Não somos todos “digitais” e não temos todos as mesmas competências, e por isso mesmo, quando os serviços são cada vez mais online, usando a internet ou os smartphones, há quem tenha dúvidas e encontre obstáculos que se podem tornar difíceis de ultrapassar, sobretudo em tempo de isolamento, em que há muitos idosos sozinhos em casa. Foi a pensar neste problema que o coordenador geral do Programa INCoDe.2030, Nuno Rodrigues, decidiu avançar num projeto que recorre a uma ferramenta simples, o telefone, e a um grupo de voluntários que estão disponíveis para responder a todas as questões relacionadas com literacia digital.

A linha gratuita 800 100 555, começou a funcionar hoje, 7 de abril, às 12 horas, e está disponível todos os dias, entre as 12 e s 20 horas. Conta com um grupo de 30 alunos e 15 docentes, todos voluntários, que estão do outro lado da linha telefónica para responder a perguntas sobre criação de contas em redes sociais, forma de fazer videochamadas, partilha de fotografias ou acesso a serviços online.

Os voluntários são alunos e docentes do IPCA (Instituto Politécnico do Cávado e do Ave), da área das tecnologias de informação, que foram “recrutados” no âmbito do projeto que está a ser operacionalizado por parceiros do INCoDe.2030, o Digital Transformation Colab (DTx), em articulação com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, através da sua Unidade de Computação Científica Nacional (FCT/FCCN).

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“A iniciativa é simples, e de objetivos simples e simplistas, mas importante para quem encontra barreiras significativas, seja em questões de lazer – como se ligam a uma rede social, enviam fotografia, mas também de trabalho, num site de administração pública ou finanças”, explica António Cunha, presidente do CoLab em Transformação Digital, DTx, em entrevista ao SAPO TEK, adiantando que são questões técnicas simples e básicas para quem tem literacia digital mas que podem ser um grande obstáculo para quem não tem competências nesta área.

A percentagem de portugueses com baixas ou nenhumas competências digitais é ainda elevada, e mais de 20% da população é considerada infoexcluída, o que em alturas de maior isolamento as coloca à margem de ferramentas de partilha de informação e de comunicação.

Mas António Cunha lembra também que, neste contexto, há mesmo muitas pessoas que já têm maior literacia digital, e que usam o computador e smartphones mas que têm algumas dificuldades em usar ferramentas de videoconferência ou partilha de ficheiros, e a linha também está disponível para esses.

Um futuro pós pandemia de COVID-19 que será certamente mais digital

Para além dos grupos etários de mais idade que revelam mais dificuldades, o conhecimento e domínio das ferramentas de comunicação ainda não é muito alargado entre a população portuguesa, e tem sido um dos elementos mais fracos nos índices de digitalização da União Europeia, o DESI. António Cunha acredita que este atual contexto de pandemia vai “empurrar” todos os cidadãos para serem mais digitais.

“Não somos todos digitais? Mas seremos, a expressão tem de ser vista num contexto dinâmico”, afirma quando confrontado pelo SAPO TEK com o nome escolhido para o projeto. “Claramente este contexto vai empurrar-nos a todos para sermos mais digitais […] o uso de plataformas de videoconferência explodiu, está a crescer muito”, explica.

“Não tenho dúvidas de que quando sairmos desta crise sanitária, vamos viver uma crise económica, mas que vai ser marcada por grandes mudanças de hábitos de consumo. Vamos ter mudanças significativas no modo de viver e de conviver”, adianta António Cunha.

Da ideia ao lançamento da “Linha Somos Tod@s Digitais”

O “pai” e mentor da ideia foi Nuno Rodrigues, coordenador do programa INCoDe.2030 mas a operacionalização foi supervisionada pelo Digital Transformation Colab (DTx), em articulação com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, através da sua Unidade de Computação Científica Nacional (FCT/FCCN), com o apoio da operadora NOS.

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Os voluntários trabalham a partir de casa, com os seus telemóveis e computadores, e foram escolhidos no âmbito da rede universitária do IPCA, pelas competências técnicas e humanas. O tipo de questões que pode chegar foi definido pela recolha de ideias de pessoas que têm sensibilidade para o tema, e que têm trabalhado também no pilar de inclusão do INCoDe.2030, e é feito um briefing e acompanhamento aos voluntários.

A ideia é porém alargar o número de envolvidos na linha, com a inclusão de novos voluntários que podem surgir de outras instituições de ensino, até de áreas ligadas ao apoio social mas com conhecimentos técnicos que suportem as questões da linha telefónica, como explica António Cunha. “Não temos aqui regras fixas e estamos abertos a que pessoas com formação nessa área diga que gostaria e ser voluntária”, adianta.

Haverá sempre um processo de validação, das competências técnicas e humanas, mesmo para evitar utilizações abusivas da informação.

A começar hoje, não há ainda projeções sobre a adesão que possa existir a esta linha de apoio, mas a equipa está preparada para ajustar processos se houver um crescimento grande da procura. E o futuro? António Cunha acredita que há condições para que a linha telefónica se venha a manter depois de terminada a situação de crise pandémica, mas tudo dependerá da procura que venha a existir.

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