Há um novo movimento europeu, formalizado no grupo Not Optional, que quer pressionar os decisores políticos a fazerem mais pelo ecossistema de startups da região e pede alterações urgentes às regras que regulam o mercado de emprego. O sector quer um enquadramento mais favorável a estratégias de atração de talento, que passem pela distribuição de capital social pelos colaboradores, uma prática comum em várias regiões do globo.
Numa carta aberta, o grupo frisa que o número de startups na Europa tem crescido rapidamente nos últimos anos, com vários unicórnios a afirmarem-se, mas sublinha que faltam medidas políticas para garantir a continuidade deste potencial de criação de valor.
Com mais de 700 signatários, a carta lembra que “o sector europeu da tecnologia nunca foi tão forte. De Londres a Lisboa, Paris a Praga, a Europa alimenta-se hoje de algumas das mais dinâmicas e criativas empresas do mundo”.
Sublinha-se que os dias em que se vivia na Europa à sombra de Silicon Valley terminaram e que hoje não faltam ao sector tecnológico da região ambição e capital, que têm criado novos modelos de negócio geradores de crescimento económico, emprego e melhorias na vida das pessoas.
Diagnóstico feito, enumeram-se os problemas que podem comprometer o potencial da região para se converter no “continente mais empreendedor a nível mundial”. Os signatários destacam as limitações ao nível da disponibilidade de talento e consideram-no um “sério estrangulamento ao crescimento”, pedindo, por isso, que o tema do talento seja colocado no topo da agenda dos decisores políticos europeus.
“Nos próximos 12 meses, as startups europeias vão precisar contratar mais de 100 mil colaboradores. Acrescente-se a isso o número de empregados que as startups que ainda não nasceram vão ter de contratar”, antecipa-se.
Para que seja possível responder a estas necessidades, o grupo pede uma revisão da legislação a nível europeu, que a torne mais favorável a “esquemas de participação dos trabalhadores no capital social” das empresas. Uma revisão que acabe com incoerências e limitações, “arcaicas” e penalizadoras da competitividade das startups europeias, na sua capacidade de recrutar talento, face a outras regiões do globo.
Em concreto, defende-se uma política europeia única para regular o acesso dos colaboradores ao capital social das empresas, menos complexa e menos penalizadora em termos de custos associados. O objetivo é permitir que mais empresas possam usar este recurso, como um mecanismo que compensa a falta de capacidade de uma empresa jovem para competir com a remuneração oferecida por grandes tecnológicas, ao mesmo tempo que premeia o risco que o colaborador corre por se juntar ao projeto.
Dar acesso ao capital da empresa é uma das estratégias usadas por startups em todo o mundo para cativar talento. Se a Europa não criar condições para ter empresas mais competitivas nesta batalha global pelo talento, a região corre o risco de ter de lidar com uma “fuga de cérebros", que vai culminar numa menor capacidade de criar emprego e de crescer, alerta o grupo.
Not Optional é um grupo que reúne fundadores de startups, investidores, colaboradores de startups e representantes de empresas de tecnologia já mais maduras. Há portugueses entre os signatários, como José Neves, CEO e fundador da Farfecth, Augusto Santos, da Fintech Portugal ou Pedro Ribeiro Santos, da Armilar Venture Partners.
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