A pandemia de COVID-19 mudou muitos aspetos da nossa vida, transpondo-os ainda mais para o mundo digital, e os relacionamentos e a sexualidade não foram uma exceção à regra. Na data em que se assinala o Dia da Internet mais Segura a nível internacional a forma como os jovens encaram a temática esteve em destaque num webinar promovido pelo Consórcio do Centro Internet Segura, com um especial foco para a questão dos riscos que existem no mundo online.
Para os pais e educadores nem sempre é fácil perceber os motivos pelos quais os jovens acabam por ter certos tipos de comportamentos online, muitos dos quais acarretam riscos. De acordo com a psicóloga Rosário Carmona Costa é preciso compreender em primeiro lugar que, na nossa vida, estamos num contínuo onde de um lado temos a nossa força de vontade e de outro a impulsividade.
Na fase da adolescência este é um autêntico campo de batalha, onde o cérebro por um lado diz “controla-te, concentra-te e faz o que está certo” e por outro diz “Faz o que te sabe bem e fá-lo agora”.
A psicóloga sublinha que é também preciso compreender que, na interação dos jovens com as tecnologias, não há uma só sexualidade e é possível observarmos várias situações. Por um lado, podemos ter casos onde há um maior equilíbrio com adolescentes com bons relacionamentos pessoais e que de facto veem pornografia sem entrar em comportamentos arriscados.
Por outro, existem também situações de jovens, que embora tenham bons comportamentos em casa e na escola, acabam por cair em práticas menos adequadas nos seus relacionamentos online e que se tornam vítimas da partilha de fotos ou vídeos íntimos sem o seu consentimento. Tendo em conta a sua experiência com adolescentes que já passaram por esta situação, Rosário Costa afirma que têm um impacto brutal na vida dos jovens.
Assim, que papel devem desempenhar os pais e educadores? Para a psicóloga, é importante que reflitam sobre as suas atitudes em relação aos mais novos e que se esforcem para conhecê-los verdadeiramente. Ao ter um maior entendimento é possível “levantar o véu” em relação ao que está por trás de determinados problemas.
Os pais devem dar significado às situações que estão a acontecer e falar aberta e calmamente com os seus filhos para encontrar um motivo para o que está a acontecer. O estabelecimento de limites é também importante, mas os pais não se podem esquecer de saber “liderar por exemplo”, ou seja, se dizem aos jovens que devem passar menos tempo em frente aos ecrãs, devem também esforçar-se por ter bons hábitos.
“Às vezes, a sexualidades e comportamentos que identificamos fogem-nos daquilo que imaginávamos para os nossos filhos, mas é preciso saber encarar estas situações”, enfatiza Rosário Costa.
Segundo a psicóloga, os pais e educadores não devem diabolizar, por exemplo, as redes sociais ou as plataformas online. “Devemos sim é informar as crianças e jovens dos riscos que existem, da mesma forma que os informaríamos em relação aos riscos da vida real”.
Muitas vezes, os jovens têm medo de revelar certos problemas aos pais porque têm medo de receber um castigo, como que lhes seja tirado o smartphone ou que o seu acesso à Internet seja limitado. Rosário Costa defende que os pais têm de ser um “porto seguro” e que não podem simplesmente castigar ou impor limites sem antes compreender com os jovens o que se está a verdadeiramente a passar.
Compreender, educar e prevenir riscos em família
Já num debate onde a sexualidade e comportamentos de risco online estiveram no centro da mesa de discussão, Cristina Ponte, Coordenadora do EU Kids online em Portugal, começa por dar a conhecer que as práticas dos mais novos no mundo digital são uma preocupação crescente e, recentemente, as Nações Unidas aprovaram uma atualização ao documento sobre direitos de crianças e adolescentes que espelham essas questões.
De acordo com a sua experiência no projeto EU KIDS Online, a responsável indica que é necessário saber de distinguir entre risco e dano. O risco não é necessariamente algo que leve a uma situação negativa, aliás, existem casos em que pode ser também uma oportunidade para aprender, para ganhar resiliência ou para saber lidar com uma determinada situação.
É importante compreender que tudo depende de como é que o próprio ambiente digital se apresenta, das características das crianças ou dos jovens e das suas competências digitais.
Por exemplo, é muito diferente uma criança de 9-10 anos andar a navegar e ir parar a uma imagem com um cariz sexual e um adolescente de 16-17 anos andar mesmo à procura desse tipo de conteúdo porque quer ter esse tipo de informação.
Segundo os dados do estudo relativos a Portugal e que dizem respeito à visualização de conteúdos sexuais no contexto online, metade dos inquiridos com idades entre os 9 e os 17 anos dizem que ao se depararem com o mesmo não se sentiram nem incomodados nem contentes. Já um terço indicou que se sentiu contente, significando que este conteúdo ia ao encontro dos seus interesses, isto numa lógica de satisfação de curiosidade.
Importa realçar que há uma clara diferença entre género e idade: geralmente são os rapazes mais velhos que vão ativamente à procura deste tipo de conteúdo. Além disso, no que toca às crianças até aos 10 anos, a maioria sente mais incómodo perante estas situações.
Já Pedro Verdelho, coordenador do Gabinete de Cibercrime da Procuradoria-Geral da República, assim como Ricardo Vieira, Inspetor da Polícia Judiciária, realça alguns aspetos que tanto pais como educadores devem ter em conta.
Aplicando a velha máxima do “prevenir é melhor do que remediar”, Pedro Verdelho lembra que todos os dias há novidades no mundo online, assim como novos desafios tanto para miúdos como para graúdos Os pais e os filhos precisam de ter consciência dos perigos que existem, para que em conjunto possam aprender a não cair nas “armadilhas” ou a entrar nas zonas verdadeiramente perigosas da Internet.
Ricardo Vieira apela em especial aos jovens para que tenham atenção em relação à informação partilhada nas plataformas online, particularmente em relação à idade, pois “Mentir sobre a idade pode levar a situações de perigo”, e no que toca às fotografias que colocam, por exemplo, nas redes sociais.
O inspetor da PJ relembra que “temos de começar a fazer uma prevenção muito cedo”, uma missão que cabe principalmente aos pais, mas também às escolas, pois todo este trabalho é também uma forma de ajudar as autoridades.
Em linha com os restantes oradores do painel, Vânia Beliz, Sexóloga e Psicóloga, alerta para as várias problemáticas que podem ocorrer no mundo online e que decorrem de situações, como por exemplo, a sexualização das crianças, em particular, das raparigas.
A sexualidade é uma temática vasta e, para a psicóloga, é muito importante que as crianças e jovens aprendam realmente o que são relações saudáveis. “Os pais não devem ter medo de falar sobre estes assuntos com os filhos”. Além disso, Vânia Beliz defende que “é urgente que os currículos de educação sexual se reformulem, assim como a educação para a cidadania”, de modo a se adaptarem aos crescentes desafios do mundo digital.
Pergunta do Dia
Em destaque
-
Multimédia
20 anos de Halo 2 trazem mapas clássicos e a mítica Demo E3 de volta -
App do dia
Proteja a galáxia dos invasores com o Space shooter: Galaxy attack -
Site do dia
Google Earth reforça ferramenta Timelapse com imagens que remontam à Segunda Guerra Mundial -
How to TEK
Pesquisa no Google Fotos vai ficar mais fácil. É só usar linguagem “normal”
Comentários