As últimas semanas foram de altos e baixos na bolsa e de alguma turbulência nos mercados financeiros, que também têm afetado as empresas de tecnologia. Há mesmo quem já fale numa nova bolha das dot.com, semelhante à de 2001, com potencial para explodir nos próximos meses. O que nos aproxima e afasta do cenário do início do milénio e porque estão as ações das tecnológicas a tremer mais que o habitual neste início de ano?
O mês ainda não acabou, mas as contas que se podem já fazer deixam pouca margem para dúvidas: 2022 não começou bem para as empresas cotadas. Desde o início de janeiro e até ao principio desta semana, a cotação das 500 empresas que compõem o índice S&P – criado pela Standard & Poor a partir de ativos de referência da praça de Nova Iorque - caiu 10%, face ao seu valor mais alto do mesmo mês.
A Statista lembra que uma variação com esta magnitude só aconteceu 10 vezes nos últimos 20 anos e a última verificou-se em março de 2020. Já era tempo de pandemia e marcava os primeiros sinais de que algumas mudanças no histórico de supervalorização de algumas empresas podia estar para mudar. Depois disso, no entanto, muita tinta já correu. A Tesla, por exemplo, continuou a conseguir escalar o preço das suas ações e acabou por assumir uma valorização acima do bilião de dólares no último trimestre do ano passado (um patamar onde neste momento não está).
Outras contas, mostram que na última semana o índice Nasdaq 100, em cada uma das sessões perdeu mais de 1%, algo que não acontecia desde a crise das dot.com no arranque do milénio, segundo o The Economic Times. Desde o início de janeiro, e até ao início da semana, o índice perdeu 12% do seu valor.
Uma das curiosidades apontadas a este último tombo no mercado de capitais é o facto dos gigantes da tecnologia, que são também algumas das empresas que mais têm ganho e crescido nos últimos anos através do mercado de capitais, estarem entre as que estão a revelar maior dificuldade em corrigir a sua valorização. Em causa estão as chamadas GAFAM -Google; Apple; Facebook; Amazon; e Microsoft, que em rigor já não podem ser referidas com este acrónimo. Recorde-se que duas delas passaram a estar integradas em empresas-mãe entretanto criadas, para permitir uma melhor segmentação de negócios que se foram expandindo, para além das áreas por onde começaram. Ajustes feitos, a dona da Google cotada em bolsa é a Alphabet. A casa-mãe com ações transacionáveis é a Meta e a designação correta para os cinco gigantes com o poder de animar ou deprimir o mercado de capitais é agora AMAMA.
Inflação, incerteza e regulação põem investidores em alerta
Os números mostram então que as AMAMA viram a sua valorização recuar mais de 10%, na comparação com a melhor performance dos últimos três meses. No caso da Amazon o tombo foi ainda maior. A empresa vale hoje menos 20%, face ao melhor preço dos últimos meses, que se verificou em novembro passado, como se pode ver no gráfico da Statista. Uma análise do Yahoo Finance acrescenta a estes dados que, só este ano, a Amazon perdeu 16% do seu valor, a Microsoft 12% e a Alphabet 10%.
A contribuir para esta variação de valor fora do comum estão alguns eventos também eles pouco habituais, sublinham os analistas, como a escassez de chips, pressão e escrutínio regulatório cada vez maiores – que o diga a Meta, que se viu a braços com o escândalo dos Facebook Papers. Juntam-se incerteza, subida das taxas de juro (que impacta os empréstimos contraídos em grande volume por empresas que precisam de se financiar para ter um crescimento rápido) e a inflação, no mundo em geral e nos Estados Unidos em particular.
Várias análises sublinham que a supervalorização das AMAMA nos últimos anos, e de outras empresas tecnológicas de referência, foi largamente beneficiada pela política monetárias dos Estados Unidos e tem alimentado a valorização do próprio Tesouro. A alteração desta política monetária – que tem assentado em incentivos às empresas e inflação baixa – tem impacto na forma como os investidores olham para as empresas de tecnologia. Na dúvida sobre o impacto destas mudanças a prazo, muitos terão optado nas ultimas semanas por investimento mais conservadores, o que levou a uma venda acima do normal de ações das tecnológicas (sell-off). Mas não só.
“Na minha opinião, é tudo uma questão de liquidez. Desde o final do ano, com a inflação a crescer, o dinheiro começou a ficar mais caro. As economias começaram a abrir e os bancos começaram a ficar mais preocupados com a inflação”, refere George Lucas, CEO da plataforma de investimento Raiz ao Yahoo Finance. Essas mudanças, acrescenta, “estão a ser agora absorvidas pelo mercado de capitais e contribuíram para o recente sell-off de ações tecnológicas”.
A expectativa é de que a perda de valor das ações das tecnológicas continue a verificar-se, com algum impacto no resto do mercado, ou não representassem só as AMAMA quase um quinto (18%) do valor do índice S&P 500, segundo a Seeking Alpha. Mas a interpretação de que pode estar a caminho uma nova crise das dot.com é muito pouco consensual.
Quem acredita encontra semelhanças no momento atual e passado em aspetos como a sobrevalorização de muitas empresas. Quem acha a previsão alarmista nota que, voltando às AMAMA, o valor que criaram não nasceu de um dia para outro. Foi construído ao longo de mais de uma década, em alguns casos mais, e sustenta-se em resultados concretos, que têm vindo a remunerar os acionistas.
Para além disso, são compostas por ativos que já demonstraram capacidade de gerar valor, num mundo que depende cada vez mais da tecnologia, pelo que o seu potencial de crescimento continua protegido. Alguns resultados do quarto trimestre, sublinha a MarketWatch, já começaram a ser divulgados, como os da Microsoft, e outros serão conhecidos nas próximas semanas dando à maior parte das grandes empresas razões para celebrar e bons indicadores para 2022.
Alargando a análise a um universo mais vasto de empresas tecnológicas, admite-se ainda assim que nem todas as companhias consigam a mesma proeza e demonstrem boa resistência aos solavancos do mercado de capitais.
“Parece-se que as valorizações estão muito elevadas e acredito que algumas empresas vão acabar por cair […] outras vão sair-se muito bem”, defende Brendan Connaughton, fundador e diretor da Catalyst Private Wealth em declarações à MarketWatch.
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