O desejo era antigo, mas só foi possível concretizar agora, com a inauguração do ISCTE Conhecimento e Inovação, um espaço que vai reunir todos os investigadores do Instituto Universitário de Lisboa, “forçar” a interação entre diferentes áreas científicas e abrir caminho a mais projetos e resultados que possam nascer desse cruzamento de ideias e experiências.
O edifício foi desenhado para “promover uma investigação sem barreiras dentro do ISCTE mas também na sua ligação ao exterior, para que a cidade possa trazer os seus desafios e os nossos investigadores possam ajudar a resolvê-los” como explica Jorge Rodrigues da Costa, vice-reitor para a área da investigação.
Quase todas as áreas são espaços partilhados, desde as salas equipadas para vários postos de trabalho, prontas a receber investigadores de diferentes equipas, às zonas de convívio. E há várias, entre copas e salas de refeições mais convencionais ou mais descontraídas, como um espaço com um grande ecrã e um pátio convidativo, onde já há mesas e cadeiras à espera de sol que atraia os primeiros interessados.
“Todo o trabalho de investigação, na sua base é disciplinar. A forma como se faz ciência e se produz pensamento é diferente e é por isso que a partilha de espaço é essencial para criar pontos de ligação entre cada uma das áreas”, sublinha Carina Cunha, coordenadora do gabinete de apoio à investigação, que também nos acompanhou na visita. E é essa a premissa na base do projeto, que desde 2018 estava nos planos do ISCTE.
Financiado pelo Lisboa 2020, este investimento de 19,5 milhões de euros responde às necessidades físicas de espaço da instituição, para acomodar o crescimento das várias áreas nos últimos anos, mas é também a oportunidade para concretizar uma estratégia e uma visão diferente sobre a forma de fazer I&D, assente numa lógica, não só de maior proximidade entre investigadores, mas também destes com a própria comunidade.
“O ISCTE é uma composição de áreas científicas que também existem noutras universidades, mas o que sempre nos distinguiu foi esta concentração geográfica e proximidade das áreas, que permite criar sinergias”, reconhece o vice-reitor Jorge Costa.
O modelo tem funcionado no ensino e facilitado inclusive o nascimento de cursos novos, como ciência de dados, que resulta de um “cruzamento” entre a matemática, informática e gestão.
O objetivo é potenciar estas sinergias também na I&D onde, pelo teor do trabalho desenvolvido, estar no mesmo campus não chega para garantir interação. Já estar num mesmo edifício, a partilhar salas de trabalho, de refeições e espaços de lazer vai “forçar” contactos que podem fazer nascer novas ideias, ou dar um rumo diferente às que já existem, acredita-se.
Engenheiros e psicólogos já colaboram para combater discursos de ódio online
Para o novo edifício estão a passar oito centros de investigação, 13 laboratórios e nove observatórios. Editoras e estruturas de apoio à I&D também já ocupam parte dos três pisos, herdados do antigo edifício do IMTT, reconstruido a pensar numa gestão mais eficiente de recursos, como a luz ou a refrigeração, e no conforto de quem lá trabalha. A ruidosa avenida das Forças Armadas, mesmo ali ao lado, perdeu o som e só manteve o movimento, que pode ser apreciado de grandes janelas. Os aviões que sobrevoam a zona deixaram de interromper conversas e palestras, sublinhou-nos também quem já estava habituado ao ruído, mas agora nota a diferença.
Há salas de reuniões, as já referidas salas de trabalho, prontas para ir recebendo os 1.000 investigadores que trabalham com o ISCTE, e salas de aulas, equipadas com tecnologia moderna e prontas para gravar aulas, que podem ser transmitidas para quem acompanha de casa. As aulas dos 25 doutoramentos ministrados no ISCTE também vão passar para ali.
“O doutoramento é a entrada na investigação faz sentido tê-los aqui próximos dos nossos investigadores mais seniores e da nossa comunidade científica”, defende Jorge Rodrigues da Costa. Algumas aulas já são ministradas lá, mas a transição “em peso” acontecerá a partir de fevereiro.
O cheiro a novo e a madeira do edifício e as salas vazias mostram que a transferência ainda está em processo, mas os responsáveis garantem que a estratégia de aproximar áreas de investigação já está a produzir resultados, que agora vão ser exponenciados. Por exemplo, psicólogos e engenheiros trabalham num mecanismo de deteção automática em língua portuguesa e intervenção rápida em discursos de ódio nas redes sociais, para que não se propaguem.
A generalidade das grandes plataformas online já usam este tipo de mecanismos. Este procurará distinguir-se pela língua de base, porque poderá ser usado em diferentes tipos de sites, mas também porque pretende ir além da identificação de palavras e reconhecer sinais de alerta nas subtilezas do discurso.
Este kNOwHATE – Knowing Online Hate Speech, financiado pelo programa europeu Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores, foi aliás um dos projetos em destaque na inauguração oficial do edifício, no final de novembro. Um dia para mostrar à comunidade o que se faz dentro das quatro paredes da instituição, que se quer ver mais repartido , daqui em diante.
Atrair empresas e partilhar recursos de I&D
O objetivo de ligação à comunidade deste novo espaço do ISCTE está previsto por duas vias principais. A primeira é manter as portas do edifício abertas à cidade. Um dos espaços de restauração vai ser concessionado e ter acesso público. Da mesma forma, os dois auditórios existentes e outras salas vão poder receber eventos.
A instituição quer também fazer do ISCTE Conhecimento e Inovação um polo de experimentação para empresas, disponibilizando a sua capacidade de investigação ao mercado, através de novas parcerias. A ideia é atrair para o espaço “pequenos laboratórios de empresas que ali queiram desenvolver os seus protótipos, contando com os recursos de I&D do ISCTE, para encontrar resposta para os seus desafios internos”, revela Jorge Costa.
Como destaca Carina Cunha, “tem de haver espaço para a investigação fundamental, para novas ideias e para as ideias que não vão resultar na nossa I&D, porque os não resultados são muito importantes para a investigação. Muitas vezes não têm palco mas são essenciais para o progresso da investigação”. Mas “também temos de ter investigação aplicada e aí podemos colaborar muito com a sociedade civil e trazer valor acrescentado”, acrescenta Jorge Costa.
“A nossa ideia aqui não é abrir espaço para uma incubadora. Já temos uma. Aqui o que pretendemos é trazer a nossa capacidade de investigação e desenvolvimento para servir as empresas”, ajudando a criar conhecimento, sem ambição de comercializar as invenções que venham a surgir. “Isso fica para a empresa, a nós é mais a reputação científica que nos move”.
Em questão estão parcerias de médio-longo prazo, que tragam novos desafios para os investigadores e ajudem as empresas a explorar novos caminhos por essa via, sem a pressão dos custos associados à manutenção de uma equipa interna de investigadores para o fazer. A primeira parceria nestes moldes está já a ser fechada.
O ISCTE integra atualmente mais de 11 mil alunos, cerca de 1.000 são alunos de doutoramento e quase metade são estrangeiros. Tem um orçamento anual que ronda os 60 milhões de euros e foco nas áreas da gestão, ciências sociais e tecnologia, mais a I&D, com unidades nas diferentes áreas, sob o chapéu do Social Digital Lab, a estrutura que agrega as várias unidades e que alinhou uma agenda comum de investigação da instituição.
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