Por Filipa Fixe (*)
Há muito que o setor das Tecnologias quebra barreiras e cria oportunidades para a inovação humana e tecnológica. Muitas têm sido as transformações digitais que têm ocorrido, neste que é conhecido como o setor na vanguarda do digital. Contudo, o estigma mantém-se marcado: Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática são, em geral, associadas a um mundo de homens.
Apesar dos grandes passos que já foram dados, outros existem para dar e cabe-nos a nós mulheres criar a abertura para discutir estes temas. Segundo um estudo do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), em 2017, dos 2,7 milhões de pessoas empregadas na área das TIC na União Europeia, 83,7 % eram do género masculino, sendo que Portugal está em linha com este valor (83,3 %).
O tema das mulheres, da sua vida pessoal e profissional, tem muito a ver com o tema Cultura e a forma como cada sociedade encara este grande tema. Temos vários exemplos de sociedades muto inclusivas e outras ainda em fase de evolução, mas importa garantir que mulheres e homens estão em igualdade do ponto de vista pessoal e profissional para que os seus objetivos e ambições possam ser alcançados com mesma equidade.
É um caminho que também Portugal tem vindo a fazer, mas temos ainda muito que melhorar, sendo que cabe às mulheres portuguesas arriscarem mais e não terem receio de se candidatarem a novas posições ou funções que muitas vezes achamos não conseguir. Nós mulheres somos muito autocríticas. Por exemplo, lemos as funções exigidas num anúncio de emprego e se vemos algo com o qual não estamos 100% à vontade, riscamos da equação. Enquanto que os homens são muito mais confiantes, se a primeira linha de exigências está preenchida, então siga, vamos lá.
Arriscar é importante, assim como o é o fator Networking! Enquanto os homens o têm enraizado, nós mulheres precisamos de treinar mais. Mas já assistimos a claras mudanças na sociedade portuguesa. Mais mulheres em cargos de gestão e de topo, e mais homens a estenderem as suas licenças de paternidade. E esta evolução é importante tanto para a vida profissional, como pessoal, ganhando os homens uma relação muito mais próxima com os filhos desde tenra idade.
Por outro lado, na grande maioria dos lares portugueses, a mãe ainda continua a ser a figura central na dimensão familiar. Existe ainda muito preconceito relacionado com o papel e responsabilidade de mãe, que importa contrariar ou que, pelo menos, não deve constituir uma barreira na progressão da carreira. Desta forma, está do lado das organizações criar condições para um maior equilíbrio, através de ações concretas e direcionadas como o acesso facilitado a formação especializada ou, simplesmente, promovendo boas práticas como “proibir” a marcação de reuniões a partir de determinada hora, não obrigando nunca a pessoa a optar por uma ou outra dimensão da sua vida (profissional versus pessoal/familiar).
Perante esta realidade ainda existente, importará sempre reforçar, junto da sociedade, o tema da desigualdade de género, não só a nível nacional como também internacionalmente, até ao momento em que deixem de existir situações de desigualdade apenas e só pelo género.
Por exemplo, enquanto na educação, saúde e serviço social há 30% de mulheres e 7% de homens, nas tecnologias e engenharias há apenas 9% das mulheres e 31% dos homens. E é precisamente nas tecnologias que está a aposta ao nível de crescimento económico na União Europeia.
Neste sentido, sendo nós uma multinacional tecnológica dedicada ao mercado da saúde, queremos desenvolver de dentro para fora uma postura e ações capazes de mudar este cenário. Porque, mais do que nunca, é preciso! E foi no seguimento do Dia da Mulher, que demos o pontapé de saída do nosso Programa Tech Women com a iniciativa - Glintt Women Tech Talks (GWTT), que surgem da vontade de dar a conhecer histórias e experiências inspiradoras e de sucesso, em contexto corporativo, contadas na primeira pessoa por mulheres que são autênticos role models. No final, o objetivo é criar momentos de networking e de maior descontração entre os colaboradores e colaboradoras da Glintt, e os oradores(as) convidados(as).
Estes role models são importantes para saber como atrair mais mulheres para a tecnologia, como contribuímos para a sociedade, entre outras questões que precisam de resposta. Cada vez há mais raparigas e com mais sucesso em cursos de Engenharia, aliás quando eu andei no IST o curso de Engenharia Química era o único que tinha 50% de mulheres, todos os outros contavam com uma percentagem ínfima do sexo feminino.
Hoje em dia vemos que as faculdades de engenharia têm muito mais áreas de ensino relacionadas com as ciências da saúde (áreas como biomédicas e biologias) o que acaba por atrair mais mulheres. Temos é de garantir que elas chegam a cargos de direção e de gestão, da mesma forma que os homens chegam. O papel das mulheres que o conseguiram passa então por garantir que há uma discussão mais aberta, com partilha de experiências e resposta às questões das nossas colaboradoras e colaboradores e para que a Gestão das empresas também perceba como pode melhorar e garantir esta equidade, para que as mulheres atinjam cargos de chefia, e conseguir atrair mais talento feminino desde a base. Porque ao alimentarmos a pirâmide, com certeza vamos ter mais mulheres nos órgãos de gestão.
Por outro lado, não basta apenas atrair e recrutar. É urgente criar estratégias para reter este talento feminino!
(*) Executive board da Glintt
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