O custo mensal é um dos elementos mais importantes quando se escolhe um pacote de telecomunicações, seja ele móvel, fixo ou uma oferta combinada (os chamados 3P ou 4P, quando juntam três ou quatro serviços). Mas na verdade não é o preço a única coisa que importa, porque no fim do dia é a disponibilidade e a qualidade do serviço que fazem a diferença. O barato pode sair caro, ou seja, não interessa ter a fatura mais baixa se depois não conseguir fazer chamadas ou aceder à internet, ou se os principais canais de TV não estão disponíveis.

Esta pode ser uma “Lapalissada”, ou uma verdade de La Palice, mas nem sempre é evidente para quem vai escolher um novo serviço, ou um novo operador. A qualidade e cobertura das redes em Portugal faz com que em muitas zonas acabe por ser indiferente a escolha de um fornecedor de serviço, mas com as novas ofertas low cost e a entrada da Digi este é um fator a ter em conta.

Afinal, quais são os elementos mais importantes na escolha de um novo serviço? Se ficou interessado nas novas ofertas e está a considerar mudar de operador, que questões deve ter em conta? Preparámos um explicador com 7 tópicos essenciais que podem ajudar a escolher as melhores. 

Só considerámos para este explicador as ofertas de operadores low cost que são os que concorrem mais diretamente com a Digi, sendo que há também opções de tarifários móveis para o segmento jovem (abaixo de 25 anos) com a Yorn, Moche e WTF, que têm preços que podem ser mais interessantes para quem procura internet móvel e comunicações de voz mas que não incluem TV nem internet fixa.

Veja aqui algumas das ofertas para quem tem menos de 25 anos

Ainda antes de passarmos às questões a ter em conta na escolha do tarifário, fica uma nota para que verifique também se está abrangido pela Tarifa Social de Internet, que em alguns casos pode ser uma opção para quem só procura telefone e internet móvel, mas que tem condições específicas a considerar, como pode ver neste explicador.

Veja as 7 questões a considerar, mas que podem não corresponder aos interesses e necessidades de todos os clientes.

1 – Cobertura

Esta é talvez a questão mais relevante. É necessário ter cobertura de rede para conseguir fazer chamadas e ter acesso à internet. No caso das redes móveis, tem de haver uma ligação a antenas com sinal que chegue à zona onde está, enquanto na rede fixa é preciso um cabo de fibra, ADSL ou rede coaxial, que chegue a sua casa para poder fazer a ligação. Esta é essencial para ter um serviço de TV de um dos operadores que considerámos neste explicador, embora a MEO, NOS e Vodafone tenham aplicações com as quais pode aceder aos canais de TV contratados através da rede móvel.

E como se comportam a Amigo, DIGI, Uzo e Woo na cobertura de rede? A Amigo, Uzo e Woo suportam os seus serviços nas redes das operadoras principais, ou seja a Vodafone, MEO e NOS (respetivamente) funcionando como MVNO (operadores virtuais) na rede móvel e na rede fixa, subcontratando a rede. Isto significa que onde há rede de uma destas operadoras há serviços, e nestes casos a cobertura do território é bastante extensa, embora ainda com zonas sem serviço, as chamadas “zonas brancas” que estão identificadas nos mapas da Anacom.

Cobertura de 5G no mapa da Anacom
Cobertura de 5G no mapa da Anacom

No caso da Digi, a operadora romena está ainda a instalar a sua rede móvel, já com uma cobertura garantida nos principais centros urbanos, mas ainda deficitária noutras áreas, como o SAPO TEK já comprovou e tem sido apontado por vários testes de utilizadores. Na rede fixa a cobertura é também ainda reduzida, já que a operadora começou a instalar fibra mas não partilha as localizações. Está também a tirar partido da rede da Nowo, cuja aquisição já teve luz verde da concorrência, e a fazer a atualização dessa rede, mas não é claro onde é que isso está a acontecer e a que ritmo.

Lembre-se também que a cobertura de rede não é apenas importante nas zonas abertas e nas ruas, mas igualmente dentro dos edifícios. Casas e escritórios de paredes mais densas, ou com espaços mais interiores, podem não conseguir obter sinais de antenas que oferecem cobertura de 4G ou 5G e as operadoras têm de instalar mais antenas para garantir esse acesso.

A Digi já admitiu que está a ter dificuldade em instalar antenas em alguns locais, como centros comerciais e também no Metropolitano de Lisboa, o que pode impedir os seus clientes de terem rede nesses locais.

