Desde que o rover Perseverance chegou a Marte, no dia 18 de fevereiro, tem vindo a partilhar fotografias e a recolher amostras do solo, como parte da sua grande missão de exploração do planeta vermelho. Mas algo que o veículo tem vindo a fazer é procurar o melhor lugar para que o seu companheiro Ingenuity possa “abrir asas” e levantar voo.

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O pequeno helicóptero vai realizar uma missão de demonstração, sem qualquer objetivo científico senão provar que é possível voar em Marte e recolher dados sobre o comportamento de uma aeronave noutro planeta. A NASA revelou que o Ingenuity vai tentar voar a partir do dia 8 de abril (nunca antes), e pode fazer história na primeira tentativa de um voo controlado em outro planeta. Mas para isso, tanto a equipa como o pequeno equipamento precisam ultrapassar uma série de objetivos complexos, diz a agência espacial.

De recordar que a atmosfera fina de Marte torna complicado obter sustentação para um qualquer objeto. Como a atmosfera do planeta vermelho é 99% menos densa que a da Terra, o Ingenuity precisa de ser leve, com pás de rotor muito maiores e que giram muito mais rápido do que seria necessário para um helicóptero com a mesma massa na Terra.

Escrever um novo capítulo histórico

No passado dia 21 de março, o rover já instalou um escudo em grafite que vai proteger o seu companheiro voador durante a aterragem. Nesta altura, o Perseverance ainda está a caminho para o local escolhido para o teste de voo do Ingenuity. A partir do momento que for libertado do rover, o helicóptero terá 30 dias marcianos (31 dias terrestres) para conduzir a sua campanha de voo. Esta aventura pelo ar é vista pela NASA como a primeira vez que provou, com o rover Sojourner em 1997, que era possível circular pelo planeta vermelho. Agora, o mesmo conceito é aplicado ao voo e “se for bem-sucedido, poderá expandir os nossos horizontes daquilo que é possível com a exploração em Marte”, salienta a agência espacial.

É explicado que durante o dia, a superfície do planeta recebe apenas metade da quantidade de energia solar que chega à Terra. E durante a noite, as temperaturas podem descer até menos 90 graus Celsius, capaz de congelar e rachar qualquer componente elétrico que não esteja protegido. Para sobreviver a essas noites frias, deve ter energia suficiente para alimentar os seus aquecedores internos.

O sistema foi testado até à exaustão na Terra, no Jet Propulsion Laboratory da NASA. Bob Balaram, engenheiro-chefe do projeto Ingenuity, refere que há seis anos que tem vindo a explorar território desconhecido na história da aviação. “E considerando que conseguir libertá-lo na superfície vai ser um grande desafio, conseguir sobreviver à primeira noite em Marte sozinho, sem a proteção do rover e manter-se alimentado, será ainda maior”.

Processo de lançamento do Ingenuity demora seis dias

A NASA escolheu um local direito na cratera de Jezero para servir de base de lançamento do helicóptero, com 10 metros quadrados. Quando o rover chegar ao local inicia-se o processo de lançamento do veículo voador. “Uma vez iniciado o processo de lançamento não há volta a dar. Todas as atividades estão coordenadas e são irreversíveis, dependentes umas das outras”, salienta Farah Alibay, responsável pela integração entre o rover e o helicóptero. Refere ainda que caso não sintam que algo não está a seguir o plano traçado, poderão esperar mais um dia ou mais para o seu lançamento, até terem a certeza do que se está a passar.

O processo de lançamento do helicóptero vai demorar cerca de seis "sols" (seis dias e quatro horas da Terra). No primeiro dia a equipa na Terra vai desbloquear o mecanismo que segura o helicóptero no rover. No dia seguinte, inicia-se o processo de rotação do braço mecânico do rover que segura o Ingenuity, para começar a girar o helicóptero da sua posição horizontal. Serão ainda estendidas duas das quatro pernas de aterragem.

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No terceiro dia, um pequeno motor elétrico vai finalizar a rotação do Ingenuity até ser lançado, trazendo o helicóptero para a sua posição vertical. No quarto dia, as restantes duas pernas de aterragem abrem-se. A NASA refere que em todos os quatro dias vão ser captadas fotos com o sistema WATSON de confirmação das suas ações, enquanto o aparelho se coloca na posição da sua configuração de voo. Na sua posição final, o Ingenuity vai estar suspenso a cerca de 13 centímetros do solo marciano. E nessa fase, apenas uma única cavilha e uns quantos pequenos contactos elétricos vão manter o helicóptero ligado ao Perseverance.

No quinto dia, a equipa terá a última oportunidade para utilizar o Perseverance como fonte de energia e fazer o carregamento final das seis células de bateria do Ingenuity, e fazê-lo descer totalmente ao solo. Depois de cortar o “cordão umbilical” com o rover, o veículo tem de sair rapidamente do local para captar os raios do Sol no seu painel solar para começar a carregar as baterias.

Por fim, no sexto e último dia da programação da fase de lançamento, a equipa necessita de confirmar três coisas: que as quatro pernas do helicóptero estão firmes na superfície da cratera de Jezero; depois que o rover se tenha afastado cerca de cinco metros do local; e que tanto o rover como o helicóptero mantenham a comunicação através dos seus rádios nos circuitos.

Esta fase dá então início à jornada de 30 dias da missão. Quando a equipa estiver pronta para tentar o primeiro voo, o Perseverance vai receber e transmitir as instruções finais da equipa na Terra para o helicóptero.

E no que consiste o voo? O helicóptero vai subir a uma velocidade de cerca de 1 metro por segundo e vai voar a 3 metros acima da superfície ate 30 segundos. Depois, o aparelho vai descer e voltar à superfície do planeta. Algumas horas depois do primeiro voo, o Perseverance vai transmitir os primeiros dados de engenharia do helicóptero, e caso seja possível, imagens e vídeo das câmaras de navegação do rover e da Mastcam-Z. Apenas depois da análise desses dados e imagens será possível a equipa determinar se o voo em Marte foi bem-sucedido. A partir daí, serão analisados os dados para decidir os movimentos da próxima fase.

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