cloud. O modelo multi-cloud tem muitas semelhanças com a cloud híbrida, onde são conjugados serviços on premises com serviços de uma cloud pública, sendo que em multi-cloud existe uma integração com uma ou mais clouds públicas, por vezes também designadas por hyperscalers.

Esta grande variedade de oferta traduz-se na possibilidade de cada organização escolher o modelo que melhor se adapta às suas necessidades específicas. No entanto, mais opções traduzem-se também em mais aspetos a considerar, de forma a assegurar uma decisão informada e, acima de tudo, otimizada para cada negócio.

Assim, no momento de transitar para a cloud, devem ser tidos em conta os seguintes fatores:

  • Valor para o negócio – a capacidade e utilidade de uma determinada plataforma deve responder às necessidades e especificidades do negócio;
  • Competências cloud – tão importante como escolher o modelo cloud mais adequado é garantir a existência de competências para operar e gerir de forma eficiente os serviços que lhe são inerentes;
  • Cobertura geográfica – seja para tirar partido da proximidade a diferentes localizações onde o negócio opera ou por soberania dos dados, é importante considerar a cobertura geográfica do cloud provider;
  • Otimização de custos – a escolha do cloud provider e o modelo de governance têm impacto direto nos custos;
  • Autonomia – a plataforma de gestão deve permitir efetuar todas as operações de gestão e operação sem intervenção do cloud provider.

Ao considerar todos estes fatores, a resposta pode residir em serviços e soluções existentes em apenas um cloud provider ou em vários. Tipicamente, as organizações procuram não ficar presas a um determinado fornecedor, de modo a evitarem o vendor lock-in. Contudo, basear a adoção de uma abordagem single-cloud vs multi-cloud apenas nesta motivação pode ser imprudente. Já do ponto de vista de custos, quanto maior for a utilização de um determinado cloud provider, melhores serão, normalmente, as condições comerciais. Logo, se objetivo for a distribuição equitativa dos recursos por diferentes providers (para evitar o lock-in), dificilmente os custos serão inferiores aos associados a utilizar apenas um provider.

Todavia, assumir uma abordagem com recurso a vários cloud providers coloca imediatamente outra questão: como fazer uma gestão eficiente dos diferentes fornecedores? Por um lado, a resposta passa por saber tirar partido das diversas ferramentas que existem no mercado, cujo objetivo é permitir a gestão e otimização dos recursos em cenários multi-cloud; por outro lado, ainda que estas ferramentas tragam benefícios essenciais, não são mais relevantes do que os skills da equipa de TI da organização ou do fornecedor de serviços, algo que nunca deve ser ignorado ou descurado na definição de uma estratégia de transformação digital.

Em última análise, não existe uma solução ou abordagem que se adeque invariavelmente a todas as organizações e modelos de negócio. No que se refere à cloud, é fundamental reconhecer que cada caso é um caso e, tão importante como decidir dar o passo para a “nuvem”, é considerar todos os fatores que permitam decidir como fazê-lo da melhor forma.

(*) Cloud Services Manager da Bizdirect