Estamos a observar uma transformação da sociedade perante a tecnologia de inteligência artificial. Nos últimos dois anos, os modelos de IA têm evoluído, sendo cada vez mais sofisticados, capazes de ajudar em diversas tarefas, seja a nível profissional como pessoal. Um dos grandes dilemas que se tem debatido é até que ponto a IA vai começar a substituir os empregos e quem é mais afetado.

Foram publicados estudos em que as mulheres estariam a ocupar 80% dos cargos em risco pela inteligência artificial, como foi apontado por um estudo da Goldman Sachs em março de 2023. Dois anos depois, os dados ainda não foram atualizados, mas como aponta o Computer Weekly, baseado num estudo da Code First Girls de 2024, o facto das mulheres continuarem a ocupar cargos vulneráveis, não parece que muito tenha mudado. As tarefas administrativas rotineiras, a composição de documentos, o melhoramento de processos da equipa, entre outras tarefas semelhantes são as que podem ser substituídas pela inteligência artificial.

Tendo em conta estes dados, esta semana a Harvard Business School publicou um novo estudo que se foca na adoção da inteligência artificial pelas mulheres. Este indica que as mulheres estão a adotar a tecnologia de IA generativa a um ritmo significativamente inferior que os homens. E aponta que em muitos casos as mulheres questionam a ética de utilizar estas ferramentas.

O estudo, liderado pelo professor de Havard, Rembrand Koning, aponta a relutância das mulheres em abraçar a nova tecnologia de IA. Segundo os dados, a adoção das ferramentas pelas mulheres está abaixo em 25% dos homens, “apesar do facto de que os benefícios da IA podem aplicar-se igualmente a homens e mulheres”, disse o professor.

Quem tem mais competências digitais? Mulheres ganham em nova ferramenta de diagnóstico
Quem tem mais competências digitais? Mulheres ganham em nova ferramenta de diagnóstico
Ver artigo

O medo de serem julgadas no local de trabalho por dependerem dessas ferramentas é um dos motivos pela falta de adoção. Isso pode prejudicar as empresas no ganho de produtividade se as mulheres continuarem a evitar a IA, além de poderem ficar atrás na construção de habilidades valiosas necessárias para o sucesso. E isso pode aumentar ainda mais a diferença dos salários e oportunidades de carreira que ainda persistem.

Os investigadores compararam a forma como os homens e mulheres utilizam ferramentas de IA generativa como o ChatGPT e o Claude. Foram examinados 18 estudos que envolveram mais de 140 mil estudantes e trabalhadores, entre eles donos de negócios, analistas de dados, developers de software e em cargos executivos de vários países, incluindo Estados Unidos, Suécia, México, China e Marrocos.

Num dos exemplos, num dos estudos do Banco de Reserva Federal de Nova Iorque, metade dos homens utilizavam IA nos últimos 12 meses, mas as mulheres, apenas um terço. Os investigadores dizem que na maioria dos estudos analisados, a quota de adoção pelas mulheres das ferramentas de IA era de 10 a 40% inferior que a porção dos homens. Nos dados agregados, estima-se que a diferença chega a 25%.

Apenas num único estudo é apontado a tendência de as mulheres utilizarem mais IA que os homens, e apenas 3%, na Boston Consulting Group. A explicação deve-se às mulheres que estão m ais expostas às ferramentas tecnológicas estão mais confortáveis em utilizá-las.

Tecnologia em Portugal: Sector reduz trabalho híbrido, abranda nos aumentos e continua a pagar pior às mulheres
Tecnologia em Portugal: Sector reduz trabalho híbrido, abranda nos aumentos e continua a pagar pior às mulheres
Ver artigo

É ainda apontado uma estatística relacionada com o acesso mensal do website do ChatGPT. Entre novembro de 2022 e maio de 2024, as mulheres somaram apenas 42% da média de utilização dos cerca de 200 milhões de utilizadores mensais.

Outro estudo analisado focou-se numa sondagem no Quénia, de 17 mil empreendedores, homens e mulheres, que foram convidados a utilizar o ChatGPT e receberam instruções de como poderiam utilizar a tecnologia. Ainda assim, o desequilibro manteve-se, com 13% das mulheres menos interessadas em usar a tecnologia. “Mesmo com a oportunidade igualizada na utilização do ChatGPT, as mulheres são menos prontificadas a utilizar a ferramenta, o que é chocante”, disse o professor Rembrand Koning.

Além dos receios dos potenciais custos de depender de informação gerada por IA, “podem estar preocupadas que alguém pense que mesmo se souberem a resposta correta, estas fizeram batota ao utilizar o ChatGPT”, aponta o investigador.