A Microsoft fechou o negócio de aquisição da Activision Blizzard, transformando a tecnológica numa das principais potências de gaming, logo a seguir à Tencent e Sony. Uma das principais preocupações do regulador britânico da concorrência (CMA) neste negócio era a posição da gigante de Redmond no mercado de cloud gaming, se adicionasse exclusivamente no seu serviço títulos como Call of Duty. Em resposta, a Microsoft basicamente passou os direitos completos do cloud gaming à Ubisoft para o mercado britânico durante os próximos 15 anos.
Ainda não existe um verdadeiro mercado de cloud gaming. Existem serviços disponíveis, mas o chamado Netflix dos videojogos ainda está nos seus primórdios, mesmo com as ligações mais rápidas. O Google Stadia provou que tecnologicamente o serviço era excelente, mas falhou a entregar um serviço cativante, capaz de amealhar subscritores que tornasse o negócio viável e acabou por encerrar.
As produtoras e editoras ainda estão renitentes sobre a perda das receitas relativas às vendas diretas, da forma tradicional, dos seus novos jogos e dificilmente os disponibilizam nestes serviços. Veja-se o exemplo da Sony, que foi pioneira no mercado, depois de ter adquirido os primeiros serviços que testaram as águas, como o Gaikai por 301 milhões de euros e depois o Onlive.
O serviço PlayStation Now foi limitado a jogos de catálogo, ou seja, títulos com mais anos que já não tinham força no mercado, assim como o acesso a propostas de anteriores gerações das suas consolas. Atualmente, o serviço foi integrado no patamar premium da subscrição PS Plus e praticamente ninguém fala nele.
Veja na galeria imagens do Xbox Cloud:
A Microsoft chegou bem mais tarde, mas mergulhou de cabeça, começando por adquirir a PlayFab em 2018 para criar divisão de cloud gaming. E adicionou o serviço como um extra ao seu serviço de subscrição Xbox Game Pass e em apenas um ano duplicou a sua quota, sendo a líder de mercado.
E aqui não existem distinções, os jogos compatíveis podem ser jogados tanto em cloud como por download e instalação, permitindo manter o progresso entre as diferentes plataformas. Por exemplo, se começar a jogar um Assassin’s Creed Valhalla instalado na Xbox, pode continuar a jogar no PC em cloud (na altura até no Stadia via Ubisoft Connect, se tivesse adquirido também esta versão).
Ou seja, o serviço está atualmente mais amadurecido. O gaming em cloud tem servido de bandeira a muitas ofertas 5G, pela rapidez e baixa latência das ligações. Mas continua a ser uma tecnologia complexa. É fácil comparar o que estes serviços se propõem a fazer para o cloud gaming com o que a Netflix, HBO e outros fazem para o vídeo e séries. Mas a grande diferença é que estes são consumidos de forma passiva, ou seja, os utilizadores recebem apenas o sinal da streaming.
O gaming é algo interativo: os jogadores recebem a informação processada em máquinas remotas em streaming via cloud e devolvem com inputs. Logo, o sinal é bidirecional, obrigando a latências próximas do zero para podermos ter uma experiência de jogo comparável a um título instalado, seja a nível de fluidez, resolução e detalhe gráfico.
Para melhor compreender as diferenças entre serviços de cloud gaming, os serviços de distribuição digital, as respetivas vantagens e desvantagens, preparámos um pequeno explicador sobre o assunto.
O que é o cloud gaming?
Talvez a melhor forma de compreender o conceito de cloud gaming é comparar diretamente com os serviços de streaming de vídeo, como o Netflix, Disney+, HBO e outros. Nestes serviços, os filmes são acedidos instantaneamente, sem necessidade de download, da mesma forma que os jogos estão alocados numa cloud, a serem processados numa máquina nos servidores do fornecedor.
