Seis meses e mais duas semanas da fase de novos licitantes, que começou a 22 de dezembro de 2020 e teve pelo meio a interrupção do Natal e Ano Novo. O número de dias de leilão do 5G continua a somar e em todos os balanços se indica que é o mais longo e “épico” processo de licenciamento de espectro de telecomunicações em Portugal e na Europa. Mas não há fim à vista e poderemos continuar a escrever o mesmo nas próximas semanas, e até meses, antes que seja encerrado o processo e atribuídas as licenças.

Ontem decorreu o 126º dia da fase principal e hoje vai a meio o 127º, com resultados ao final da tarde como é habitual, mas cada dia chega com poucas novidades, meia dúzia de lotes na faixa dos 3,6 GHz a “mexer”, licitações pelo valor mínimo de 1 a 2% e um aumento do valor potencial de encaixe na ordem dos 600 mil euros de cada vez.

Tudo somado o Estado já pode vir a encaixar 416,7 milhões de euros pela utilização do espectro radioelétrico associado à tecnologia de 5G, e o reforço do 4G, atribuindo licenças aos operadores que querem entrar no negócio das telecomunicações móveis em Portugal e aos três que neste momento dominam o mercado, a MEO, NOS e Vodafone. O preço de reserva de espectro apontava para um encaixe de 237,9 milhões de euros e neste momento o “ganho” é de mais 136 milhões, tendo já sido ultrapassado o encaixe obtido com as licenças de 4G, que foi de 372 milhões de euros.

Leilão 5G encaixe potencial, Dia 126
Leilão 5G encaixe potencial, Dia 126 créditos: SAPO TEK

Este é um leilão a “conta gotas” e tudo indica que ainda está para durar. O problema é que o atraso tem impacto, adiando o início da oferta comercial da tecnologia e empurrando Portugal para o fim da lista dos países mais avançados na Europa, quando no 3G e no 4G estivemos sempre entre os pioneiros.

De quem é a culpa? Dos operadores ou da Anacom? As responsabilidades são apontadas de parte a parte, numa guerra que já é longa e começou ainda na definição dos princípios para o licenciamento, com os operadores a acusarem o regulador de estar a introduzir regras desiguais e a favorecer empresas que não querem investir no mercado, para além de ter estabelecido obrigações de cobertura pesadas (e caras) para os operadores que já têm rede 3G e 4G nesta nova tecnologia. Do lado da Anacom também se indicam culpados, que são os licitantes que estão a atrasar o processo de forma deliberada, e que Cadete de Matos já garantiu que vão se conhecidos no relatório do leilão que será realizado quando o procedimento terminar.

A complexidade do procedimento, com o leilão de uma gama alargada de espectro – dos 700 MHz, 900 MHz, 2,1 GHz, 2,6 GHz e 3,6 GHz – e os atrasos relacionados com a necessidade de libertar a faixa dos 700 MHz, que estava a ser usada na TDT, podem ser apontados também como fatores que impedem maior celeridade, onde se junta o número de licitações diárias ter sido fixado nas 6 rondas e a possibilidade dos operadores licitarem pelas margens mínimas de incrementos de 1 e 2% nos preços.

Por isso a Anacom já mudou as regras de número de rondas diárias, duplicando para 12,  o que acabou por ter resultado no valor diário licitado, que ronda agora os 600 mil euros, mas não augura muito maior rapidez. O próximo passo pode ser eliminar a possibilidade de fazer licitações de 1 e 2% acima do valor anterior, o que resultou no caso da Alemanha e permitiu concluir rapidamente um processo que se arrastou por 3 meses.

Suiça ganha corrida em 1 dia, Alemanha demora 3 meses

Pela Europa há processos de leilão muito mais rápidos, mas para faixas mais reduzidas de espectro. A Suíça atribuiu as licenças para os 3,6 GHz num leilão de apenas um dia, e na Grécia bastaram seis rondas para entregar as licenças e encaixar  372,3 milhões de euros.

Muito mais demorado foi o leilão na Alemanha, ainda em 2019, que atingiu também valores muito elevados para as licenças distribuídas entre 4 operadores,  entre os quais um novo entrante, chegando aos 6,55 mil milhões de euros. Foi um leilão multi faixa, nas bandas de 2,1 GHz e 3,6 GHz e teve uma duração "épica" de quase três meses.

