"O TikTok comercializa-se como uma plataforma online de entretenimento, criatividade e comunidade, mas está a tornar-se um espaço cada vez mais tóxico e viciante, o que pode ter impacto na autoimagem, na saúde mental e no bem-estar dos utilizadores mais jovens, correndo o risco de os fazer cair nas armadilhas de conteúdos depressivos e relacionados com a automutilação", alerta a Amnistia Internacional em comunicado.
Segundo a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos, as crianças e os jovens "que têm conteúdos relacionados com a saúde mental no feed [For you, Para ti] do TikTok podem também ser aliciados a ver mais vídeos que discutem, romantizam e incentivam pensamentos depressivos, automutilação e suicídio".
A Amnistia Internacional diz que na Cimeira Global da Juventude sobre Direitos Digitais da Amnistia Internacional, as crianças e jovens ativistas destacaram os aspetos que consideravam fundamentais o TikTok reavaliar e ter em conta. Mencionaram uma regulamentação eficaz, melhor salvaguarda para proteger os jovens utilizadores da plataforma e o término da hiperpersonalização dos seus feeds.
Alan, um participante de 23 anos da Argentina, alerta que um dos principais problemas do TikTok, neste momento, é que “as pessoas estão a entrar numa plataforma que não se destina a crianças de nove, dez, onze, quinze anos”. Rachana, de 23 anos originária do Nepal, destaca que a plataforma “tem de ser controlada de alguma forma” e que isso “pode ser feito pelos governos e pelo próprio TikTok”.
A AI assinala que "a forma intrusiva de privacidade do TikTok para gerar lucro rastreia tudo o que o utilizador faz na plataforma para recolher informações sobre os seus comportamentos", procurando "prever os seus interesses, estado emocional e bem-estar".
"A plataforma faz estas previsões para mostrar ao utilizador conteúdos mais personalizados no seu 'feed For you' para que este continue a navegar de forma viciante - mesmo que os conteúdos sejam prejudiciais - e para que o TikTok possa direcioná-lo para anúncios a fim de gerar mais dinheiro", avisa a organização.
A Amnistia Internacional defende por isso medidas de proteção mais eficazes, nomeadamente para impedir que "utilizadores em risco caiam em padrões de utilização viciantes e em armadilhas de conteúdos perigosos e nocivos".
No comunicado a Amnistia Internacional reconhece que na Europa, o TikTok está a fazer um esforço para respeitar os direitos dos utilizadores mais jovens, não permitindo que sejam alvo de publicidade personalizada/comportamental, mas lembra que "continua a permiti-lo no resto do mundo, onde os direitos destes utilizadores mais jovens são, aparentemente, menos valorizados". Por isso sublinha que a plataforma é capaz de fazer melhor se tornar esta proibição global e se deixar de hiperpersonalizar o feed “For You” por defeito, permitindo que os utilizadores escolham – com base no seu consentimento informado e através de uma linguagem percetível para crianças e jovens – se querem um feed personalizado nas suas definições.
Recorde-se que em 2023, a Amnistia Internacional publicou dois relatórios que destacam os abusos sofridos por crianças e jovens que utilizam o TikTok. Um dos relatórios, “Driven into the Darkness: How TikTok Encourages Self-harm and Suicidal Ideation”, mostra como a procura da atenção dos jovens utilizadores pelo TikTok pode agravar os seus problemas de saúde mental, como a depressão, a ansiedade e a automutilação. Outro relatório, “I feel Exposed”: Caught in TikTok’s Surveillance Web“, revela que as técnicas de recolha de dados do TikTok que violam os direitos humanos são sustentadas por práticas prejudiciais de envolvimento dos utilizadores.
TikTok nega ser "espaço tóxico" e salienta trabalho para diversificar visualizações
A plataforma de vídeos TikTok refutou as críticas da Amnistia Internacional, de ser um "espaço tóxico", defendendo o trabalho feito para criar "diversas experiências de visualização" e remover conteúdo que viola as políticas da empresa.
Em resposta, e num curto comunicado atribuído a um porta-voz da plataforma de partilha de vídeos, o TikTok alega que "quando investigadores reviram os vídeos" analisados pela Amnistia Internacional, concluíram que "a maioria dos conteúdos (73%) não estava de todo relacionada com saúde mental".
"Dos vídeos que faziam referência à saúde mental, a maioria centrava-se na partilha de experiências vividas, sem as romantizar", refere o TikTok.
Segundo adianta, "isso demonstra a eficácia do trabalho do TikTok para criar diversas experiências de visualização e, ao mesmo tempo, remover conteúdo que viola as nossas políticas".
Nota da Redação: A notícia foi atualizada com a reação do TikTok
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