Por Kauan von Novack (*)

Portugal está na encruzilhada entre o talento e a oportunidade. Tem universidades de excelência, empreendedores visionários e uma posição geográfica privilegiada. No entanto, o crescimento do ecossistema de startups continua aquém do seu potencial. Sem um apoio governamental robusto e estratégico, corremos o risco de ver ideias brilhantes irem embora — ou morrerem na praia. O que países como Reino Unido e Singapura perceberam há anos, Portugal ainda precisa colocar em prática: a inovação não se faz só com boas ideias, mas com coragem pública para investir nelas.

O que falta? Talento existe. Ideias também. O que está em escassez é capital paciente, especialmente nos estágios iniciais de desenvolvimento de startups. Investir em inovação é assumir riscos e, muitas vezes, os investidores privados evitam essas fases mais incertas. Aí entra o papel essencial do Estado: assumir a vanguarda do risco, criando mecanismos de incentivo e co-investimento que deem às startups portuguesas a oportunidade de provar o seu valor.

A França, com o movimento "La French Tech" em parceria com o banco público Bpifrance, criou um ecossistema vibrante, com milhares de startups, incentivos fiscais e programas de aceleração. Singapura e Coreia do Sul seguiram caminhos semelhantes, apostando em infraestruturas, educação técnica e capital público inteligente. O Reino Unido apostou em criar um conjunto de incentivos ao nível dos impostos a quem investe em inovação

Os resultados falam por si: geração de empregos qualificados, aumento da receita fiscal, atração de talento global, retenção de jovens locais e dinamização de regiões inteiras. Londres, Seul e Paris são hoje exemplos de como a inovação pode transformar economias.

Desta forma acredito que o governo tem três grandes papéis neste processo:

1 - Atrair investimento privado para o ecossistema

Como desenhar mecanismos de investimento e alívios fiscais que tragam investidores mais tradicionais e pessoas de elevado patrimônio para investirem nos setores de inovação? Trata-se de reduzir o risco para o investidor, seja através de mecanismos de co-investimento, incentivos fiscais ou fundos de capital de risco público-privado. É preciso injetar capital no ecossistema, mas da forma mais eficaz e adaptada à realidade das startups, que funcionam em ritmo acelerado e têm recursos humanos limitados. O processo precisa ser simples, com decisões rápidas e uma implementação eficiente. Além disso, é fundamental pensar na atração de investimento internacional. E o acesso a esse financiamento deve ser democrático — todos no ecossistema devem ter conhecimento e acesso às oportunidades.

2 - Atrair pessoas para serem membros ativos do ecossistema

Precisamos despertar o interesse dos estudantes pela criação de empresas e incentivar investigadores universitários a transformar a investigação subsidiada em valor para a sociedade — e a forma mais eficaz de o fazer é através da criação de startups baseadas em conhecimento. Como atrair especialistas para fundarem startups em Portugal? Como utilizar a indústria tech como ponte para trazer de volta a emigração portuguesa qualificada? O talento é o motor do ecossistema, e o Estado pode ter um papel central na sua ativação.

3 - Atrair startups e empreendedores internacionais para se instalarem em Portugal

Temos vantagens competitivas claras: qualidade de vida, alento e localização estratégica. Mas para nos tornarmos realmente atrativos é preciso comunicar essas vantagens de forma estruturada, criar programas de softlanding, acelerar processos de visto e garantir uma integração fácil com o ecossistema local.

Portugal tem uma oportunidade única de se posicionar como hub de inovação no sul da Europa. Mas para isso é preciso coragem. Políticas públicas mais ambiciosas, fundos de investimento público-privados, programas de incentivo fiscal e apoio institucional estruturado.

O futuro de Portugal passa pela inovação. E a inovação passa por decisões públicas corajosas, que coloquem o ecossistema de startups como prioridade nacional. O momento de agir é agora.

(*) CEO da Startupbootcamp