A capacidade do ChatGPT de responder a perguntas sobre várias áreas, criando textos e imagens com base em tecnologia de IA generativa, está a atrair muitos utilizadores ao site da plataforma da OpenAI para experimentarem, desafiarem a inteligência do sistema com perguntas mais ou menos traiçoeiras ou simplesmente obterem respostas rápidas sem terem de passar por várias páginas de resultados de pesquisa nos motores de busca tradicionais. O problema é que nem sempre é fácil de conseguir acesso, devido à elevada procura.
Vitor Pêgas e Marco Albuquerque, dois portugueses com paixão pela tecnologia, decidiram meter mãos à obra e criar um sistema mais fácil para ter acesso ao mesmo modelo do ChatGPT, com o GPT 3, através da integração com o Whatsapp e o Telegram, e deste projeto nasceu o BuddyGPT, primeiro como prova de conceito e depois como uma plataforma com maior ambição.
Existem já várias integrações do modelo em browser e também em plataformas de mensagens para acesso ao ChatGPT, mas esta é a primeira 100% portuguesa de que temos conhecimento, e uma conversa no Messenger permite perceber que há respostas adaptadas à cultura nacional, embora com toques de linguagem de português do Brasil.
Veja as imagens
O BuddyGPT já está disponível para quem quiser experimentar e promete dar espaço a conversas e interações sobre os mais variados temas, com sugestões de receitas, viagens, música e treinos, mas também questões mais sérias, como sugestões de temas para aprender, traduções ou marketing. As limitações são semelhantes às que têm sido identificadas nos modelos da OpenAI, nomeadamente da contextualização das perguntas e também do tempo, já que a base de dados refere a março de 2021 e não tem informação sobre acontecimentos mais recentes.
Se perguntar sobre novas tecnologias e produtos, como o Galaxy S23 ou o iPhone 14, não vai ter resposta, nem sobre as últimas contratações no futebol. E se quiser saber se a Turquia é um destino seguro para viajar em férias a resposta vai ser positiva, ainda sem os impactos dos recentes terramotos que têm causado a destruição e perdas de milhares de vidas.
Texto, imagens e os números do Euromilhões, mas com mensagem de alerta
Quem começa a usar o BuddyGPT no WhatsApp ou no Messenger recebe uma primeira mensagem personalizada em várias línguas, convidando à interação sobre os temas mais diversos. Pedir receitas com base num ingrediente, recomendações sobre viagens e até anedotas são tarefas que a IA completa de forma fácil, mas na interação sobre temas concretos já recebemos várias respostas incorretas, o que também acontece no ChatGPT.
Tal como na aplicação da OpenAI, o contexto é relevante, sendo as respostas apresentadas em forma de conversa, com textos fluídos e estruturados. Como “parou no tempo” em 2021 há muita informação em falta, mas uma das principais preocupações está ligada à falta de apresentação das fontes de informação. Todas as respostas são apresentadas como factuais, e se não forem questionadas podem ser fonte de erro. Para o CPT 3 o presidente do Brasil é ainda Jair Bolsonaro e o Sporting está à frente na classificação da I Liga portuguesa.
Mas se perguntar pelos números para ganhar o Euromilhões, o BuddyGPT é mais cauteloso, e lembra que "Não é possível prever os números vencedores do Euromilhões. A única maneira de ganhar é jogar e ter sorte". Mesmo assim, se insistir e pedir 5 números ele acaba por responder. Usá-los ou não é à responsabilidade de quem aposta.
Para além de texto, o BuddyGPT também pode gerar imagens com base no DALL·E, e para criar novas imagens basta escrever “/image texto” para ter uma resposta rápida.
Uso gratuito para sempre, mas com limitações
Por enquanto a equipa do BuddyGPT só fez ainda um soft launch, com divulgação restrita, mas já está a receber bom feedback de quem utilizou a aplicação, com mais de 3.300 pedidos diários e mais de 2 mil utilizadores únicos.
A ideia está também a transformar-se em negócio e no site é possível perceber que, para além do modelo gratuito, que tem limitação de número de mensagens, há três pacotes diferentes que podem ser subscritos e pagos através do PayPal. E quem quiser um plano alternativo pode entrar em contacto com a equipa.
No site está claro que pretendem manter “para sempre” uma versão grátis, mas quem não quiser ter limites pode optar por pagar 1,99 euros por dois dias, 3,99 euros por mês para mensagens ilimitadas ou 5,99 euros por mês para mensagens de texto ilimitadas e 50 imagens.
“A API não é de borla e criámos diferentes planos para monetizar a aplicação”, explicou ao SAPO TEK Marco Albuquerque, que vê potencial de crescimento nesta aplicação e que pretende também ter integração no Discord.
O BuddyGPT está a usar a API Davinci, a mais completa dos quatro modelos de linguagem disponibilizados pela OpenAI mas não a mais rápida, e ainda o modelo de imagem DALL·E, que tem três possibilidades de resolução das imagens, com custos diferentes.
Vitor Pêgas, que tem a seu cargo o desenvolvimento técnico, admite que há muitas áreas de evolução possíveis, mas que a ideia é ir respondendo ao que os utilizadores precisam, mantendo o foco. Ao SAPO TEK adianta que o BuddyGPT é totalmente escalável e que está suportado em AWS, funcionando como uma ponte entre a API da OpenAI e o Whatsapp ou o Telegram.
As vantagens de ter o BuddyGPT nas plataformas de mensagens passam por não ter de esperar que exista disponibilidade para aceder ao ChatGPT, que tem uma capacidade limitada a pedidos, e também de ultrapassar limitações que existem em algumas redes empresariais, impostas por VPNs.
Questionados pelos SAPO TEK sobre a forma como são tratados os dados, e a privacidade das comunicações com a plataforma de IA, a equipa do BuddyGPT admite que a plataforma funciona apenas como uma ponte entre a API da OpenAI e os serviços de mensagens. O serviço só recolhe o ID do Whatsapp e do Telegram e não fica com o número de telefone nem com dados de comunicações, textos ou imagens.
“Não há problemas de privacidade, é a mesma coisa que aceder manualmente ao ChatGPT, não acrescentamos nenhum layer adicional”, assegura Marco Albuquerque.
Para esta fase inicial a recetividade dos utilizadores tem sido positiva, e Vitor Pêgas destaca também a facilidade de interagir com pessoas de qualquer idade, mesmo sem conhecimentos técnicos, bastando usar a aplicação de mensagens para obter uma resposta.
A equipa quer ainda adicionar mais informação ao site, e mais línguas para além do português e inglês, o que permitirá chegar a novos mercados. O BuddyGPT responde em qualquer língua mas estas não estão ainda com informação no site.
O objetivo é completar também as mensagens com a explicação das limitações da ferramenta e mais algumas instruções, como por exemplo a forma de limpar o contexto das conversas anteriores, que pode ser feito com a instrução “/start”.
O futuro passa pela integração com o Discord, que já está a ser pensada, mas Vitor Pêgas e Marco Albuquerque querem para já consolidar o trabalho feito no BuddyGPT e acompanhar os desenvolvimentos futuros da ferramenta.
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