Outro dos casos de longa duração de leilões foi nos Estados Unidos a faixa dos 3,7 GHz valeu  81,1 mil milhões de dólares e o leilão durou 2 meses, com 21 participantes mais de 5.600 licenças disponíveis.

E depois das licenças atribuídas as redes começam a entrar em funcionamento. A TeleGeography contabiliza a existência de 172 redes comerciais de 5G em todo o mundo, com 9 novas operadoras que começaram a fornecer serviços em 2021. Até final do ano o número deve crescer para 273 e chegar aos 313 em 2023, indica a mesma fonte.

Os números mais recentes indicam que no final do primeiro trimestre de 2021 existiam em todo o mundo 298 milhões de ligação 5G, e que o ritmo é superior ao da adoção do 4G. São 79 milhões de novas ligações com a tecnologia de quinta geração móvel e o objetivo é triplicar em 2021 os números, chegando a 633 milhões a nível global, à medida que mais operadores implementam as suas redes 5G e que os smartphones ficam mais acessíveis. Em 2026 as previsões apontam para 4,6 mil milhões de ligações 5G.

Mercado está mais do que pronto para o 5G

A Anacom tinha colocado no cronograma o objetivo de ter serviços 5G comerciais a funcionar em Portugal no primeiro trimestre de 2021, mas já há quem duvide que seja possível ainda este ano.

Anacom novo calendário 5G
Anacom novo calendário 5G

Os operadores garantem estar prontos e começaram já a comunicar as vantagens do 5G, depois de terem realizado já uma série de pilotos e demonstrações de casos de utilização, mesmo sem terem ainda serviços para oferecer nem preços definidos.

Ao contrário do que aconteceu com o 4G, em que a rede começou a ser implementada antes de haver telemóveis e routers que tirassem partido da tecnologia, agora não faltam equipamentos, muitos dos quais já estão a ser vendidos aos utilizadores que ainda só podem usar o 4G. Em junho a Global Mobile Suppliers Association (GSA) estimava que estavam à venda 511 dispositivos 5G, entre smartphones e outro tipo de equipamentos. E os preços estão a ficar cada vez mais baixos, permitindo a massificação da utilização.

Estes são alguns dos equipamentos 5G à venda em Portugal

Que vantagens traz o 5G? Vale a pena esperar?

A pergunta sobre se realmente precisamos já da rede de nova geração (5G) é frequente, sobretudo avaliando a disponibilidade e capacidade do 4G e até do 3G que ainda é usado em muitas regiões. Esta é uma evolução tecnológica face ao 4G e tem sido apontada como potenciadora de crescimento no mercado, trazendo valor aos operadores e aos utilizadores finais, clientes particulares e empresas.

Mais velocidade, menor latência e capacidade de servir de forma flexível segmentos com grande necessidade de largura de banda, através da tecnologia mmWave, são os grandes trunfos, a que se soma a disponibilidade já no mercado de vários equipamentos (smartphones e routers) que podem tirar partido da tecnologia e com preços acessíveis ao utilizador médio, a partir dos 250 euros.

Com a tecnologia podem potenciar-se novos casos de utilização de serviços e de gerar valor aos operadores e às empresas. São muitas as previsões de empresas e consultoras que apontam as vantagens e o encaixe económico, e a Ericsson é uma das que têm mostrado este potencial, estimado em 4 mil milhões de euros para Portugal.

Comparação 5G por características técnicas
Comparação 5G por características técnicas créditos: Anacom
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Mesmo sem saber quando será entregues as licenças, a história do 5G em Portugal começa muito antes de 2020, quando se divulgou a proposta de regulamento para vender as licenças da quinta geração móvel. Os operadores já fazem testes pelo menos desde 2017  e neste campo Portugal está mesmo à frente de outros países europeus pelo número de ensaios realizados.

A MEO, a NOS e a Vodafone desdobraram-se na demonstração das vantagens do 5G em situações de emergência, no gaming e em festivais de verão, e o SAPO TEK teve oportunidade de experimentar o serviço durante o Web Summit 2019, tirando partido da largura de banda permitida pela rede da Altice.