O Relatório de Avaliação da Ameaça do Crime Grave e Organizado na UE (SOCTA na sigla em inglês) é publicado pela Europol cada quatro anos, desde 2013, e faz uma análise da criminalidade grave e organizada na União Europeia, incluindo aquela que se passa na Internet.

Durante a apresentação da mais recente edição do SOCTA, na sede da Polícia Judiciária, em Lisboa, Francisca Van Dunen, Ministra da Justiça, sublinhou que cada vez mais se esbatem as fronteiras da criminalidade, uma vez que as “atividades criminosas são levadas a efeito com recurso às novas tecnologias de informação e de comunicação, como sucede, de forma cada vez mais frequente, entre muitos outros, nos casos de abuso sexual de crianças online, da apologia do terrorismo, do discurso do ódio ou da venda de vacinas contrafeitas”.

O relatório detalha que as ameaças do mundo do cibercime têm vindo a crescer ao longo dos últimos anos, quer em número de ataques como em matéria de sofisticação. Os crimes em questão causam perdas financeiras significativas a negócios, ao setor público e a cidadãos todos os anos e os ataques a infraestruturas críticas têm um grande impacto e podem ter consequências graves.

O processo de digitalização acelerado que vivemos abre a porta a novas oportunidades para os indivíduos que estão envolvidos no cibercrime. Com o teletrabalho a tornar-se uma realidade para muitos trabalhadores durante o período de confinamento durante a pandemia, muitas redes corporativas tornaram-se mais vulneráveis a ciberataques: de ransomware a DDoS.

A disponibilidade de serviços online, numa espécie de modelo de negócios “crime-as-service”, faz com que o cibercrime se torne mais acessível, uma vez que baixam o nível de competências necessárias para levar as atividades criminosas a cabo.

“O cibercrime é altamente dinâmico, explorando rapidamente as tecnologias que avançam”, sublinham os especialistas. As infraestruturas críticas vão continuar a ser um alvo para os cibercriminosos durante os próximos anos, além disso, prevê-se que tecnologias como Internet of Things (IoT), Inteligência Artificial, biométrica e até veículos autónomos possam ser aproveitados para a realização de crimes.

O aumento de atividades relacionadas com a exploração sexual de crianças online ao longo dos últimos anos é outra das tendências preocupantes apontadas pela edição de 2021 do SOCTA.

Com a implementação de medidas de confinamento, muitas crianças começaram a passar mais tempo online sem supervisão, tornando-as mais vulneráveis a situações de risco ou perigo. Os investigadores indicam que, neste âmbito, foi possível notar um aumento significativo de casos de abuso de menores à distância transmitidos ao vivo, em particular nos países do sudeste asiático, embora já tenham sido detetados em Estados-Membros da União Europeia.

As fraudes online, com esquemas que vão do phishing ao SIM Swapping, também se popularizaram durante a pandemia e, à medida que o mundo faz a transição para uma economia digital, há cada vez mais oportunidades para os cibercriminosos atuarem.