Por Rita Santos (*)

Apenas 40% das empresas portuguesas realizam atividades de inovação. Esta estatística revela uma realidade preocupante num mercado onde a inovação deixou de ser uma escolha e é agora uma condição sine qua non para a sobrevivência e boa saúde das empresas. Em Portugal, um país que procura o seu posicionamento no cenário internacional, as empresas que não inovem e se adaptem correm o risco de se tornar irrelevantes.

Portugal tem, nas últimas décadas, cultivado uma narrativa otimista sobre a inovação. Temos assistido à multiplicação de eventos, incubadoras, programas de aceleração e financiamento público para a transformação e inovação. No entanto, quando descemos ao terreno e observamos o modus operandi das empresas, o cenário é bem diferente do retratado nas agendas governamentais: a cultura de inovação continua a ser encarada como uma ameaça à estabilidade e não como uma alavanca para o crescimento.

O problema não é certamente a falta de talento, nem a ausência de instrumentos. Precipitadamente, podemos concluir que o entrave se encontra na aversão ao risco ou na incerteza que a mudança traz consigo. Pessoalmente, acredito que a barreira está na atitude e humildade necessária para dar os passos que a inovação exige. Acredito que as empresas não estão preparadas para trocar a previsibilidade pelo risco, para substituir a experiência pela experimentação e sobretudo para admitir que a melhor ideia pode vir de fora. Felizmente, há bons exemplos a emergir que contrariam esta corrente, mas continuam a ser exceções.

Portugal e as suas empresas necessitam de uma mudança na forma como é encarada a inovação. Creio que para a mudança acontecer, temos de ter obrigatoriamente três fases: o estímulo, a rotina e a recompensa. A principal debilidade está na adoção da rotina, na maioria das vezes o envolvimento é ad hoc e simbólico, o que consequentemente não nos leva à terceira fase, a recompensa, que é fulcral e instigará as empresas a incorporarem a inovação no seu ADN. Acredito que há caminho a fazer e que as empresas têm capacidade de superar este ciclo e abraçar a inovação, desde que conscientes do trilho a percorrer.

Em primeiro lugar, e como estímulo, dinamizar iniciativas de Open Innovation pode ser o catalisador que muitas empresas ainda ignoram. Embora a ideia seja simples, a sua concretização tem sido complexa, dinamizar programas de inovação aberta implica mais do que lançar desafios pontuais ou criar espaços de colaboração. Requer uma estratégia contínua que envolva diferentes atores — startups, universidades, centros de investigação, clientes e até concorrentes — numa lógica de cocriação e partilha de valor. Para que esta dinâmica seja eficaz, é essencial que as empresas coloquem à disposição recursos, dados e conhecimento, enquanto se predispõem a aprender com o ecossistema.

Em segundo lugar, a rotina: é fundamental, depois de abrir, manter a porta de casa aberta – posicionarem-se como um hub de inovação. Por último, e como recompensa dos passos dados anteriormente, formar parcerias. Este último passo do ciclo tripartido irá levar as empresas para o valor real da inovação: a cocriação - grandes empresas cedem recursos e infraestrutura, universidades trazem o conhecimento e investigação, enquanto as startups trazem agilidade, inovação e novas ideias.

O futuro não espera por quem tem medo de arriscar. É imperativo que as empresas portuguesas, que tenham a capacidade de se adaptar, reinventar e levar o processo até ao fim, abracem a inovação como motor de crescimento e competitividade. O futuro começa hoje.

(*) Leader Project Manager da FI Group Portugal