A análise realizada pela Tandon School of Engineering, da Universidade de Nova Iorque, demonstra que as regras de campanhas políticas do Facebook têm “falhas sistémicas significantes”. Ao verificar a Ad Library da rede social, os investigadores descobriram uma campanha de desinformação com mais de 375.000 anúncios que não revelavam qual era a entidade responsável pelo seu financiamento.

O documento revela que, entre maio de 2018 e julho de 2019, foram identificadas 68.879 páginas de Facebook com anúncios políticos norte-americanos sem qualquer tipo de informação acerca de quem estaria por trás da sua criação. Ao todo, a publicidade encontrada gerou cerca de 37 milhões de dólares.

Os investigadores avançam também que se depararam com 16 comunidades que gastaram mais de 3 milhões de dólares em quase 20.000 anúncios. O conjunto de páginas de Facebook suspeitas parecia estar interligado, pois promoviam o mesmo tipo de mensagens: tudo isto sem divulgar de forma clara quem estava por trás dos anúncios.

Exemplo de anúncios encontrados pelo estudo
créditos: NYU Tandon

Por exemplo, uma página chamada "Angry Buckeyes” teve, durante dezembro de 2018, um anúncio que incluía um artigo que afirmava que as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump à China poderiam ter consequências negativas para a classe média norte-americana. A mesma publicidade surgiu mais tarde em páginas com nomes como "Union Patriots" e "Middle Class Voices of Pennsylvania".

Os investigadores indicam que a campanha de desinformação identificada tinha como objetivo influenciar os eleitores em determinados estados norte-americanos. Embora não seja possível perceber quem gere as páginas em questão, estas utilizam táticas semelhantes às “troll-farms” russas que surgiram durante as eleições presidenciais de 2016.

Facebook “aperta o cerco” aos anúncios políticos nas suas plataformas
Facebook “aperta o cerco” aos anúncios políticos nas suas plataformas
Ver artigo

As falhas encontradas nas políticas do Facebook levantam questões acerca da preparação da rede social para as eleições presidenciais de 2020. Recorde-se que no verão de 2019, a rede social “apertou o cerco” os anúncios políticos nas suas plataformas depois de algumas entidades utilizarem nomes enganadores nas suas campanhas publicitárias de forma a ocultar a sua identidade.

No início de 2020, a empresa voltou a anunciar a chegada de novas medidas para tentar travar disseminação de informação falsa na plataforma. No entanto, optou por manter a presença de anúncios políticos, mesmo depois de enfrentar o escrutínio do público por permitir intervenções de políticos que se podem constituir como desinformação.