A operação “Desarme 3D” culminou na detenção de seis pessoas que a PJ diz serem "fortemente indiciadas pela prática dos crimes de infrações relacionadas com grupo e atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida", refere em comunicado. Um dos seis elementos detidos pertencia à PSP enquanto outros tinham ligações a grupos de segurança privados

Os suspeitos foram identificados através das suas atividades online, com "indicadores de manifestações extremistas por parte de apologistas de ideologias nacionalistas e de extrema direita radical e violenta, seguidores de um ideário antissistema e conspirativo, que incentivava à discriminação, ao ódio e à violência contra imigrantes e refugiados".

"Não deixou de ser surpreendente a qualidade e a diversidade daquilo que apreendemos", afirmou Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional de Contra-Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, em conferência de imprensa de balanço da operação "Desarme 3D", que levou à detenção de seis pessoas do Movimento Armilar Lusitano (MAL).

"Foi surpreendente" encontrar no grupo esta "capacidade de fazer algo com alguma projeção, com os meios de que dispunham", acrescentou a dirigente da PJ.

A investigação foi desenvolvida pela Unidade Nacional Contra Terrorismo que desencadeou uma operação para cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão (domiciliárias e não domiciliárias), emitidos pela autoridade judiciária competente.

Segundo a informação partilhada, "os detidos são suspeitos de integrar o denominado Movimento Armilar Lusitano (MAL), o qual pretendia constituir-se como um movimento político, apoiado numa milícia armada, e encontram-se indiciados pela prática de factos enquadráveis nos crimes de infrações terroristas, alteração violenta do Estado de direito e de detenção de armas proibidas".

Na sequência das buscas, foram feitas detenções em flagrante delito e a PJ conseguiu apreender "material explosivo de vários tipos, várias armas de fogo, algumas das quais produzidas através de tecnologia 3D, várias impressoras 3D, várias dezenas de munições, várias armas brancas, material informático, entre outros elementos de prova", refere o comunicado.

Na conferência de apresentação da operação, Manuela Santos afirmou que o grupo "estavam a armar-se, a recrutar pessoas e a desenvolver ações", adiantando ainda que o material apreendido "tem uma origem e está tudo em aberto nesse aspecto", com "novas linhas de investigação". A responsável não descartou haver "elementos de forças de segurança e forças militares" envolvidos no grupo.

Um dos seis detidos era um elemento da PSP, existindo outros tinham ligações a grupos de segurança privados. O grupo mais alargado inclui elementos que "pertenciam a antigas estruturas de extrema-direita que deixaram de existir", como a Nova Ordem Social, fundada pelo neonazi Mário Machado. As buscas realizaram-se na Grande Lisboa, as autoridades acompanharam encontros presenciais, numa investigação que teve início em 2021.

Num vídeo distribuído pela PJ estavam livros neonazis, propaganda e impressoras 3D que serviam para fazer armas ou adulterar armas de 'airsoft' de modo a que disparassem munições letais. "O enquadramento legal deste material é abrangido pela lei das armas", explicou Manuela Santos.

"Não é fácil [investigar], porque é um meio difícil de penetrar. Este tipo de indivíduos está muito alerta" para a ação das autoridades, referiu Manuela Santos. Quanto à classificação do grupo, Manuela Santos considerou que o MAL está enquadrado "na lei de combate ao terrorismo" e na "alteração violenta do estado de Direito".

"Não havia para já um plano concreto" para "desencadear uma ação criminosa", explicou a coordenadora da UNCT, mas salientou que o objetivo era "atentar contra as instituições", na linha do que fazem, no plano internacional, outros grupos do género.

A dirigente da PJ recordou a mega-operação das autoridades alemãs que em 2022 desmantelou um grupo que tentava realizar um golpe de Estado. "São pessoas de muitas proveniências", unidas pela "discriminação em função da identidade de género, da raça, do credo".

A pandemia acentuou a atividade do MAL, como noutros "grupos antissistema" referenciados, admitiu Manuela Santas, salientando que "tudo acaba por ser um argumento para contrariar o sistema vigente".

Os detidos vão ser hoje presentes a Tribunal para primeiro interrogatório judicial de arguido detido e consequente sujeição às medidas de coação entendidas como adequadas.

Nota da Redação: A notícia foi atualizada com mais informação depois da conferência da Polícia Judiciária sobre a operação “Desarme 3D”

(com Lusa)