A Bitcoin atingiu e ultrapassou a marca dos 100 mil dólares. Ao final da manhã de quinta-feira fixava-se nos 102,3 mil dólares (97 mil euros), depois de já ter estado acima dos 103 mil dólares. A valorização da principal moeda digital alcançou assim um valor histórico, num ano em que a tendência já vinha sendo de valorização, acelerada depois da vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos. Desde o início do ano, a moeda já duplicou de valor e depois da noite eleitoral nos Estados Unidos valorizou 50%.
A indústria dos ativos digitais foi a que mais financiou a candidatura de Trump à Casa Branca, segundo dados divulgados antes das eleições.Durante a campanha, o candidato foi deixando clara a intenção de mudar a política americana nesta área e criar condições para acelerar o desenvolvimento do mercado. No seu estilo habitual, Trump chegou a anunciar que vai fazer dos Estados Unidos a “maior capital cripto do planeta e a superpotência bitcoin no mundo”. A promessa tem animado o mercado local e também é vista com expectativa no resto do mundo.
Com uma nova política regulatória para o sector nos Estados Unidos, “a Europa e o resto do mundo voltarão a sentir a competição aguerrida por parte das empresas da indústria sediadas nos EUA”, acredita Hugo Volz Oliveira, Membro fundador e secretário do Instituto New Economy.
“Devido ao ataque regulatório que a administração Biden realizou nos últimos quatro anos a este sector, vários players importantes diminuíram o investimento local, ou deslocaram até as suas operações para outras jurisdições”. Como também explica o responsável, isso abriu espaço para que centros emergentes de blockchain e criptoativos na Europa e Ásia pudessem afirmar-se à escala global.
A “janela de oportunidade está a fechar-se rapidamente devido à capacidade institucional norte-americana para atrair talento e capital” e a Europa corre o risco de não aproveitar a oportunidade como podia, porque “Paris e França estão a perder o comboio e Berlim já não é o que era”, acrescenta Hugo Oliveira.
Na mesma perspetiva, Portugal mantém a possibilidade de “consolidar a posição líder que, de forma casual e pouco planeada, viemos a ser reconhecidos por ter alcançado nos últimos anos”. Mas para que isso aconteça é preciso “agir rapidamente e o governo continua sem prestar grande atenção aos vários pedidos concertados que a nossa indústria tem realizado para ser auscultada nesse sentido”, alerta.
Marca dos 100 mil dólares é mais do que um número
Vários especialistas sublinham que este novo marco de valorização alcançado pela Bitcoin é muito mais do que isso. Como defendeu à Reuters Mike Novogratz, CEO da Galaxy Digital, uma empresa do sector, “a Bitcoin e todo o ecossistema de ativos digitais estão prestes a entrar no fluxo do mercado financeiro, numa dinâmica alimentada pela adoção institucional, pelos avanços na tokenização e nos pagamentos e por um caminho regulamentar mais claro.”
Paralelamente, no início do ano foram aprovados para negociação em bolsa nos Estados Unidos fundos com bitcoins, aumentando a escala de compras deste tipo de ativos, que já vinham sendo cada vez mais uma aposta de grandes investidores. Desde a eleição de Trump foram investidos em fundos com moedas digitais mais de 4 mil milhões de dólares, segundo a agência noticiosa.
Para este novo impulso no valor da Bitcoin e ascensão ao patamar dos 100 mil dólares contribuiu também o anúncio, na quarta-feira, de que Paul Atkins vai liderar a SEC, o regulador do mercado de capitais nos Estados Unidos. O gestor tem um forte conhecimento do mercado cripto. Já esteve ligado a organismos responsáveis pelo desenvolvimento de boas práticas para plataformas de negociação de ativos digitais, como a Token Alliance, e é visto como alguém capaz de pôr no terreno uma nova visão para a regulação deste tipo de ativos, mais flexível que a preconizada pela Administração Biden.
A Bitcoin existe há 16 anos. Há 10 anos valia pouco mais de 300 dólares. O valor foi escalando entre altos e baixos, quase sempre ligados à volatilidade de um mercado altamente especulativo, que tem vindo a ganhar consistência com o desenvolvimento do ecossistema blockchain onde se insere.
Bitcoins podem chegar mais depressa que o previsto ao limite?
Ao contrário das moedas cunhadas por bancos centrais, a Bitcoin é finita, um dos elementos-chave para a segurança deste tipo de ativos. A emissão de Bitcoins esgota-se quando tiverem sido emitidas 21 milhões de moedas digitais, um roadmap que não deve ser afetado pelo nível de interesse no ativo.
Como explica Hugo Volz Oliveira, o impacto do valor da moeda na mineração de bitcoins será sempre indireto, embora positivo. “As regras do protocolo da Bitcoin não são afetadas diretamente pelo preço, já que foram definidas de forma independente”.
O ritmo de mineração é ajustado a cada duas semanas para que, em média, um bloco demore cerca de 10 minutos a ser minerado. Assim, a data prevista para chegar ao limite definido das 21 milhões de moedas continua estimada para 2140. “O valor da retribuição é ajustado aproximadamente a cada quatro anos, sendo cortado para metade até que toda a moeda seja emitida”, acrescenta o responsável. No entanto, “quanto maior for o preço da bitcoin mais incentivos existem para os mineradores participarem na rede, o que aumenta a sua segurança”.
O Instituto New Economy é um dos constituintes da Federação das Associações de Cripto Economia, que também integra a Aliança Portuguesa de Blockchain e a Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoeadas (APBC). Fundada em 2022, nasceu com o intuito e promover o sector e influenciar um ambiente favorável à atração de talento e desenvolvimento de negócio nesta área para Portugal.
Quando foi lançada a FACE deu destaque a um estudo da Chainalysis que posicionava Portugal como a terceira maior criptoeconomia da Europa Ocidental, só atrás da Holanda e da República Checa.
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