“O que queres fazer da vida”? Há cerca de cinco anos, a resposta de João Amorim era “viajar”, mas estava “preso” a um curso com o qual não se identificava. Agora é líder de viagens e conta ao SAPO TeK como foi todo o processo de descoberta, marcado, muitas vezes, por indecisão, ansiedade e medo. Num evidente contraste com o passado, o fotógrafo português, que conta com mais de 91.000 seguidores no Instagram, está numa fase da vida totalmente diferente, mas, apesar de recordar experiências inacreditáveis no estrangeiro, garante que o futuro passa por viver no país que o viu nascer e que valoriza cada vez mais.
Por enquanto não conta o número de países que já visitou e garante não ter complexos em visitar o mesmo destino mais do que uma vez. Na hora de escolher o país que guarda com mais carinho, João Amorim elege Guatemala, enquanto o Perú fica marcado pela experiência mais desafiante até ao momento, onde durante cinco dias caminhou entre os 4.300 e os 5.000 metros de altitude. “A essa altitude é muito difícil caminhar e no final já andava a passo de caracol”, conta.
“Estou a fazer aquilo que eu quero, ninguém me impõe nada e isso tem muito de especial e de inacreditável”
Apesar de ser feliz enquanto líder de viagens, engane-se quem pense que João Amorim tem a “vida perfeita” que muitos podem achar que tem. O líder de viagens considera que as pessoas têm tendência a olhar para a vida de figuras com mais visibilidade e pensar que têm as ditas “vidas perfeitas”, o que, na sua opinião, “cria uma falsa noção de realidade e felicidade”.
Tal como João Amorim conta, viajar tanto implica, muitas vezes, fazer sacrifícios. Estar menos tempo com a família é um deles, existindo sempre o medo de um “até já” ser um “adeus”, tal como disse na conta de Instagram. Por isso, para além de tentar mostrar o lado bom de partir para a aventura, João Amorim procura mostrar os desafios que também enfrenta não só nas redes sociais mas também em palestras e conversas.
“Eu sinto que estou num bom rumo, mas isso não quer dizer que todos os dias sejam perfeitos”
Quando se junta o gosto pelas viagens à fotografia e ao vídeo
João Amorim criou a conta de Instagram na altura em que começou a viajar mais e nunca o fez com o objetivo de ser influencer, garantindo que “simplesmente queria criar uma conta para partilhar aquilo que estava a fazer”. É também aí que procura dar a conhecer a sua perspectiva em relação à forma como olha para a vida. “Tento mostrar que foram os momentos menos bons que me fizeram chegar onde eu estou”, explica.
Tendo sempre uma vontade de partilhar aquilo que fazia no dia a dia, João Amorim, de 29 anos, que até nem gostava de fotografia, acabou por ver nesta área uma forma de divulgar as suas experiências. “Percebi que queria guardar as experiências e comecei a fotografar sem saber nada”, conta ao SAPO TeK.
E de que forma João Amorim responde às pessoas que consideram que ao tirar muitas fotografias ou estar a filmar não aproveita os momentos? “Para mim, aproveitar um pôr do sol 99% das vezes é conseguir fotografar esse pôr do sol”, afirma.
Do laboratório para o mundo: afinal como é que tudo começou?
Quando terminou o secundário João Amorim decidiu que queria ir para a faculdade, tal como a maior parte dos seus amigos. No entanto, ainda não sabia bem que futuro queria para a sua vida profissional. “Nunca soube muito bem aquilo que realmente gostava e nunca tive a consciência que essa é que era a pergunta importante”.
Bioquímica foi o curso escolhido, um pouco “porque sim”, e até ao final do mestrado tudo corria bem. “Tinha boas notas, era dos melhores alunos do curso, sentia-me bem, tinha amigos e ia a festas”, conta. Apenas quando chegou ao laboratório, enquanto estava a terminar o mestrado, é que percebeu que não se sentia útil, feliz e realizado: “Só aí é que me apercebi que tinha feito uma má decisão há cinco anos atrás”.
Depois de muitos meses “perdidos”, tudo mudou a partir do momento que conheceu a Associação Gap Year Portugal, uma organização não governamental (ONG) que promove o conceito de pausa no percurso de vida tradicional, nomeadamente com viagens ou voluntariado. Já nessa altura, quando alguém perguntava a João Amorim o que ele gostaria de fazer, a resposta passava sempre por viagens, “mas dizia isto de muito ânimo leve e sem muita noção daquilo que estava a dizer”.
Ao ganhar o concurso promovido pela ONG, João e a namorada rumaram até ao continente americano, onde fizeram uma viagem de oito meses, a mais exigente até agora, a nível psicológico, por ter sido a primeira.
“Num momento estava num laboratório sem saber o que queria fazer da vida e passado um mês estava a fazer as malas para ir viajar para o continente americano”
E o que retirou desta experiência? “Acho que essa tranquilidade que viajar me deu e a oportunidade de conhecer todas essas realidades e culturas é que me trouxe aos bocadinhos as respostas para as minhas perguntas”.
Foi depois desta fase da vida que se tornou líder de viagens na agência Landscape e para este ano, até ao momento, tem marcadas três viagens a que qualquer pessoa se pode juntar através do blog followthesun.pt: à Islândia em junho e outubro e à Colômbia em julho. Antes disso, vai ainda viajar novamente até à Ilha das Flores, nos Açores, em março, um destino na opinião “surreal”.
Gerês: o “refúgio” de João Amorim em Portugal
Natural de São João Madeira, no Porto, o fotógrafo português garante que adora Portugal e que “seria impensável viver fora do país”. O Gerês é a região que guarda com mais carinho, sendo, mesmo antes de ter encontrado o rumo da vida, o seu “refúgio”. “Devo muita saúde mental ao Gerês”, garante.
“Quando me comecei a sentir melhor a primeira coisa que fiz foi ir para o Gerês sozinho de mochila às costas”
João Amorim esclarece, no entanto, que este “amor” por Portugal já vem de há bastante tempo e não só devido à pandemia. “Posso dizer que sempre conheci bem o nosso país e não foi só este ano que passou por causa da COVID-19”, frisa.
Na bagagem ficam, quer no país e no estrangeiro, recordações que João Amorim procura partilhar com todos aqueles que tiverem também interesse em acompanhar as suas aventuras.
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