
Por António Conde Valente (*)
Quando o 5G foi anunciado, entre 2018 e 2020, a expectativa era a de uma revolução tecnológica sem precedentes. Velocidades ultrarrápidas, latências quase nulas e a capacidade de ligar milhões de dispositivos simultaneamente prometiam transformar não só a forma como usávamos os nossos telemóveis, mas também setores inteiros da economia. No entanto, em 2025, a pergunta impõe-se: estamos realmente a viver essa revolução?
A resposta é mais complexa do que um simples “sim” ou “não”. O 5G, embora tecnicamente disponível em muitos países – incluindo Portugal, onde a cobertura atinge mais de 98% da população – ainda não cumpriu plenamente as suas promessas, sobretudo no que diz respeito ao retorno financeiro para os operadores de telecomunicações.
Embora o 5G tenha sido apresentado como um salto qualitativo em relação ao 4G, a realidade é que, para muitos utilizadores, a diferença é impercetível. Atualmente a maioria das redes ainda opera em modo “5G Non Standalone”, ou seja, dependente da infraestrutura 4G e a verdadeira experiência 5G – com todas as suas capacidades – só será possível com a implementação total do “5G Standalone”, algo que ainda está longe de ser a norma.
Além disso, os investimentos exigidos para esta transição são colossais. Desde a aquisição de espectro em leilões onerosos até à instalação de novas infraestruturas, os custos têm sido um fardo pesado para os operadores. Para agravar, os consumidores não estão dispostos a pagar mais por um serviço cuja melhoria não é evidente no seu dia a dia.
Outro ponto crucial é a monetização do 5G, que tem sido um desafio. Mesmo em ambientes empresariais, onde se esperava uma adoção mais rápida de soluções como as redes privadas 5G, os resultados têm ficado aquém do esperado. Muitas destas implementações ainda estão em fase de prova de conceito, e os ganhos têm beneficiado mais os fornecedores de equipamentos e integradores do que os próprios operadores. Além disso, tecnologias alternativas como o Wi-Fi, ou mesmo as redes privadas 4G, continuam a ser suficientes para muitas aplicações empresariais, o que reduz ainda mais o apelo imediato do 5G.
Apesar do cenário atual do 5G não ser tão animador como se esperava, há motivos para ter esperança e está a surgir uma nova forma de monetização do 5G para os operadores de telecomunicações. A ideia é a de permitir o acesso aos serviços, dados e recursos da rede 5G de forma flexível e personalizada, conforme as necessidades de cada utilizador ou empresa, ou seja, tornar numa realidade o Network As A Service (NaaS). Para isso, várias empresas — desde fornecedores de equipamentos, hiperescaladores, marketplaces ou até quem desenvolve aplicações — estão a trabalhar em conjunto para definir integrações simples, padronizadas (comummente chamadas como APIs), que permitam oferecer serviços de rede de forma flexível, automatizada e baseadas na procura.
Na minha opinião este modelo tem várias vantagens. Por um lado, permite adaptar a qualidade do serviço às necessidades específicas de cada aplicação – algo essencial, por exemplo, em contextos como veículos autónomos ou eventos ao vivo com múltiplas câmaras. Por outro, abre novas oportunidades de negócio, ao permitir que os operadores ofereçam serviços diretamente ou através de marketplaces digitais, com uma distribuição global.
Mais importante ainda, este modelo promove uma partilha mais justa dos ganhos entre todos os atores do ecossistema.
O 5G ainda não cumpriu tudo o que prometeu, é verdade, mas não está condenado ao fracasso. A chave para o seu sucesso reside na capacidade dos operadores de se adaptarem, colaborarem e inovarem. A ‘APIficação’ e o NaaS representam uma oportunidade real de transformar o 5G numa plataforma de serviços flexível, escalável e rentável.
No entanto, o futuro não está garantido. Será necessário manter o foco, a resiliência e o espírito de colaboração. Só assim será possível transformar a promessa do 5G numa realidade tangível – não apenas em termos tecnológicos, mas também económicos e sociais.
(*) Project Manager na área de Telecom e Media na Minsait em Portugal (Indra Group)
Pergunta do Dia
Em destaque
-
Multimédia
FC 26 chega a 26 de setembro prometendo maior fluidez nos dribles e um modo carreira moldado pelo mundo real -
App do dia
Memory Stamps desafia a sua memória com quebra-cabeças num ambiente relaxante -
Site do dia
Este browser quer desafiar o domínio do Chrome. Chama-se Dia e pode substituir o Arc -
How to TEK
Não gosta das aplicações predefinidas do Android? Veja como trocar
Comentários