Por Miguel Gonçalves (*)

Era comum, há 25 anos atrás, as empresas possuírem nos seus quadros, profissionais vulgarmente designados como sendo "informáticos".

Tipicamente, este profissional, desenvolvia aplicações em Visual Basic, geria o parque informático (nomeadamente em ações de field suporte e de reparações técnicas), mantinha funcional a rede de comunicações ethernet e a central telefónica da empresa. Esta realidade era transversal em inúmeras organizações, independentemente da dimensão das mesmas, excetuando os casos em que o core da organização assentava unicamente em serviços de suporte específicos, por intermédio de profissionais exclusivamente dedicados a uma atividade. Como exemplo os técnicos especialistas em voz ou os profissionais especialistas em softwares de faturação, eram dois dos casos onde a especialização era “formalmente” aceite.

Nos primeiros tempos esta dicotomia nunca foi, por todos, muito bem interpretada, pois o técnico especialista era confundido inúmeras vezes como sendo “um informático”. Por seu turno, o informático típico, o generalista, possuidor de um conhecimento mais transversal, mas não tão granular, era visto vulgarmente como o "tarefeiro tecnológico", sempre pronto e disponível para “apagar” fogos e limitado pela ausência de especialização, nunca visto, em momento algum, como um especialista.

Os últimos anos foram de mudança, obrigando as empresas a reinventarem-se para que pudessem continuar a ser competitivas, não só porque a utilização de tecnologia per si deixou de ser um fator diferenciador, mas porque as empresas, por fim, começaram a entender a importância e o impacto que a Indústria 4.0 iria trazer para a sociedade em geral e para as organizações em particular, essencialmente, pela componente de risco associado ao contexto cibernético em crescente na sociedade.

É neste contexto que, atualmente, o informático generalista surge. Como um ativo novamente procurado pelas organizações, no entanto, este profissional é agora dono de especializações em várias áreas (Polímata) legitimando, dessa forma, a sua capacidade em aprofundar determinadas matérias com a particularidade de possuir uma visão generalista, visto ser esta a base deste profissional.

A Cibersegurança em toda a sua plenitude é hoje um mundo de jargões, um complexo esquema de conceitos e dependências, tecnológicas, legislativas, normativas, processuais e sociais, exigindo-se, cada vez mais, que o profissional de cibersegurança seja um profissional polímata.

Não significa que estejamos perante a “morte” do informático generalista, esse vai continuar a existir, nomeadamente, em microempresas. No entanto, o polímata é hoje um dos ativos mais valiosos e procurados pelas organizações. Não necessariamente porque não existam especialistas em cibersegurança, mas essencialmente porque procuram-se donos de especializações, pois são esses que possuem a chamada visão holística, aquela que para muitos é vista como o Santo Graal, capaz de “converter” e “evangelizar” a camada C-Level para a real importância da cibersegurança na estratégia da organização.

Nos próximos anos iremos continuar a assistir à “profissionalização” destas funções e à correta segregação de papéis: o generalista, o especialista e o Dono de uma especialização, mas iremos igualmente observar que existirá uma diminuição dos donos em especializações e uma substituição por especialistas, o que a breve prazo poderá potenciar o distanciamento entre o negócio e a cibersegurança.

Estejamos todos muito atentos!

(*) Cybersecurity Consulting Manager na Axians Portugal