A melhor forma de verificar qual é a cobertura de rede fixa é fazer o teste da morada no site das operadoras. No caso da rede móvel só mesmo pela experiência com os equipamentos ou a consulta dos dados do regulador, mas que ainda não têm informação da Digi. Pode também pedir um cartão gratuito para experimentar, e todas as operadoras estão a facilitar a entrada de novos clientes. 

Existe ainda a expectativa de que as operadoras passem a disponibilizar o que é designado como “roaming nacional” e que permite que quando existe cobertura de uma operadora numa determinada zona essa possa encaminhar as chamadas de outras redes, como acontece fora do país, através de acordos estabelecidos. Mas esta é uma possibilidade prevista nas obrigações do 5G mas ainda não implementada.

2 - Preços e pacotes combinados

Com valores a começar nos 4 euros mensais para serviços móveis, os preços são sempre uma questão valorizada pelos utilizadores, mas como dissemos antes pode não ser a mais importante. Vale a pena avaliar a que corresponde cada uma das ofertas das operadoras e não olhar apenas para o preço base, por muito que seja atrativo. Qual é a velocidade e o tráfego de internet incluído? Corresponde mesmo a dados ilimitados? E o que é que isso significa? E quantos minutos de voz inclui? Os SMS são incluídos ou pagos?

Depois da entrada da Digi as operadoras low cost apresentaram também novas ofertas de preços que concorrem diretamente nos vários pontos, baixando os preços do móvel e apresentando pacotes semelhantes para a rede fixa (que pode não ser fibra) e a TV. As propostas estão a mudar e agora a empresa de origem romena tem mais ofertas estratificadas para o serviço móvel, começando nos 4 euros por mês para quem não quer mais de 50 GB e com chamadas ilimitadas, que estava já nas propostas apresentadas no início de novembro.

Há uma grande sintonia entre os preços e ofertas das quatro operadoras e é normal que continuem a evoluir, com apostas em alguns pontos de diferenciação, como por exemplo mais minutos, ou mais dados. Todas garantem que não há fidelização e alguns preços são promocionais, mudando a partir de 31 de dezembro, e por isso é importante fazer contas ao que vai pagar a seguir.

Veja abaixo a tabela do que cada uma das operadoras inclui na rede móvel e os preços

Análise tarifários low cost - 3 dez 2024
Análise tarifários low cost - 3 dez 2024

Se está a considerar um pacote combinado, veja também qual a oferta de internet fixa que pode juntar ao serviço móvel e se isso tem vantagens, num pacote 2P. A Amigo passa por cima da oferta de internet fixa e só tem pacotes combinados com TV. Note que mais do que o preço e a velocidade há questões de suporte e de tecnologia que referimos numa questão mais à frente.

Em todos os casos é obrigatório a fidelização por três meses.

Veja a tabela de ofertas de internet fixa

Análise tarifários low cost - 3 dez 2024
Análise tarifários low cost - 3 dez 2024

Por último considere a oferta com TV. É obrigatório que tenha internet fixa para poder subscrever este pacote 3P e os preços disponíveis estão na tabela abaixo. Também aqui há muita sintonia, de preços e ofertas, com a UZO a apostar em mais canais e no Wi-Fi 6, mas também em mais canais, esticando para 70 a oferta, em vez de 60 canais. A Woo está promover a integração com box TV Android.

Para além dos preços deve mesmo olhar para a oferta de canais e também o suporte a Wi-Fi mais rápido, com routers que integram Wi-Fi 6.

Veja a tabela de ofertas de pacotes de móvel+internet fixa+tv

Análise tarifários low cost - 3 dez 2024
Análise tarifários low cost - 3 dez 2024

Note que há mais opções e que nestas tabelas escolhemos apenas as mais baratas das várias ofertas. Estes são printscreens das propostas das três operadoras captados dos seus sites

3 – Fidelização

Mais do que o preço, é aqui que a entrada da Digi tem o potencial para abanar o mercado ao avançar com ofertas sem prazo de fidelização, excepto na TV, como referimos e onde a fidelização é de três meses.

Os pacotes com fidelização de 12 a 24 meses são maioritários em Portugal e apesar dos três maiores operadores terem sido obrigados a avançar com ofertas desagregadas, e sem fidelização, estes têm preços que não compensam, empurrando os clientes para os pacotes combinados, e com fidelização, mesmo que tenham serviços que não precisam e não usam, como o telefone fixo.

