A Google encontra-se envolvida num megaprocesso nos Estados Unidos pela sua alegada posição monopolista no mercado das pesquisas online. Ainda não se sabem os contornos e resultados do caso, mas a Google embora esteja pressionada a ser “desmantelada”, correndo o risco de ser obrigada a vender o browser Chrome (considerado um instrumento de peso para favorecer ainda mais a posição da empresa no mercado de pesquisa) ou mesmo o Android, promete recorrer de todas as decisões. 

Está a ser notícia que a startup Perplexity está em posição de comprar o browser Chrome, tendo feito uma oferta formal de 34,5 mil milhões de dólares pela tecnologia, avança a Bloomberg. A startup terá a ajuda de investidores externos para reunir a verba avançada para a oferta apresentada esta terça-feira à Alphabet, a casa-mãe da Google, disse um porta-voz da startup à agência. 

De recordar que a Perplexity não está sozinha na corrida à compra do Chrome, caso a Google seja obrigada a vendê-la. A OpenAI assumiu no julgamento da Google que terá interesse em comprar o Chrome se ele for posto à venda. Nick Turley, diretor de produto do ChatGPT, da OpenAI, que foi ouvido pelo juiz durante o julgamento, admitia que poderiam surgir vários pretendentes. Antecipou ainda que, caso a sua empresa comprasse o Chrome, seria possível “oferecer uma experiência realmente incrível” e proporcionar aos utilizadores uma experiência verdadeiramente “AI First”, ou seja, moldada a partir do poder da sua inteligência artificial.

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A Google acredita que pode apresentar diferentes remédios que passem pela não venda do Chrome, tendo proposto outras soluções. Por exemplo, poderá modificar os acordos milionários que tem com a Apple, assim como a Mozilla e Android para mudar a Pesquisa por defeito. Desta forma, a Google abre mão do mercado da Pesquisa para a concorrência. De recordar que só a Apple paga 20 mil milhões de dólares por ano da Alphabet para que a Pesquisa da Google se mantenha como a opção por defeito nos seus equipamentos. E pode optar por desenvolver o seu próprio motor de pesquisa, mediante o desenrolar deste caso.

A oferta da Perplexity pelo Chrome terá como objetivo expandir os seus planos para a criação de um browser de internet totalmente alimentado por IA. A startup já tinha revelado que ia lançar um browser, batizado de Comet, lançado em abril e que já pode ser utilizado. O certo é que a compra do Chrome, para uma empresa que foi avaliada em 18 mil milhões de dólares na última ronda de investimento, está longe de ter capacidade monetária para adquirir o browser. A Perplexity não avançou com nomes, mas diz que tem grandes investidores a bordo do negócio.

Ainda no que diz respeito à oferta pelo Chrome, a startup comprometeu-se a manter o código-fonte aberto, além de investir 3 mil milhões de dólares para o desenvolvimento do browser ao longo de dois anos. Além disso, propõe-se em manter a Pesquisa Google como o seu motor por defeito. 

Numa análise a esta proposta, a XTB refere que a oferta parece pouco realista, considerando a valorização no mercado da startup, como mencionado, esta poderá ser uma operação de marketing para ganhar notoriedade e promover o seu próprio browser Comet. “O movimento também reforça a narrativa regulatória de que a Google detém poder excessivo no mercado e que uma eventual cisão do Chrome poderia aumentar a concorrência”, lê-se no comunicado. 

Mesmo não tendo capacidade ou real intenção de comprar o Chrome, esta abordagem ajuda a aumentar a pressão do regulador na Google, colocando a Perplexity no centro do debate público sobre o futuro dos browsers e pesquisas online. 

A XTB apresenta ainda diferentes cenários caso os reguladores continuem a pressionar a Alphabet e se intensifique a possibilidade de venda do Chrome. O primeiro cenário é a Google conseguir defender-se e evitar que qualquer decisão obrigue a empresa a vender o Chrome. “Isso exigiria uma combinação de recursos legais prolongados, lobby junto a reguladores e eventuais compromissos voluntários para mitigar preocupações antitrust”.

O segundo cenário é a venda parcial ou criação de um spinoff controlado. Isso significaria que o tribunal obrigou a separação entre a Google e o Chrome. A Google poderia criar uma spinoff de uma subsidiária independente, mas com vínculos contratuais com a Google, para que os seus serviços permanecessem preferenciais.  Esta medida poderia reduzir o risco de se perder a totalidade dos dados e a integração, embora os concorrentes passassem a utilizar as ferramentas para influenciar a experiência do utilizador. A XTB prevê com este cenário, uma perda de 5 a 10% da receita potencial. 

O terceiro cenário é mais drástico e vê a venda total imposta pelo tribunal. A Alphabet teria de vender o Chrome a um concorrente ou fundo de investimento, perdendo este canal crítico de acesso a dados e utilizadores. Poderia ter grande impacto nas receitas publicitárias, uma vez que boa parte do tráfego para o Google Search começa no Chrome.