Do lado do utilizador apenas necessita ter uma ligação (muito rápida e estável) à internet e um equipamento que possa receber o sinal da streaming e compatibilidade com um comando: uma Smart TV, um smartphone, portátil, consola, etc. O jogo é “renderizado” e jogado num servidor remoto, mas o jogador interage com os comandos localmente no equipamento.
Qual a diferença entre o cloud gaming e a distribuição digital?
Ambos estão disponíveis digitalmente online. Na distribuição digital, como por exemplo, o Steam no PC, PlayStation Network ou Game Pass na Xbox, os jogadores adquirem o jogo, mas necessitam de fazer o seu download e respetiva instalação para jogar.
No cloud gaming, os jogos são processados remotamente. Os jogadores só precisam de iniciar os jogos dos seus equipamentos, sem a preocupação de verificar se tem as especificações necessárias para o correr. Pode, por exemplo, jogar um jogo como Assassin’s Creed Valhalla num smartphone, com uma qualidade muito próxima a uma consola de nova geração, apenas em stream.
O que é preciso para jogar jogos em cloud? Vantagens e desvantagens
Uma das grandes vantagens do cloud gaming é poder jogar em praticamente qualquer equipamento que possa instalar as respetivas aplicações de acesso aos serviços e ligar um comando. Por exemplo, um computador portátil muito antigo, obsoleto para jogar um título recente, pode simplesmente ligá-lo online, conectar um comando e jogar no seu ecrã qualquer jogo disponível no serviço. Seja um PC, um smartphone, uma consola, uma Smart TV que não tenham sido construídos para cloud gaming podem ser usados desde que se possa aceder às aplicações e obviamente tenham acesso à internet.
Este mercado tem incentivado as fabricantes tecnológicas a lançarem consolas portáteis otimizadas para jogar exclusivamente em cloud, que servem de contraponto às poderosas Steam Deck, Asus ROG Ally ou a Lenovo Legion Go que fazem processamento. Para cloud gaming vai encontrar a Razer Edge com uma versão que suporta 5G ou a Logitech G Cloud.
São consolas que apesar de não ter um grande poderio de processamento ou gráfico, apostam as suas fichas em ecrãs de maior qualidade, elevadas taxas de refrescamento e cor, assim como ligações à internet mais rápidas. A Qualcomm já compreendeu o potencial do mercado das portáteis e lançou linha de processadores tanto para consolas que correm jogos localmente ou em cloud.
Ou em alternativa pode adquirir comandos que encaixam nos smartphones, transformando-os em consolas de jogos. O potencial para jogar em cloud é enorme.
A Sony também vai lançar o periférico PlayStation Portal, mas decidiu não suportar o seu serviço de cloud gaming. Será para jogar em modo Remote Play, ou seja, terá de ter uma ligação Wi-fi doméstica à PS5/PS4 para jogar qualquer título a correr na consola e a ser transmitido remotamente para o Portal.
A grande desvantagem de jogar em cloud é que está sempre dependente de uma ligação online para jogar, com a melhor velocidade possível e menor latência. Isso quer dizer que a menos que tenha um bom plano de dados para jogar em 4G/5G na rua ou encontre ligações Wi-fi.
Quais são os principais serviços de cloud gaming disponíveis?
Já existem diversas propostas para jogar em cloud, sejam títulos do PC como consolas, que estão para o gaming como o Spotify está para a música e o Netflix para a TV. Atualmente o mais popular é o Cloud Gaming da Microsoft que permite jogar os títulos do Game Pass tanto na consola Xbox, como no PC, smartphones ou Smart TV. O serviço custa 14,99 euros por mês, como parte do Xbox Game Pass Ultimate.
Veja na galeria imagens dos diversos serviços disponíveis de cloud gaming:
A Sony transferiu o seu serviço PlayStation Now para o PS Plus Premium, apresentando um catálogo atual com mais de 340 títulos incluindo propostas da PlayStation original, PS2, PS3 e PSP. O serviço Premium custa 16,99 euros por mês e ainda dá acesso ao catálogo Ubisoft+ Classics.