Para já a MEO, NOS e Vodafone não mudaram as políticas mas a Amigo, Uzo e Woo seguem o mesmo modelo da DIGI, sem fidelização no móvel e com três meses apenas nas ofertas de internet fixa e TV.

3 - Acordos de interligação

Este são os acordos que permitem que as chamadas de uma rede sejam encaminhadas para outra rede. Ou seja, se ligar da Amigo para a Vodafone, ou para a MEO e Nos, deve conseguir fazer a chamada, e vice-versa. Não há registo de problemas com as ligações de clientes da Amigo, UZO e Woo, mas nos testes que fizemos da Digi verificámos muitas falhas, com a rede a não reconhecer números MEO, NOS e Vodafone, sobretudo para fazer chamadas e não para receber, uma situação que pode ainda dever-se a uma fase inicial de implementação do serviço.

4 - Roaming internacional

O roaming é um dos pontos a considerar. Quais são os acordos para utilizar o serviço no estrangeiro? A operadora tem serviços internacionais? E quais são os custos? Se viaja vale a pena tomar em consideração este critério. Embora possa ser mais fácil em alguns países comprar um cartão SIM local – ou instalar um eSIM se o telefone o permitir – na Europa as vantagens do roaming gratuito nos 26 países, mais o Reino Unido que continua abrangido pelos acordos, faz com que seja relevante ter acesso ao roaming que permite usar o tarifário como se estivesse em Portugal.

Uma pesquisa nos sites da Amigo, Digi, Uzo e Woo mostra que as operadoras têm também esse critério em conta e que estão alinhadas para disponibilizar acesso ao roaming internacional, embora não sejam muito claras em relação aos tarifários aplicados

5 – Canais de TV suportados

Entre as quatro operadoras incluídas neste explicador, a Digi foi a primeira a avançar com oferta de canais de TV, o que  provocou um efeito de arrastamento e a reação da Uzo, Amigo e mais tarde da Woo nesse sentido. Antes estas três operadoras só tinham rede móvel e internet fixa, e juntaram a TV aos pacotes para um 3P que concorre com a Digi. Mas todas alinharam pela mesma bitola.

Logo no lançamento do serviço a Digi admitiu que na oferta de canais de TV estava a ter dificuldade em negociar com alguns operadores. As maiores falhas estão na ausência dos canais da SIC da Impresa e na CMTV e News Now da Medialivre, mas também nos canais desportivos. A Digi inclui 60 canais e a lista pode ser consultada no site da empresa.

A Amigo tem também 60 canais com a mesma falta da SIC e dos canais da Medialivre, o mesmo acontecendo com a Woo, enquanto a Uzo sobe a bitola para 70 canais.

Veja aqui a lista dos canais incluídos, que pode verificar também nos sites das operadoras.

6 – Gravações automáticas e box com funcionalidades interativas

Quem já usou os serviços da MEO, NOS e Vodafone sabe como é importante a qualidade da experiência de navegação no software da box de TV e a possibilidade de ver sugestões, andar para trás num determinado programa com as gravações automáticas ou planear gravações manuais. A integração com as OTT (over the top na sigla em inglês) como a Netflix, Disney, Prime ou HBO, é também cada vez mais relevante para quem procura a melhor experiência de acesso a conteúdos de TV sem ter de estar a “saltar” entre vários menus para ver as séries, filmes ou programas que lhe interessam.

No caso da Amigo, Uzo e Woo  as operadoras referem uma box Android TV e é natural que a experiência acabe por ser semelhante à da “operadora mãe”, embora não tenhamos testado nenhum dos casos. Mas a Digi já confirmou que numa primeira fase, que será de curta duração, a Box que está a incluir no serviço tem ainda opções limitadas.

7 – Apoio ao cliente

Estas operadoras apostam nos canais de comunicação digitais, o que é considerado mais adequado a um público jovem, que não se interessa tanto por falar ao telefone com um call center. Para já nos testes que fizemos a Digi tem mostrado alguma dificuldade em dar resposta, o que provavelmente também se deve ao facto de estar a entrar no mercado e ao interesse que te gerado.

Esperamos que este explicador seja útil para quem está a considerar mudar para os operadores low cost e sugerimos que nos envie um email ou deixe um comentário se houver alguma questão que gostava de ver adicionada.