O Aeros MH-1 marca o regresso de Portugal ao espaço, 30 anos depois do lançamento do PoSAT-1 e é apontado como um primeiro passo de uma estratégia mais abrangente. "Estas imagens representam mais um passo na capacidade de observação do Oceano Atlântico por Portugal, que irá permitir uma análise detalhada do ecossistema marinho e dos padrões climáticos", referem as duas entidades, em comunicado, apelidando este passo como um "marco importante".
A missão do Aeros MH-1 é estudar os oceanos e enviar as imagens recolhidas para um centro de operações instalado na ilha de Santa Maria, sendo depois tratadas em Matosinhos.
Veja as primeiras imagens captadas, da Polinésia Francesa, do Grande Lago do Urso do Canadá e do ocidente australiano.
A Agência Espacial Portuguesa refere que "ainda que nenhum dos locais captados seja banhado pelo Atlântico, as imagens servem como primeiro sinal de vida do satélite. Foram captadas pela sua câmara de baixa resolução, cuja função é a de orientação e posicionamento do AEROS MH-1".
Lançado a 04 de março, o nanosatélite estabeleceu comunicações com a Terra através do teleporto de Santa Maria, nos Açores, operado pela empresa Thales Edisoft Portugal, no dia 19 de março.
Posicionado a 510 quilómetros de altitude, ligeiramente acima da Estação Espacial Internacional, a "casa" dos astronautas, o nanosatélite vai observar durante três anos a Terra e o oceano Atlântico em particular.
Veja as imagens do satélite Aeros MH-1
"Esta posição privilegiada permitirá uma análise aprofundada dos fenómenos oceânicos, contribuindo para uma melhor compreensão dos ecossistemas marinhos e dos padrões climáticos", assinalava a Thales Edisoft Portugal em março, a propósito do lançamento.
O MH-1 é um nanossatélite de 4,5 quilos e o nome foi escolhido em homenagem ao antigo ministro da Ciência Manuel Heitor, considerado pelo consórcio como impulsionador do projeto.
Do consórcio nacional do Aeros MH-1 fazem parte várias empresas e instituições académicas portuguesas, às quais se associou o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla inglesa), nos Estados Unidos, através do programa de cooperação MIT-Portugal.
O centro de engenharia CEiiA, em Matosinhos, um dos parceiros e que construiu o nanosatélite, irá processar os dados e as imagens para efeitos de estudos científicos. As universidades do Algarve, Porto e Minho, o Instituto Superior Técnico e o Imar - Instituto do Mar, entre outros, dão o suporte científico à missão.
Pequeno satélite com grandes ambições
Com um investimento de 2,78 milhões de euros, cofinanciado em 1,88 milhões de euros pelo Feder - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, o Aeros MH-1 foi desenvolvido em Portugal numa parceria com mais de uma dezena de entidades, entre elas a Thales e a CEiiA, as universidades do Técnico, Algarve, Minho e Porto, além do MIT. A montagem final foi feita em Berlim, na Alemanha.
Classificado como um nanossatélite, pesa 4,5 kg, tem um corpo de 30 cm de comprimento e 50 cm de largura e vai orbitar a 510 quilómetros de altitude, ligeiramente acima da Estação Espacial Internacional. Viaja à velocidade de 7 km/s, ou seja, dará uma volta à Terra a cada 90 minutos.
Está equipado com uma câmara hiperespectral e um software capazes de “analisar a cor do oceano, identificar as frentes oceânicas, medir a clorofila” ou “realizar correções atmosféricas”, por exemplo. A câmara foi desenvolvida pela portuguesa SpinWorks, uma das empresas do consórcio. “Os detalhes sobre o seu potencial ainda não são conhecidos, uma vez que estas imagens foram captadas pela câmara de baixa resolução. No entanto, podemos esperar uma resolução de cerca de 55 metros por pixel da câmara hiperespectral”, adianta Pedro Nunes.
O satélite tem ainda um recetor de etiquetas de animais marinhos incorporado, que foi fornecido pela dstelecom. A informação recolhida pelo recetor permitirá estudar “a temperatura, humidade, profundidade a intensidade de luz e os movimentos dos animais marinhos através de sensores”, acrescenta o diretor de comunicação da Thales Edisoft Portugal.
Veja o vídeo de apresentação do satélite
A 4 de março, o lançador Falcon 9 da SpaceX levou a bordo o MH-1 e mais 5 dezenas de satélites. A missão Transporter-10 foi a décima da empresa de Elon Musk dedicada a pequenos satélites. A bordo seguiam CubeSats, MicroSats e outros "entregáveis". Até à data a SpaceX já lançou mais de 1.00 pequenos satélites para mais de 130 clientes no programa de "boleias".
Veja as imagens do lançamento
O Aeros MH-1 faz parte do projeto da Constelação do Atlântico que está em curso desde o último trimestre de 2022 e envolve um investimento acima de 200 milhões de euros. Em desenvolvimento está também um novo satélite, o ISTSat-1, que aguarda a estreia do foguetão europeu Ariane 6.
Para Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, a concretização destes dois projetos será fundamental pelo caminho percorrido, “não só ao nível operacional, mas também em todo o processo de licenciamento que, pela primeira vez, acontece em Portugal, em resultado aplicação da legislação nacional para o espaço”. O responsável dis que abrem a porta “para ser tudo mais fácil daqui em diante, nomeadamente para os 30 satélites que Portugal quer lançar até 2026”.
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