Hoje assinala-se o Dia Internacional da mulher, uma data que relembra os feitos, a resiliência e a audácia das anteriores gerações de mulheres e que inspira as mais novas a seguirem por caminhos nunca antes trilhados, assim como a lutarem pela igualdade de género.
Apesar dos esforços que têm sido feitos nos últimos anos, a falta de mulheres nas áreas das Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática (CTEM) continua a levantar preocupações por todo o mundo e Portugal não é uma exceção à regra.
Em linha com as palavras de Luísa Ribeiro Lopes, presidente do .pt e coordenadora do Eixo da Inclusão da Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030, Portugal INCoDe.2030, numa recente entrevista ao SAPO TEK a propósito do Dia internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, os preconceitos e estereótipos continuam a afastar as mulheres e, no nosso país, existem poucas jovens a ingressar em cursos científicos e tecnológicos.
Olhando para a Europa, os mais recentes dados do índice do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE na sigla em inglês), revelam que apenas 20% dos total de graduados no sector das Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) são mulheres. O relatório destaca que a percentagem de mulheres em cargos da área é 18%, o que equivale a um decréscimo de quatro pontos percentuais desde 2010.
Para dar resposta a este problema têm surgido diversas iniciativas que procuram fomentar o talento feminino e apresentar-se como uma oportunidade para as mulheres transformarem a sua vida através da tecnologia: de bolsas de estudo a formações.
Ao SAPO TEK, Ana Almeida, Kika Barreto e Cinthia Blois contaram que, através de um curso intensivo de nove semanas na escola tecnológica Ironhack, conseguiram demonstrar que é possível quebrar preconceitos e encontrar uma carreira de sucesso na tecnologia, independentemente do seu percurso anterior.
Para Ana, que se licenciou em Gestão Hoteleira e chegou a trabalhar no setor no Reino Unido, a pandemia de COVID-19 fez com que tivesse de considerar um novo rumo profissional, assim como o regresso a Portugal. Um anúncio sobre as bolsas de estudo Women in Tech da Ironhack acabou por despertar o seu interesse, abrindo-lhe a porta a um bootcamp de Web Development.
Já na área das ciências sociais, Kika pensou em continuar a sua jornada pelo mundo académico após a conclusão de um mestrado em Antropologia. Porém, numa conferência de Antropologia Aplicada, descobriu a área do User Experience (UX) Design, onde “existia todo um campo de oportunidades num mercado que tinha a ideia de criar uma ponte entre as ciências sociais e o mundo mais tecnológico”.
Entre eventos e meet-ups, o interesse foi crescendo e, no início de 2019, participou na UX Week da Ironhack. A abordagem da escola em relação à temática e o seu ambiente multicultural foram desde logo dois aspetos que lhe chamaram a atenção e que a incentivaram a ingressar no bootcamp em UX Design.
Cinthia dedicou o seu percurso à Física, com um mestrado feito no Brasil e, mais tarde, tendo começado um doutoramento que não chegou a concluir, pois a instabilidade do meio fez com que se sentisse desanimada com a vida académica.
Em busca de um caminho mais estável, escolheu uma área com a qual já tinha alguma familiaridade: Data Analytics. Ao analisar as propostas oferecidas por vários cursos, Cinthia deparou-se com o bootcamp da Ironhack, que, a seu ver, era o que continha uma estrutura que seria capaz de a preparar para o mercado de trabalho e, assim, decidiu tomar a decisão que mudaria o rumo da sua vida.
Perder o medo, avançar e ganhar “superpoderes”
Para as três mulheres, o começo do novo percurso ficou marcado por algum receio. “A proposta do bootcamp pode parecer muito estranha: em nove semanas vais aprender tudo e pelo menos ter as bases para trabalhar nessa área. No início eu tinha algum ceticismo e não sabia se ia ser bem assim”, admite Kika.
