O mais recente MeetOn promovido pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APDSI) foi palco de uma discussão centrada nas competências e qualificações TICE (Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica) em Portugal, vistas como um instrumento importante no âmbito da transição digital de Portugal.

Em destaque, esteve o estudo exploratório “Mapeamento das necessidades de competências na área das TICE visando o ajuste da oferta formativa”. O documento, encomendado pelo cluster TICE.PT à APDSI e publicado em julho, analisa o contributo da formação académica para a aquisição das competências necessárias ao desempenho das atividades que compõem o ciclo de vida dos projetos TICE.

Além de ter feito um levantamento e análise das frameworks de competências e das tendências mundiais e em Portugal, a Associação questionou 365 profissionais TICE e 1.422 organizações. O estudo passou também pela realização de um focus group com 8 empresários da área e por uma análise detalhada da oferta formativa do sistema educativo em áreas TICE nucleares e alargadas.

Para Luís Vidigal, sócio fundador da APDSI e coordenador do estudo, vivemos numa “realidade vertiginosa” da duplicação do conhecimento, em que os sistemas de educação têm dificuldade em acompanhar todo o conhecimento que é produzido no mundo.

A par da “explosão de conhecimento”, cada vez mais profissionais procuram melhorar as suas competências para além da aprendizagem formal em meio académico ou profissional, numa atitude de aprendizagem permanente ao longo da vida.

Centrando-se nas conclusões do estudo, Luís Vidigal destacou que há muito trabalho a fazer no alinhamento entre as necessidades de competências TICE nas empresas e a qualificação académica dos profissionais.

De acordo com a análise realizada, existem “deficiências flagrantes” no contributo da formação académica para “a aquisição de competências em metodologias e boas práticas concebidas de forma cooptada pelo mercado e em uso nas empresas”, incluindo em muitas linguagens e ferramentas de conceção e desenvolvimento de soluções digitais.

O responsável sublinhou que a oferta educativa TICE em Portugal não é fácil de definir e, apesar de os percursos formativos estarem bem definidos, não há uma estrutura que ilustre a interdisciplinaridade dos cursos, nem uma plataforma que os agregue e apresente as saídas profissionais que lhes são associadas.

Embora as empresas não tenham sido o foco principal do estudo, ficou claro que que há também um longo caminho a percorrer para que cheguem a uma verdadeira transformação digital. Os dados dão a conhecer que cerca de 80% do universo de organizações inquiridas afirmaram não ter profissionais TICE nos seus quadros.

As empresas afirmam que a cibersegurança, o Machine Learning, a Data Science e Analytics, e o Business Intelligence são áreas que o mercado está a precisar, assim como a programação em linguagens como Python e Hadoop, mas para as quais as universidades ainda não estarão a dar resposta.

É possível colmatar o desfasamento das competências?

De acordo com Vasco Lagarto, Diretor da Equipa Técnica do TICE.PT, a questão das competências está sempre na ordem do dia. É verdade que iremos “correr sempre atrás do prejuízo”, devido ao rápido desenvolvimento tecnológico e da criação de novos conhecimentos, mas é necessário encontrar formas de mitigar o desfasamento entre as competências adquiridas pelos alunos e aquelas que são depois pedidas pelo mercado de trabalho.

Nuno Feixa Rodrigues, Coordenador da Iniciativa nacional INCoDe.2030 e Vogal do Conselho Diretivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia, deu a conhecer que certas competências TICE são apenas “a ponta do iceberg”.

Há um conjunto de capacidades importantes que nem sempre são faladas e que fazem toda a diferença na progressão de carreira, enfatizou o responsável. Mais do que saber, por exemplo, múltiplas linguagens de programação ou todos os meandros de um software específico, é necessário ter capacidade de análise, conseguir pensar criticamente e concetualizar soluções: algo cada vez mais importante num mundo repleto de informação.

Já Tiago Barroso, CEO da Everis Portugal, defendeu que as empresas têm de assumir que têm um papel fundamental para colmatar o desfasamento de competências. O responsável detalhou que a Everis tem vindo a encontrar estratégias para lidar com a questão, desenvolvendo o talento de base, seja através de cursos ou de estágios de Verão.

“Há uma falta de visão por parte dos alunos em relação às possibilidades de carreira no domínio das tecnologias de informação”, detalhou Tiago Barroso, afirmando que é muito notória nos processos de recrutamento e apelando à criação de um mapa de qualificações e de plano de carreira.

Uma plataforma transversal de informação para o planeamento e aquisição de competências TICE é, de acordo com o estudo apresentado pela APDSI, uma possível resposta à questão do desfasamento, sendo vista por Luís Vidigal como um elemento essencial para o desenvolvimento do país.

A plataforma, que integrará toda a informação relevante dispersa atualmente em quatro áreas ministeriais: Educação, Ensino Superior, Trabalho e Economia, deverá incluir ainda informação sobre a situação do setor, oportunidades de emprego, percursos da carreira profissional, competências atuais e emergentes e recursos de aprendizagem formal e informal, e as plataformas relevantes a nível nacional e internacional.

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