Por Jan Wildeboer (*)
As empresas só podem desenvolver e impulsionar a inovação com a comunicação adequada. Todavia, isto requer uma mudança cultural, pois o tradicional estilo de liderança de comando e controlo está desactualizado. Mas as empresas não precisam de reinventar a roda: a resposta está na Culture-as-a-Service. As empresas irão em breve gastar mais de metade dos seus orçamentos em TI na transformação digital - de acordo com o "Digital Transformation Spending Guide" da IDC, espera-se que as empresas gastem 2,3 biliões de dólares em 2023. Os números são promissores, mas muitas novas tecnologias são apresentadas sem o feedback das pessoas que vão trabalhar com elas mais tarde.
Mesmo dentro de uma empresa, as novas aplicações são desenvolvidas e criadas sem o contributo de outros stakeholders. No entanto, a culpa não está no departamento TI. Ao invés, este é um problema de base: de falta de comunicação entre todos os interessados e da falta de disponibilidade para aprenderem uns com os outros. Então como podem as empresas fomentar uma cultura de responsabilidade partilhada? A resposta reside em ambientes abertos que facilitem a discussão e a colaboração com vista a alcançar a mudança - as comunidades de programadores de base promovem a criatividade que conduz a novas ideias, novas aplicações e novas soluções. As empresas também são comunidades, sejam elas de que sector forem, do automóvel ao do retalho, sem esquecer o financeiro. Porém, ao invés de trabalharem em conjunto, os diferentes departamentos costumam ter um forte sentido de competição interna, sobretudo nas grandes empresas - algo que, por vezes, até é encorajado pela administração.
No entanto, as soluções criativas e as ideias só emergem através de uma cooperação estreita e de um intercâmbio constante. Sobretudo na implementação de projectos de digitalização, um dos factores cruciais para o sucesso é uma compreensão abrangente e partilhada dos processos a transformar. Se esta base comum não for criada, os mal-entendidos e os erros provenientes vão ocorrer ao longo de todo o projecto. Torna-se particularmente complicado no momento de traduzir os requisitos técnicos em soluções que podem ser implementadas pelos programadores. Afinal, estes vão desenvolver o software de acordo com a forma como compreenderam as especificações. Um método para impedir clientes e stakeholders insatisfeitos, bem como desperdício de orçamento e de tempo, é o método de modelação "event-storming". Equipados apenas com uma série de post-its, os programadores e os utilizadores encontram-se para trocar a sua visão para o software planeado. O segredo está em fazer o grupo trabalhar em conjunto para encontrar uma solução e criar uma compreensão partilhada de como o software irá suportar as necessidades do negócio.
O event-storming é um exemplo de uma nova filosofia empresarial e de um processo estratégico que é executado enquanto Culture-as-a-Service (CaaS). O IT-as-a-Service é um modelo operacional no qual uma empresa compra serviços TI chave-na-mão à medida das suas necessidades. Já o CaaS cria um enquadramento holístico que facilita a inclusão, a discussão, a partilha de conhecimento e as boas práticas. Isto cria uma organização aberta em que novas ideias emergem e a colaboração se torna a norma. O CaaS também acaba por afastar a noção de que as TI não são mais do que um centro de custos: as TI estão no centro de todas as áreas e processos de uma empresa moderna. Com o novo enquadramento, o departamento de TI pode concretizar todo o seu potencial e tornar-se o centro da inovação. No entanto, isto requer uma alteração radical no pensamento: os responsáveis de cada divisão precisam de colaborar com os seus colegas de TI, ao passo que os programadores e as equipas técnicas precisam de pôr de parte a sua introversão e adoptar uma cultura mais aberta.
Na prática, isto significa que o departamento TI envolve os colegas dos restantes departamentos da empresa no processo de desenvolvimento do software, usando os métodos de modelação de grupo já mencionados. O resultado é que ambas as partes estão envolvidas no desenvolvimento de uma solução que impulsione um novo processo empresarial. A abordagem é reforçada por ciclos de resposta fechados que se realimentam e por sistemas descentralizados que encorajam uma troca constante de ideias. Ambos asseguram ainda que diversas vozes da organização são ouvidas, que os sucessos e fracassos podem ser discutidos de igual forma, e que o desempenho de aplicações e processos específicos pode ser mensurado. Fruto disso, os projectos podem ser cancelados se necessário, outros podem ser implementados no seu lugar, ou alguns mais antigos podem ser reanimados, desta vez com uma nova perspectiva.
O CaaS oferece às empresas a oportunidade de analisar o desempenho de sistemas proprietários terceiros e usar estes dados para desenvolver um novo tipo de serviços e aplicações tendo por base padrões abertos. Em alternativa, podem optar por ferramentas de desenvolvimento de código aberto adequadas às suas necessidades e criar a infra-estrutura necessária para construir novas aplicações. O CaaS leva a gestão de processos e a gestão de pessoas a novos patamares.
(*) Evangelista de Open Source, Red Hat
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