As posições do presidente eleito Donald Trump sobre as grandes tecnológicas no primeiro mandato na Casa Branca não eram as melhores e com algumas dessas empresas a relação ainda se deteriorou mais, quando Trump perdeu a reeleição e se deu o episódio do capitólio. Trump foi banido de várias redes sociais e chegou a processar o Facebook, o Twitter e a Google por causa da decisão que se manteve em vigor por vários meses.
As declarações recentes de Trump, já depois das eleições não parecem assinalar uma alteração radical na posição do próximo presidente dos Estados Unidos. Já do lado da indústria, a expectativa de um ambiente calmo para o negócio parecem ser grandes. Pelo menos têm existido várias manifestações de apreço ao novo Presidente, em dólares.
Nos últimos dias foram anunciados ou confirmados vários donativos para o fundo inaugural do Presidente de algumas das empresas mais visadas pelas críticas de Donald Trump durante o primeiro mandato, quando já defendia que era preciso controlar o poder desmesurado que as Big Tech acumularam nos últimos anos.
A Meta já confirmou uma doação de 1 milhão de dólares à CNBC. Semanas antes, soube-se também que Mark Zuckerberg jantou com Trump no resort privado do multimilionário, em Mar-a-Lago. A Amazon também confirmou ao The Wall Street Journal a intenção de fazer uma doação no mesmo valor. As duas empresas foram precisamente duas das mais criticadas por Trump ao longo do primeiro mandato. Os CEOs de ambas ganharam até “nomes carinhosos” inventados pelo presidente: Jeff Bozo e Zuckerschmuck.
Como recorda a CNBC, no passado Trump dirigiu críticas em várias ocasiões às políticas comerciais da Amazon, acusou a empresa de usar abusivamente os serviços de correios americanos para fazer chegar encomendas aos destinatários e chegou a dizer que o The Washington Post, detido por Bezos, era uma máquina de notícias falsas.
A animosidade era recíproca e, em 2019, a Amazon chegou a acusar Trump de agir por trás dos panos para que a tecnológica perdesse uma contrato milionário com o departamento de defesa. O próprio Bezos chegou a dizer, na campanha anterior, que Trump era tóxico para a democracia.
Agora parece mais entusiasmado com o regresso do republicano à Casa Branca. Numa conferência em Nova Iorque no início do mês, Bezos disse que está otimista com o novo mandato de Trump e com a perspetiva de menos regulação, que este tem defendido. Mostrou-se, inclusive, disponível para ajudar.
A mesma expectativa, aliás, tem justificado a ascensão meteórica de valor do Bitcoin, que desde a eleição valorizou metade do que ganhou em todo o ano. Trump prometeu fazer dos Estados Unidos a capital mundial do Bitcoin e uma das receitas para lá chegar também passará por uma nova política regulatória para o sector. Sector esse, que foi um dos grandes financiadores da campanha de Trump.
Com a Meta, dona do Facebook, os diferendos também são antigos. Além do poder da empresa, Trump tem criticado o grupo acusando-o de silenciar as vozes mais conservadores e considerado que a empresa não usa o seu poder de forma imparcial e desinteressada, mas para servir interesses e ideias próprias.
Sam Altman, CEO e co-fundador da OpenAI, foi a última figura da tecnologia a anunciar que planeia fazer uma doação pessoal de 1 milhão de dólares para o fundo que vai pagar a festa de Trump. “O presidente Trump vai liderar o país rumo à era da IA e eu estou ansioso para apoiar esses esforços de forma a assegurar que a América continua na liderança””, referia numa declaração divulgada na sexta-feira.
Recorde-se que a OpenAI mantém um diferendo com Elon Musk, que tem estado perto de Trump desde a campanha, foi pessoalmente um dos grandes doadores de fundos e está indicado para um cargo na administração de Trump. Musk foi um dos primeiros investidores na OpenAI. Saiu, segundo ele, em rutura com o rumo da empresa e já tentou recuperar o investimento feito na justiça. A empresa tem contestado a versão. Se Elon Musk vier de facto a assumir um cargo público pode ter o poder de influenciar a definição de regras para regular a IA no país e isso pode não ser bom para a OpenAI, têm sublinhado alguns analistas.
Falta saber se estas operações de charme terão algum impacto prático naquilo que será a política da nova Administração da Casa Branca para o sector da tecnologia. Uma coisa já se sabe. O pelouro da regulação no Departamento de Justiça norte-americano vai ser entregue a Gail Slater, que durante o primeiro mandato já aconselhava Trump para a área tecnológica.
Quando fez o anúncio, Trump escreveu o seguinte na sua rede social Truth Social: “As Big Tech têm andado à solta durante anos, sufocando a concorrência no nosso sector mais inovador e, como todos sabemos, usando o seu poder de mercado para reprimir os direitos de tantos americanos e das empresas mais pequenas”.
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