A Betclic Apogee é uma das principais organizações de eSports em Portugal, totalmente dedicada a FIFA. Tem uma equipa profissional de jogadores e um palmarés com várias vitórias. A organização tem vindo a fazer manchete nos últimos tempos, não pelos resultados desportivos, mas pelas suas iniciativas em prol do meio ambiente. A Apogee foi a primeira organização de eSports do mundo a receber o estatuto de Carbon Neutral e recentemente compensou 247 toneladas de CO2.

O SAPO TEK quis conhecer um pouco melhor o projeto, ou melhor, o mentor responsável pela organização e fundador da Apogee, Gonçalo Brandeiro. Descrevendo-se, o jovem de 29 anos afirma que joga desde os cinco anos de idade, por influência direta da sua mãe. Jogava sobretudo no Game Boy, mas também teve uma Nintendo 64. Diz que joga praticamente desde sempre, tendo uma relação próxima com os videojogos, que foram também utilizados como escape num momento menos bom da sua vida. Acrescenta que a sua ligação mais profunda aos videojogos, numa certa altura, nem foi a mais saudável, mas que se tornou aquilo que lhe chama de um “calling”.

Gonçalo Brandeiro

Uma carreira ligada ao gaming e ao desporto

No seu percurso académico, teve sempre a pressão de seguir o caminho tradicional de entrar na faculdade e estudou engenharia eletrotécnica, que diz não ter gostado. Na altura teve alguns problemas psicológicos, sendo forçado a fazer algo que não gostava. Passado um ano optou por seguir gestão e voltou a sair. Tinha criado o seu canal no YouTube, além de ajudar na gestão de carreira de um criador estrangeiro, o FaZeRamos, que fazia parte da famosa equipa de eSports FaZe Clan. Ambos se conheceram durante as partidas de Call of Duty e como o Ramos era mais novo, acabou por ajudar na gestão da sua carreira.

Durante o seu curso na faculdade começou a envolver-se mais com os eSports e ajudou o Estoril Praia, usando a sua experiência de criação de equipas. “Percebi rapidamente que era isto que queria fazer e por isso fiz um curso de gestão de desporto na Universidade de Motricidade Humana”. Gonçalo Brandeiro afirma que existem mais parecenças entre os eSports e o desporto convencional, do que aquilo que as pessoas pensam. E esse até era um tópico recorrente de “discussão” com os seus professores, no facto de se considerar ou não se os eSports eram desporto.

Ao fim de nove meses no Estoril Praia, começou a sentir algumas limitações que diz serem normais para as equipas tradicionais. E como não conseguia fazer a gestão da forma como gostaria, acabou por sair. Gonçalo Brandeiro tinha algum dinheiro de parte e a sua própria mãe ajudou a lançar a Apogee Gaming, que rapidamente foi crescendo como empresa.

Gonçalo Brandeiro

Pouco depois, a Betclic juntou-se ao projeto, tornando a organização ainda maior. Refere que o trabalho na Betclic Apogee era tanto que ficou sem ter tempo para continuar a faculdade e abandonou definitivamente os estudos há cerca de dois anos para se dedicar “full time” à empresa. Algo que diz não se arrepender, “a melhor decisão da minha vida”.

O nome para a organização surgiu ainda durante a sua passagem pelo Estoril Praia, no seio do seu grupo de Call of Duty, em que competiam a nível amador em torneios. Tentou juntar as letras dos nomes de cada membro do grupo, referindo que o “G” é de Gonçalo. Por outro lado, Apogee, que em português significa “apogeu”, era uma palavra com um significado especial para si, porque corresponde à possibilidade de chegar ao máximo do potencial de um objetivo. Manteve dessa forma o nome, dedicado à sua equipa, mas criou sozinho a organização de eSports.

O sonho de ser campeão do mundo

Gonçalo Brandeiro admite que não é fácil ser uma organização, entre poucas, com o privilégio de ter uma estrutura profissional e sustentável, “muito similar ao do desporto tradicional. Os nossos profissionais têm acesso a psicólogo, ao ginásio, têm condições muito boas e somos das poucas que conseguem fazer isto”, referindo-se a apenas duas ou três organizações com as mesmas condições em Portugal. Embora saliente que ainda se “sobrevive” de forma ainda muito dependente dos patrocinadores. Um fenómeno que se coloca a nível global, e não apenas em Portugal, é que 70% das receitas são de patrocínios, salienta o líder da Apogee.

"Os nossos profissionais têm acesso a psicólogo, ao ginásio, têm condições muito boas e somos das poucas que conseguem fazer isto".

Nenhum trabalhador ou colaborador ligada à Apogee trabalha gratuitamente, afirmou Gonçalo Brandeiro. Desde o staff, treinadores e os cerca de 9 atletas do clube recebem pelo seu trabalho. Apenas a equipa de 11 para 11 de FIFA não pertence aos quadros porque é uma modalidade que não permite que os atletas sejam profissionais. E quem ajuda sem receber, fá-lo por gosto, mas acede a condições na organização “muito boas”. Há ainda alguns estágios profissionais que aceitam, mas de um modo geral, todos são pagos pelo seu trabalho.

