Por Sofia Fernandes (*)

Comecemos pelo início. O que são matérias primas? As matérias-primas são materiais ou substâncias utilizadas na produção primária ou para produção de bens, como o aço, petróleo, milho, madeira, gás natural, carvão e minerais. Estes são vendidos e comprados nos mercados de bolsas em todo o mundo - estilo Wall Street. São a base de tudo o que temos acesso, e por isso considerados fatores de produção, assim como o trabalho e o capital. 

Como o leitor já pode imaginar, esta é uma das indústrias mais antigas do mundo, o que a torna uma das mais tradicionais. É precisamente aí que começa o desafio… Sendo que todos os produtos precisam de matérias primas, esta é uma indústria absolutamente necessária. A extração e transformação das matérias primas é um dos temas mais abordados nas alterações climáticas, e por isso, a Europa volta-se para esta indústria para perceber o que podemos fazer para a tornar mais sustentável.

É neste contexto, que a Comissão Europeia decide investir em enviar uma comitiva, o EIT Raw Materials, a Portugal. Primeiro porque querem transmitir as iniciativas já existentes para que as empresas Portuguesas comecem a usufruir, e por outro lado querem conhecer a realidade portuguesa e adaptar a estratégia para garantir que contribui positivamente para a média Europeia. E eu, atrevo-me sempre a considerar: Podemos nós, o pequeno Portugalzinho, estar na vanguarda Europeia?

Com base no debate dos vários especialistas Portugueses e Europeus no evento do EIT RawMaterials Awareness, ficaram claros dois aspectos: 

  • O movimento já se iniciou em Portugal, e o nosso país entra na corrida!
  • Temos de correr mais rápido…

Ora as pequenas e médias empresas (PMEs) são aquelas que mais empregam em Portugal. Contudo, são sobretudo empresas familiares, fazem o negócio como o faziam há 50 anos atrás, quando os seus pais ou avós os geriam. E assim não podemos avançar. É possível acreditar que a maioria ainda acha que o “lixo da produção” tem apenas de ser incinerado? Ainda não usam esse “lixo” como base para montar uma segunda linha de venda e aumentar lucros?

Por outro lado, nas universidades e centros de investigação, fervilham ideias nos nossos doutorandos, que escrevem publicações lidas em todo o mundo, mas no que toca a chegar ao mercado, não acontece.

Conseguem ver o problema? Estes dois mundos não falam um com o outro. 

Até à data.

Segundo o Banco de Portugal, espera-se um crescimento de menos de 1% anualmente no nosso país, atrás dos 1.4% da média europeia. Mas esperem, nós ainda conseguimos mudar isso e deixar de ser o patinho feio! De acordo com o mesmo estudo, se o governo providenciar incentivos fiscais, que ajudem as empresas a aumentar receitas, podemos aumentar este valor em 7%. Se a indústria começar a inovar e criar valor para os subprodutos e criar mais linhas de produtos vendáveis (enquanto diminui o impacto ambiental) estima-se um aumento de 8.5%. Por último, se houver capacitação dos colaboradores - o capital humano - este valor pode aumentar em 28%. 

E já sei o que está a pensar, lá vem a ideia da digitalização para toda a gente. Até à data a digitalização está muito ligada ao lay off e ao desemprego. É importante realçar os casos de sucesso de implementação de ferramentas digitais nas PMEs, que capacitaram os seus colaboradores, aumentaram a receita, e trouxeram inovação para a empresa, aumentando a sua eficiência. Isto enquanto iniciamos o verdadeiro movimento que importa: mudança de comportamentos da velha indústria e criação de uma geração de trabalhadores com novas competências.

Ficou claro para mim, que esta estratégia não é nova, e não é portuguesa. Por isso, para ficarmos na frente, temos de acelerar esta transição. Para isso, a palavra da ordem do dia é networking (rede de contactos) e awareness (consciencialização). Precisamos que as PMEs deixem de ter o preconceito que a inovação são “invenções de quem não percebe nada da indústria” e que o “impacto ambiental positivo e economia circular são maus para o negócio”. É imperativo conhecerem e acompanharem os casos de sucesso, e ver que na verdade isto não só aumenta as receitas, como traz visibilidade internacional. Acima de tudo as PMEs têm de falar entre elas, adquirirem-se e fundirem-se, o nosso problema não é o talento, é o tamanho, então façamo-nos maiores. Os primeiros passos já foram dados. Mas é necessário correr. É necessário correr rápido. A única forma de o fazermos é juntos: colaborarmos e iniciarmos a discussão abertamente. Convido os leitores a conhecerem o ponto de partida desta corrida aqui, e a decidirem se podemos ou não, ficar na vanguarda Europeia.

(*) Diretora de Desenvolvimento de Negócio na BGI

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