O atraso no desenvolvimento do 5G, com a falta de casos de implementação e interesse das empresas, foi hoje admitido por Mário Vaz, CEO da Vodafone Portugal, num encontro com jornalistas a propósito dos aniversário dos 30 anos da empresa em Portugal onde também se falou do negócio da Nowo e dos prováveis aumentos de preços das telecomunicações em 2023.

"O 5G está atrasado em todo o lado mas em Portugal está mais atrasado porque vive da experimentação. Os países que começaram mais cedo estão mais avançados, têm mais pilotos a decorrer e já há mais empresas por essa Europa fora a tirar partido do 5G", admitiu o presidente executivo da empresa aos jornalistas, lembrando que a demora no leilão teve impacto e que o ecossistema demora tempo a ser construído.

As queixas sobre o atraso no desenvolvimento das redes de quinta geração móvel têm sido frequentes por parte dos operadores, especialmente depois do longo processo do leilão, que arrancou mais tarde do que estava planeado e que se arrastou durante mais de 9 meses. As licenças acabaram por ser entregues às operadoras vencedoras do concurso só no final de 2021, mas a adesão também tem sido lenta por parte das empresas e os consumidores estão ainda a beneficiar de um "período experimental", sem qualquer cobrança adicional nos seus tarifários.

Em resposta ao SAPO TEK, Mário Vaz lembrou que foi a Vodafone a primeira empresa a avançar com a proposta de um período experimental para os clientes, em janeiro de 2022. O que acontece é que este período de uso gratuito da rede foi sendo sucessivamente adiado e que agora já se estende a  15 de novembro, mas não se compromete com o que vai acontecer a seguir.

"O 5G nesta fase o que permite é mais velocidade, mas se tiver um hardware mais ou menos atual, as aplicações móveis já foram desenhadas para tirar partido na velocidade da redes, muitos utilizadores não sentem grande diferença no tempo de resposta. Não é muito evidente. A velocidade está lá e acrescenta capacidade de rede, toda a gente em média fica melhor", explica, defendendo porém que "o que não há ainda é use cases específicos para tirar partido do 5G, nem aqui nem noutros países".

Mário Vaz admite que é nas empresas que os benefícios sem sentem mais claramente mas que "ainda vivemos em ambiente de testes", apontando alguns casos como o do Porto de Aveiro e a Symington. "Existe um reduzido número de use cases em Portugal e no mundo", reconhece o CEO da Vodafone Portugal, admitindo que o próprio momento macroeconómico não é favorável a estes investimentos e que as empresas têm outras preocupações, sendo diferente daquele em que se arrancou com as licenças, no final de 2021.

Adiamento das metas de cobertura em cima da mesa

Mário Vaz diz que não pediu ao Governo para adiar as metas de cobertura. "Não pedi nada, alertei, porque acho que devemos ser racionais e preparar essas coisas", explica, dizendo que hoje as condições são completamente diferentes. Já havia a questão dos chipsets e do impacto, mas com o final da COVID-19 e a Guerra na Ucrânia a situação ainda piorou. "Eu hoje tenho de fazer encomendas que só vou receber no espaço de um ano", explica, "não podemos olhar para as metas apenas por serem metas", defende.

"Temos de ser racionais, lógicos, não é dizer que não vamos fazer, mas pensar se é o melhor para todos",  afirma Mário Vaz relativamente às metas de cobertura do 5G.

O alerta foi feito ao regulador e depois no Parlamento, ainda sem resposta, e o presidente executivo da Vodafone Portugal diz que nunca pôs em causa que não vai cumprir o que está definido. Por isso assume que é provável que devido às condições macroeconómicas os operadores tenham de ser ouvidos e sentar-se com o regulador, mas não se compromete com uma ideia de adiamento em um ano ou dois anos.

"Não vou, a esta data, estar a dizer que as metas deviam avançar um ano ou dois anos, o que acho é que temos de nos sentar com o Governo em 2023 e em 2024 para ver como a situação vai evoluir", explica, adiantando que "espero bom senso nestas matérias".

Em resposta à insistência dos jornalistas, Mário Vaz explica que a hipótese é definir "um plano para o mais rapidamente possível dizermos que há aqui metas que são absolutamente determinantes e essenciais, outras em que pode haver mais flexibilidade, mas o alerta tinha de ser feito". A linha vermelha será quando a realidade mostrar a inevitabilidade de não cumprir as metas.

Mesmo assim Mário Vaz garante que "não é do meu interesse qualquer atraso [no 5G]. O que tenho de prever e desenhar é o plano de modernização, que estou a conseguir cumprir. Não estou a ver que as primeiras datas estejam em causa, mas pode derrapar. Tenho assistido a incógnitas e grandes alterações no mercado".

Quanto à racionalidade económica de continuar a investir na rede, numa fase em que os clientes ainda estão em modo de experimentação, e em que as empresas não estão a aderir, Mário Vaz explica que "o económico per si nunca justificou as metas de cobertura, e sempre achámos que as exigências das metas em Portugal, com investimento próprio, não teve racional económico. [...] Agora há razões, económicas também, de investimento no 5G que estão associadas à modernização da rede", defende.

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