Por Eduardo Oliveira (*)

Num dos recentes fins-de-semana de lockdown voltei a abrir um dos livros mais marcantes que li nos últimos anos, Homo Deus, do genial Yuval Noah Hariri, para reencontrar algo que me tinha ficado gravado na memória e que achei apropriado para o tempo que vivemos (é quase impossível não ouvir falar dele nestas semanas, uma vez que tem sido convidado por inúmeros meios de comunicação para dar entrevistas). Hariri começa o livro referindo que durante milhares de anos o ser humano focou a sua preocupação diária nos mesmos três problemas: fome, pragas e guerra. Prossegue, Yet, at the dawn of the third millenium, humanity wakes up to an amazing realisation. Most people rarely think about it, but in the last few decades we have managed to rein in famine, plague and war. Of course these problems have not been completely solved, but they have been transformed from incomprehensible and uncontrollable forces of nature into manageable challenges.

São palavras que recentram na capacidade humana de, sobretudo, gerir, situações adversas como aquela em que nos encontramos agora, por causa da COVID19. Efetivamente o ser humano atingiu, felizmente, um nível de desenvolvimento e conhecimento que lhe permite gerir a maior parte das situações e problemas que se lhe deparam. Assim, enquanto não descobrimos uma vacina ou um tratamento eficaz para esta epidemia, seremos certamente capazes de a gerir da melhor forma possível. A capacidade de sobrevivência e resiliência do ser humano assim o ditam.

A gestão da crise tem várias vertentes e terá ainda inúmeros impactos na vida social, política económica, médica e também, claro, na forma como as organizações funcionam. Poucos terão dúvidas de que a pandemia está já a ser um acelerador brutal da transformação digital em curso nas organizações. Em poucas semanas vemos instituições de ensino, mesmo as mais tradicionais, a implementarem aulas online, pequenos negócios, alguns sem website, a reinventarem-se e transformarem a sua operação e logística para aceitarem encomendas em multicanal e gerirem o processo de entregas ao domicílio, ou centenas de milhares de pessoas a manterem a sua atividade profissional, mas em formato de home-office. No meu caso particular noto – e confesso que acho o facto divertido – que, reuniões em que há um mês seria impensável participar sem estar fisicamente presente numa sala, hoje decorrem com normalidade, diariamente, em modelo de videoconferência. Sim, esta transformação está a ser híper acelerada!

Os modelos de negócio e as soluções tecnológicas que os suportam vão, ou melhor, estão a ser reconfigurados. Claramente, uma das condicionantes é a necessidade de agilidade e rapidez. Há imenso tempo que se considerava que as organizações se tinham de adaptar rapidamente e ser ágeis para conseguir sobreviver, mas acho que nunca ninguém preveria que seria tão velozmente, com este grau de aceleração. E não creio que vá ser apenas neste período, mas vai ser sim o novo normal. Entendo que é inevitável uma utilização crescente de plataformas que permitam dar respostas muito rápidas em termos de conceção, desenho e criação de aplicações de negócio. Não significa isto que os modelos tradicionais sejam colocados de parte, mas a gestão deste novo normal exige, mais do que nunca, rapidez, simplificação, reutilização.

Por outro lado, alguns destes processos deixarão de ter uma intervenção tão grande dos departamentos de IT das organizações, sendo sobretudo geridos por quem sente a necessidade, ou seja, as áreas de negócio. O pressuposto é que sendo aplicações mais simples de construir, deixarão de necessitar de tanta intervenção de cariz tecnológico. É claro que existirá sempre a necessidade de integração com os restantes sistemas operacionais da organização ou com parceiros de negócio, onde a participação do IT continuará a ser necessária. Mas ainda assim, a tendência é claramente para a utilização de conectores standard, sempre que possível, entre sistemas e aplicações. Um outro aspeto relacionado com a forma de gerir esta situação de aceleração é a utilização de plataformas que permitam, até a uma audiência não propriamente especialista em programação de sistemas, basear-se em templates, reaproveitá-los e disponibilizar aplicações simples, de forma qua14se autónoma, por replicação.

As plataformas que permitem atingir estes objetivos estão disponíveis há algum tempo e têm evoluído e acrescentado capacidades notoriamente interessantes. O que considero mais relevante é precisamente o grau de rapidez e facilidade que trazem para as áreas de negócio, e que no meu entender está a alavancar a sua disseminação de forma muito célere. Aplicações de negócio que anteriormente demoravam meses a conceber estão a ser criadas em semanas, ou até dias.

Um exemplo muito concreto de transformação ocorreu com a Bizdirect. A adoção e utilização da Power Platform da Microsoft foi algo que aconteceu de forma muito orgânica. O core desta plataforma é o Common Data Service, que na prática é o repositório base e conjunto de serviços do Microsoft Dynamics 365, área de especialização histórica da equipa. Em consequência, conseguimos ter uma curva de aprendizagem super-rápida. Para além da criação de aplicações para uso interno, que continuam a ser concebidas pela equipa, quase em modelo de brainstorming de ideias, trabalhamos diariamente com clientes que, vendo claras vantagens neste modelo de disponibilização de soluções, nos desafiam com problemas muito concretos de negócio e para os quais pretendem soluções com reduzido time to market e paralelamente, afastar-se de formatos mais tradicionais, morosos e opacos para interlocutores não-técnicos.

É um formato muito interessante, permitindo claramente endereçar áreas de negócio que não estavam servidas por aplicações de suporte, muitas das vezes fazendo a sua gestão através de folhas de Excel. Em simultâneo também se tem mostrado adequado a outras situações mais complexas, mas em que a capacidade dos inúmeros conectores nativamente disponíveis é uma grande mais-valia para contornar (e sobretudo, ultrapassar) as dificuldades de integração com outras aplicações.

A capacidade humana de se adaptar às situações e de gerir adversidades é impressionante. A facilidade com que os negócios se estão a transformar mostra-o claramente. A existência de plataformas tecnológicas que o propiciem é fundamental.

Enquanto o Homem não dominar e controlar tudo, atingindo o estatuto de quase-Deus, a próxima ambição, segundo Hariri, tem pelo menos a possibilidade de gerir os desafios que lhe vão sendo colocados.

(*) Consulting Director na Bizdirect

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