Os sinais dos primeiros meses do ano e as perspectivas para os próximos estão a fazer soar alguns alarmes e os receios de que uma nova “crise das dot.com”, precedida pela famosa bolha da internet no início do milénio, continuam a pairar.
Os dois anos de pandemia mudaram profundamente o mercado, o consumo de serviços digitais e as lógicas das cadeias de valor. Empresas faliram, muitas deixaram de vender por não conseguirem ter acesso a matérias-primas ou componentes indispensáveis para os seus produtos, como os fabricantes automóvel. Outras cresceram quase desmesuradamente, tirando partido dos novos hábitos de consumo que os confinamentos impuseram.
Com a vida a voltar ao normal possível, não é de estranhar que o mercado tenha de fazer os seus ajustes, mas os receios de que os sinais atuais apontem para mais do que isso levam em consideração um mix de fatores, que podem indicar que esta fase de reajuste se prolongue mais do que o desejado, com impactos significativos na capacidade de investimento nos mercados de capitais e nos níveis de emprego que as empresas tecnológicas conseguem assegurar.
O principal índice tecnológico, o Nasdaq, acumula perdas de quase 30% desde o início do ano. O Bitcoin abriu o dia, esta sexta-feira, a valer 27,2 mil dólares. Fechou o ano a valer cerca de 50 mil dólares e meses antes tinha valido quase 69 mil dólares.
O preço das ações de empresas como a Netflix, Shopify ou Amazon têm estado em queda. As ações da Amazon no início do ano chegaram a valer cerca de 3,500 dólares, estão neste momento a valer cerca de 2.100 dólares. A Netflix começou o ano logo a falhar as previsões de resultados de 2021 e com estimativas pouco ambiciosas para 2022, que também têm sido pagas com a queda no preço das ações. A meados de novembro do ano passado, uma ação da empresa valia mais de 600 dólares, agora vale pouco mais de 150 dólares. Em janeiro, uma análise da Statista à evolução dos índices tecnológicos encontrava já alguns sinais de alerta relacionados com a dimensão destas variações.
Como também sublinha uma análise do site Protocol, startups populares nos Estados Unidos como a Cameo ou a Mural anunciaram na semana passada que vão começar a despedir - a primeira gere um serviço de partilha de vídeos, a segunda uma plataforma de colaboração para equipas remotas.
Estão igualmente a ser encarados como indicadores de incerteza quanto ao futuro próximo, o abrandamento de investimentos de empresas como a Meta ou a Uber e, como admitiu ao Protocol David Sacks, co-fundador da Craft Ventures, “o sentimento dos investidores em Silicon Valley é o mais negativo desde o crash das dot.com”.
A perspetiva de que a inflação continue a subir é um dos grandes sinais amarelos do momento. Nos Estados Unidos, mercado de referência para o sector tecnológico, a taxa de inflação atual ronda os 8,5%, a mais alta dos últimos quarenta anos. Na zona euro atingiu os 7,5%, muito acima dos 2% que os bancos centrais se esforçam por manter esta taxa de referência.
Há medidas em marcha para baixar a inflação e manter a economia a funcionar, mas acredita-se que pode levar tempo e quando o dinheiro está mais caro a disposição para investir diminui e a tentação de reduzir a exposição ao risco de uma desvalorização ainda maior é grande. Isso reflete-se no mercado de capitais e, claro, nas estrelas das bolsas, que nos últimos anos passaram a ser as empresas de tecnologia e pode conduzir a uma consequentemente correção no preço das ações das empresas, na capacidade de se financiar para continuar a crescer e a acelerar novos projetos.
Dados compilados pela PitchBook, e partilhados pela Protocol, revelam já uma redução no investimento de capital de risco nos Estados Unidos desde o início do ano. Nos primeiros três meses de 2022, os VC investiram 70,7 mil milhões de dólares em empresas sediadas no país, menos 35% que no ano passado. São dados que ainda não permitem tirar grandes conclusões, porque 2021 foi um ano atípico e este tipo de investimentos tem normalmente um horizonte temporal alargado, mas pode ser mais um sinal de que o mercado está a arrefecer e que se atingiu um hype que não tem condições para ser mantido.
Além da inflação e do aparente maior cuidado dos investidores na escolha e análise da valorização dos seus ativos, continua a guerra na Ucrânia, que tem um peso importante no fornecimento mundial de componentes críticos para o fabrico de semicondutores, podendo contribuir para arrastar a crise dos chips para além do que se esperava.
Ao mesmo tempo, assiste-se a uma nova ascensão da covid-19 em países asiáticos como a China, que vai provavelmente obrigar a novas paragens de fábricas que trabalham com empresas em todo o mundo. Recorde-se que estas paragens, a par do crescimento anormal na procura de alguns produtos eletrónicos, foi um dos elementos a contribuir para alterar o ritmo normal de produção de componentes eletrónicos e a provocar um efeito em cadeia por várias indústrias.
Os dados estão lançados, o tempo mostrará se o momento atual é apenas de correção, ou está de facto a mostrar que o patamar de valorização e os ritmos de crescimento das empresas de tecnologia simplesmente não é sustentável e a descida “à Terra” provocará um efeito dominó em toda a economia.
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