Manuais em papel ou em formato digital? Está em curso um projeto-piloto para a utilização de manuais digitais pelo Ministério de Educação, com o objetivo de substituir os convencionais livros de papel por computadores e tablets. O projeto engloba mais de 23 mil alunos compreendidos entre o 3º ao 12ºano, executado em 160 escolas.

O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida já promoveu uma proposta para a regulação do uso de smartphones nas escolas portuguesas e espelha o descontentamento dos pais, professores e alunos integrados no projeto, avançando também com uma petição contra a excessiva digitalização dos manuais escolares que já conta com mais de 4855 assinaturas.

"Precisamos de regulamentação que venha do Governo com a atualização do estatuto do aluno, quanto ao uso de smartphones"
"Precisamos de regulamentação que venha do Governo com a atualização do estatuto do aluno, quanto ao uso de smartphones"
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O projeto-piloto já está no quarto ano de implementação e o Movimento queixa-se da falta de relatórios de avaliação da eficácia e sucesso, assim como os critérios utilizados na avaliação. Refere que o único relatório foi apresentado em 2021, realizado pela Universidade Católica Portuguesa, onde apenas 38% dos pais têm uma perceção positiva e 29% dos professores também concordam com as vantagens dos manuais digitais. Ou seja, 62% dos pais e 71% dos professores não estão satisfeitos com este novo paradigma.

Para colmatar a ausência de dados de evolução do programa desde 2021, o Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida realizou um inquérito sobre as perceções dos Encarregados de Educação de alunos que estão a participar no programa, decorrido entre fevereiro a maio de 2024. O estudo e aprendizagem no digital, as distrações pelo uso de internet, a segurança na navegação, os gastos relacionados com a manutenção e a satisfação geral na participação foram algumas das perguntas realizadas.

Foram recolhidas 462 respostas válidas relacionadas com alunos de 70 localidades do norte a sul do país e ilhas, de todos os anos de escolaridade abrangidos pelo programa. A resposta parece não espelhar dúvidas: 90% dos encarregados de educação preferem os livros em papel, justificando uma maior concentração no estudo. Apenas 8% preferem os manuais digitais e 2% não mostraram preferência.

Mais de metade afirmam que os seus filhos têm maior dificuldade de aprendizagem com os manuais digitais, por reterem menos informação. E cerca de 33% dos pais dizem continuar a comprar os livros em papel quando têm a possibilidade. Sobre as distrações, 41% dizem que os vídeos, jogos e redes sociais desviam os alunos do objetivo. 34% dos pais afirmam que os seus filhos não gostam de estudar no formato digital e 11% acreditam que os seus filhos não têm problemas assinalados.

O inquérito confirma também a pouca informação dos pais relativa aos filtros que diminuem a exposição a conteúdos inapropriados. 49% nunca testaram o equipamento dos seus filhos e dos 51% que testaram, 14% verificaram que os computadores não tinham esses filtros. As avarias dos equipamentos que foram reportados causaram transtornos aos encarregados de educação, com um quarto a referirem os gastos em reparações e muitos alunos que ficaram sem meios de aceder aos manuais digitais.

A nível global, 85% dos pais estão insatisfeitos com o programa-piloto e gostariam que este terminasse. Apenas 15% permanecem com opinião positiva, quatro anos depois do início do projeto de trocar manuais digitais pelos livros físicos.