A Nvidia também entrou no negócio do cloud gaming com o serviço GeForce Now, que tem uma mensalidade a partir de 9,99 euros. A vantagem deste serviço, que permite jogar em qualquer equipamento PC, smartphone, tablet e outros é que transforma os jogos que já tem disponíveis na sua biblioteca em formato streaming.
Ou seja, o serviço não tem jogos disponíveis, mas pode aceder aos jogos que tem na conta do Steam, por exemplo, em cloud. Imagine que adquiriu um título como o Cyberpunk 2077 ou o Far Cry 6 e descobre que não tem especificações para os correr. Através do serviço pode jogá-los em streaming.
O Shadow é outro serviço disponível, que na verdade permite jogar e aceder ao desktop do PC na cloud, por um preço de 9,99 dólares por mês. A Amazon disponibiliza o Luna, o serviço de cloud gaming para PC e Mac. Pode aceder ao serviço gratuitamente se for subscritor do Prime, tendo como vantagem fazer streaming diretamente para a Twitch. O serviço isolado custa 9,99 dólares por mês e apresenta um catálogo de jogos clássicos e algumas novidades. Pode optar pelo serviço premium Ubisoft+ com um custo de 17,99 dólares por mês.
Para jogadores que apreciam o retro gaming, o serviço AntStream oferece um vasto catálogo de jogos clássicos que também pode jogar em qualquer plataforma. Vai encontrar títulos do Spectrum, Amiga, Atari, Game Boy, NES ou mesmo da PlayStation original. Além dos jogos, o serviço oferece torneios e outras funcionalidades para os títulos do catálogo.
Os jogos em cloud e versões digitais vão substituir os jogos físicos no futuro?
É uma pergunta difícil de prever. Olhando para a música, apesar do digital estar acessível a todos, continua a haver uma grande procura dos discos físicos. A maioria dos jogadores que consomem videojogos atualmente ainda tendem a investir em cópias físicas, pela componente de colecionismo e também o materialismo de ter algo palpável nas suas estantes. Mas à medida que os anos passam, o digital continua a ganhar dimensão, veja-se o peso que o Steam tem na indústria nos últimos 20 anos.
As editoras têm de continuar a satisfazer os canais de retalho e por isso, mesmo que vendam caixas de jogo sem um disco físico, poderão ter no interior um código para o resgatar online. Por isso, mais que substituir, irá continuar a complementar a oferta. Há jogadores que querem jogar no primeiro minuto de lançamento e fazem a compra online, outros preferem ir à loja buscar o seu exemplar para coleção. E o cloud gaming embrulha a oferta, podendo também servir como uma espécie de demonstrações que os jogadores usam para decidir se compram ou não a versão física.
Ao comprar um jogo é possível acedê-lo em cloud gaming?
Tudo depende do serviço. Se comprar um jogo em versão digital no Steam, Epic Games, Ubisoft, Electronic Arts ou GoG pode depois usar o serviço de cloud gaming GeForce Now para jogá-lo em qualquer lugar em streaming. No serviço Luna pode conectar a conta da Ubisoft e aceder à biblioteca de jogos que adquiriu em cloud também.
Os jogos que adquiri no serviço de streaming Stadia da Google ficaram inacessíveis depois do seu encerramento?
Sim. Os jogadores que compraram individualmente os jogos para a sua coleção no Stadia ficaram sem acesso aos mesmos depois do serviço ter sido encerrado pela Google. Mas a empresa procedeu ao reembolso de todos os jogos vendidos aos seus utilizadores.
Ainda assim houve muitas editoras que ofereceram programas de migração do progresso nos seus jogos caso decidissem adquirir versões digitais em outras plataformas. E outras disponibilizaram, por cortesia, versões digitais de PC sem custos adicionais para o jogador, como foi o caso da Ubisoft. Nenhum outro serviço de cloud gaming está a vender diretamente jogos unitários na sua plataforma, pelo que o que aconteceu com o encerramento do Stadia parece ter sido um caso isolado.
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