Gonçalo Brandeiro

A organização dedica-se 100% a FIFA e foram campeões europeus recentemente, mas Gonçalo Brandeiro tem ambição de conquistar o campeonato do mundo da modalidade. A organização participa em todas as competições da EA Sports e da FIFA no que diz respeito ao panorama internacional. Em Portugal está envolvida com a Liga Portugal, em parceria com o Arouca e com a eFPF.

“É um ritmo em que nunca se para" e ainda no último fim-de-semana a equipa participou em jogos e em breve chega a Masters da FPF. O líder da equipa diz que existem sempre competições todas as semanas, sobretudo na vertente dois para dois e um para um, que são os mesmos jogadores nas competições oficiais. O 11 para 11 é uma competição distinta e com regras muito próprias, afirma.

À procura de tornar o mundo mais sustentável 

Apesar da Betclic Apogee ser atualmente notícia pelas suas iniciativas ecológicas, com o objetivo de reduzir a pegada de carbono do planeta Gonçalo Brandeiro diz que, desde que criou o plano de negócio da Apogee, que decidiu que a empresa deveria ter uma causa maior que si própria. “A nível pessoal preocupo-me com o ambiente e nem sequer tenho carro”. Assim, desde a criação da organização que esta preocupação fazia parte. Inicialmente não tinha nada de concreto, mas, mas começaram por registar a pegada carbónica e a calcular o respetivo consumo. Esses dados foram validados por uma entidade externa, que passou o certificado.

A equipa fez todas as compensações necessárias das emissões de carbono, garantindo-lhe o título da primeira organização ligada aos eSports a obter essa certificação. Gonçalo Brandeiro explica que esse título tem tido uma repercussão internacional muito grande, sendo já bastante conhecidos a nível global por esse feito. “Não queremos ficar por aqui, queremos inspirar outros, toda a indústria dos eSports.

Esse passo seguinte deu-se com a criação do Gamers 4 the Planet, uma plataforma global, assente numa ferramenta que calcula o impacto ambiental do sector dos eSports. O objetivo é ajudar todos os gamers em todo o mundo a reduzir a sua pegada ecológica no planeta, enquanto jogam videojogos. E já tem duas organizações de renome mundial envolvidas no projeto, a Fnatic e a OG Sports. Também salienta a criação do documentário para sensibilizar as pessoas. Mas o líder da Apogee acredita que tudo ainda está no início, mas que a sua repercussão já é grande.

Gonçalo Brandeiro

Apesar de não ser um requisito para entrar na organização, ter um pensamento pelo menos indiferente e com capacidade de ouvir a mensagem é importante para os novos jogadores. “Aqui dentro faz-se depois a sensibilização para as causas ambientais”. E dá o exemplo de que o documentário, apesar de ser para um público geral, reflete aquilo que fazem no interior da organização. Mas diz que no geral, todos os atletas e staff do clube também abraçaram a respetiva causa, por serem jovens e a própria indústria ser jovem. “Sabem que com a organização vão também criar impacto e contribuir para algo maior que eles próprios”.

Sendo uma equipa totalmente dedicada a FIFA, a situação atual do “divórcio” entre a Eletronic Arts e a organização não deixa de ser uma incógnita para o seu futuro. Para si existem duas linhas que vão ser traçadas, sobretudo com reflexo daqui a dois anos. A primeira é saber o que a Electronic Arts vai fazer, e qual o jogo que a FIFA vai apoiar, uma vez que existem planos nesse sentido. Para Gonçalo Brandeiro, o apoio estará onde a comunidade de jogadores estiver, certamente ligado ao melhor título.

A segunda linha diz respeito a qual vai ser o jogo mais sustentável a nível de eSports, quais as competições que oferecem os melhores prize pools. Neste aspeto considera que a FIFA oferece melhores condições. E sente mesmo que, com a separação, o desporto eletrónico da EA Sports perca a força. Além disso, critica a editora de “se fechar em copas” até ser muito tarde, sem dar informações. E para si, o que mais importa é a visibilidade, os trofeus e a audiência que os jogos geram.

Gonçalo Brandeiro

Numa análise ao panorama atual dos eSports em Portugal, o líder da Betclic Apogee afirma que tem vindo a crescer, mas neste momento, “estão numa fase de correção do mercado”, ou seja, a recessão tem vindo a cortar no investimento no sector a nível global. Algo que diz que não está a acontecer em Portugal, referindo que o investimento continua e tem crescido. Considera que FIFA e CS: GO são os jogos mais importantes do país, mas que Valorant tem suscitado cada vez mais interesse.

"Fazemos muita coisa boa em Portugal. As pessoas gostam de criticar, mas tem sido feito muita coisa boa no país e há muita margem para crescer."

A Apogee conta com atletas estrangeiros, de Itália e da Polónia, perante o seu foco internacional. Mas considera que nem tudo é perfeito, pois trata-se de indústria jovem e com erros naturais.

Sobre projetos para o futuro, o Gamers 4 the Planet é o atual foco, além das competições e a criação de conteúdos para os seus fãs assistirem. “Mas poder transformar a indústria de uma forma positiva, com esta preocupação na neutralidade carbónica é um dos objetivos”. Pretende impactar positivamente a comunidade gamer na indústria e desmistificar um pouco a conotação da palavra “gamer” como algo pouco positivo na sociedade. “Ainda existe o estigma do gamer, mas a minha avó, que passa horas no telemóvel a jogar, não se identifica como tal. Podem não ser jogadores hardcore, mas são certamente gamers.”

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