Um novo relatório das Nações Unidas recomenda a criação de um fundo global, financiado por governos e empresas, para ajudar os países mais pobres a tirarem também partido dos desenvolvimentos da inteligência artificial e para suprimir falhas, em termos de conhecimento ou capacidade.
Este fundo seria aplicado ao desenvolvimento de modelos, ao financiamento de capacidade computação ou a programas de formação. Os financiadores seriam os países ocidentais, onde os desenvolvimentos em torno da IA seguem mais avançados. Os beneficiários seriam os países do hemisfério sul, onde esse desenvolvimento está mais atrasado.
“Se não abordarmos agora a questão com um fundo global para a IA, arriscamo-nos a seguir o mesmo caminho que seguimos com as alterações climáticas, em que os países desenvolvidos são capazes de resolver o problema e de correr à frente, enquanto todo o hemisfério Sul é deixado para trás, sem capacidade para agir ”, sublinhou ao The Guardian Dame Wendy Hall, uma das especialistas do grupo de alto nível que produziu o relatório.
Com o mesmo objetivo, o relatório recomenda que seja feito um esforço internacional para criar e manter abertos e acessíveis datasets e modelos de IA que possam contribuir para alcançar as metas de desenvolvimento sustentável da ONU.
Defende-se que deve também ser criado um painel científico internacional, que anualmente produzirá um relatório de acompanhamento sobre o estado da IA a nível global, abordando temas como oportunidades, capacidades, riscos e incertezas.
O documento alerta para os riscos de um desenvolvimento assimétrico e elitista da IA e apela ao poder da ONU para reescrever a história. “Colocar a governação [da IA] nas mãos de alguns promotores, ou de países que os acolhem, vai criar uma situação profundamente injusta”, sublinha o documento, lembrando que a ONU está em posição de promover o diálogo entre governos para criar uma base de entendimento sobre as políticas e governação da tecnologia. Apelar à criação de uma carta de normas de IA que estabeleça regulamentação multilateral é mais uma das propostas.
António Guterres explica principais conclusões do relatório
Recorde-se que os maiores desenvolvimentos de IA estão hoje concentrados em meia-dúzia de empresas americanas e que a regulação da tecnologia ainda está a dar os primeiros passos. A Europa segue mais avançada, no modelo, falta a implementação. Está também na fase inicial de implementação o primeiro grande tratado internacional sobre o tema, promovido pelo Conselho da Europa e por um grupo de outros países, que junta cerca de 60 nações e aprovou normas vinculativas.
“A inteligência artificial deve poder desenvolver-se para o bem da humanidade. Sem governação pode evoluir de formas que seriam prejudiciais para a sociedade”, refere a também professora da Universidade de Southampton que integrou o grupo de especialistas do relatório. “No mínimo, esperamos que este relatório estimule conversas e debates significativos sobre a governação global” da IA, acrescenta num texto publicado na página da Universidade.
O documento foi produzido por um painel de mais de 30 especialistas que identificou as necessidades consideradas mais urgentes para promover um desenvolvimento justo, positivo e equilibrado da IA. As conclusões vão ser discutidas numa conferência das Nações Unidas, ainda durante o mês de setembro.
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