A inquietação também foi partilhada por Cinthia, que receava não conseguir lidar com tanta informação em tão pouco tempo. No caso de Ana, que começou o curso em modo online já em contexto de pandemia, a falta de ligação física com os restantes participantes era uma das suas preocupações.
“Acontece que quando entras na Ironhack, eles dizem-te «trust the process» e é bem isso”, afirma Cinthia. “O bom do bootcamp é que ele aprofunda naquilo que é o mais essencial e te dá uma visão panorâmica de todas as possibilidades”.
“Claro que em nove semanas não aprendes tudo, porque isto são áreas que estão em constante evolução e é preciso continuarmos a estudar para melhorarmos as nossas competências, mas eu fiquei muito surpreendida com o que fomos capazes de aprender”, reconta Kika.
Além de destacarem a adaptação do currículo dos cursos ao que está a ser pedido no mercado, tanto Cinthia como Kika apontam uma grande diferença em relação à sua experiência no meio académico: o facto de permitirem uma abordagem mais “hands on”, seguindo o mote de “aprender fazendo”.
“Foi muito intenso, mas foi também muito gratificante”, sublinha Ana. “Para mim, que tirei Web Development, cheguei ao final e conseguia construir as minhas próprias aplicações e tinha as bases para me desenvolver noutras áreas: é um «superpoder» que o curso me deu”.
Quebrar preconceitos num panorama ainda desigual
Depois de concluírem o curso as três ex-alunas conseguiram encontrar trabalho nas suas respetivas áreas e Ana até o fez logo uma semana após ter terminado o bootcamp.
Embora se considerem “sortudas” por ainda não terem sentido qualquer tipo de discriminação laboral, reconhecem que o panorama nem sempre é assim para todas as mulheres, seja dentro ou fora do mundo da tecnologia. Aliás, Cinthia recorda que foi no meio académico onde sentiu que, por ser mulher, os seus professores não davam tanta importância ao seu trabalho nem validavam as suas dúvidas.
Mudar o mundo e atingir o patamar da igualdade de género é um processo que se afigura longo e complexo. Quebrar preconceitos e estereótipos é essencial: “Nós somos todos humanos, cada um tem as suas qualidades e isso não está necessariamente ligado ao seu género”, defende Kika.
Aos olhos das ex-alunas, os cursos intensivos e as iniciativas de incentivo à aprendizagem feminina são uma boa forma de ajudar as mulheres a encontrar a sua voz, em particular, aquelas que, apesar de terem interesse na área das CTEM, foram pressionadas a escolher um percurso diferente das suas verdadeiras ambições.
Aqui, as bolsas de estudo para mulheres afirmam-se também como uma grande oportunidade, permitindo “incentivar mulheres que não tiveram essa motivação por parte da família ou que sentiram algum preconceito ao longo da sua vida escolar”, enfatiza Cinthia.
Ana realça que as empresas devem ter uma maior consciência de que existem mulheres com percursos diferentes, sabendo valorizar o talento feminino que chega do meio académico tradicional, como aquele que surge através de cursos profissionais intensivos. “[As empresas] têm de abrir mais as portas a ideias diferentes. Se estivermos mais abertos aos diferentes tipos de experiências que existem e ao que elas podem trazer, isso vai tornar o mundo da tecnologia muito melhor”.
A pensar em todas as mulheres que estão a considerar transformar a sua vida através da tecnologia, mas que ainda sentem algum receio, Ana, Kika e Cinthia deixam uma mensagem de esperança, incentivando-as a arriscar e a seguir aquilo em que acreditam, por mais difícil que possa parecer.
“'Vai de cabeça' e dedica-te a 100% que só vais recolher coisas boas”, afirma Cinthia.“Nós fomos surpreendidas com a Ironhack e com aquilo que conseguimos fazer. Podes surpreender-te com as tuas capacidades e até descobrir competências que nem sabias que tinhas”, acrescenta Kika.
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