A organização desenvolveu em 2023 uma investigação que concluiu que no feed "Para ti" do TikTok as crianças e jovens utilizadores corriam o risco de serem atraídas para um "buraco negro" tóxico de conteúdos relacionados com a depressão e o suicídio, problema que até agora a empresa não reconheceu nem apresentou soluções específicas, denuncia a Amnistia Internacional (AI) em comunicado.

A organização alerta mesmo para a possibilidade de haver impacto no bem-estar mental, particularmente dos utilizadores mais jovens, associado a conteúdo concentrado relacionado com dietas extremas e conteúdo relacionado com a imagem corporal.

Na Cimeira Global da Juventude sobre Direitos Digitais da Amnistia Internacional, em 2024, Alan, um participante de 23 anos da Argentina, alertou para o facto de que um dos principais problemas do TikTok, neste momento, é que “as pessoas estão a entrar numa plataforma que não se destina a crianças de nove, dez, onze, quinze anos”. Rachana, de 23 anos originária do Nepal, destacou que a plataforma “tem de ser controlada de alguma forma” e que isso “pode ser feito pelos governos e pelo próprio TikTok”.

A investigação da Amnistia Internacional, que recorreu a contas para simular adolescentes de 13 anos online, concluiu que 20 minutos após ser criada uma conta e sinalizado interesse em saúde mental, mais de metade dos vídeos no feed "Para ti" do TikTok se relacionavam com problemas de saúde mental.

"Vários desses vídeos recomendados numa única hora romantizavam, normalizavam ou encorajavam o suicídio", afirma a Amnistia Internacional

Esta foi uma das principais conclusões do projeto de investigação, publicado em novembro de 2023, sobre os riscos para os direitos das crianças e dos jovens numa das plataformas de redes sociais mais populares.

Amnistia Internacional alerta para riscos do TikTok que pode incentivar pensamentos depressivos, automutilação e suicídio
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Em resposta à pergunta da AI sobre quais as mudanças implementadas desde a investigação, o TikTok enumerou medidas de bem-estar já conhecidas, a maioria em vigor quando a investigação foi realizada, sem reconhecer o problema do "buraco negro" da aplicação nem apresentar provas de novas medidas específicas.

Segundo a investigação, o modelo de negócio invasivo do TikTok rastreia tudo o que um utilizador faz na plataforma procurando prever os seus interesses, estado emocional e bem-estar, para mostrar conteúdos mais personalizados no 'feed For you' para que continue a navegar, mesmo que os conteúdos sejam prejudiciais.

A AI defende medidas de proteção eficazes, nomeadamente para impedir que utilizadores em risco caiam em padrões de utilização viciantes e em armadilhas de conteúdos perigosos e nocivos.

Em 2023, a Amnistia Internacional publicou dois relatórios que destacam os abusos sofridos por crianças e jovens que utilizam o TikTok. Um dos relatórios, “Driven into the Darkness: How TikTok Encourages Self-harm and Suicidal Ideation”, mostra como a procura da atenção dos jovens utilizadores pelo TikTok pode agravar os seus problemas de saúde mental, como a depressão, a ansiedade e a automutilação.

Outro relatório, I feel Exposed”: Caught in TikTok’s Surveillance Web“, revela que as técnicas de recolha de dados do TikTok que violam os direitos humanos são sustentadas por práticas prejudiciais de envolvimento dos utilizadores.

(com Lusa)