Por Bruno Amaral (*)

Num mundo onde a evolução tecnológica é sem precedentes, a maioria das empresas e dos profissionais procuram atualizar-se. Muitos, movidos pela curiosidade ou pelo interesse em aumentar a eficiência e a qualidade do trabalho, mergulham nessa procura para não se tornarem obsoletos. Parece um exagero, mas a verdade é que a transformação trazida pela inteligência artificial está a ocorrer com uma velocidade e um impacto que superam evoluções tecnológicas recentes como a cloud ou a Internet.

Em apenas dois anos, passámos a ter sistemas mais inteligentes, perspicazes e especializados em áreas concretas. Os Large Language Models (LLM) generalistas, como o ChatGPT, o Claude ou o Google Gemini, já rivalizam com os melhores profissionais do mundo em áreas como o direito, a matemática ou  computação. Um estudo recente mostrou que o LLM Claude da Anthropic superou cinco dos 300 melhores programadores do mundo nas olimpíadas de informática. Isto demonstra que a IA consegue processar informação, mas também raciocinar e resolver problemas complexos de forma criativa e autónoma, uma capacidade antes vista como exclusivamente humana.

A IA deixou de ser apenas um chatbot para se tornar um "cérebro digital", cada vez mais autónomo, interoperável e completo. Hoje, a IA não executa apenas tarefas e emula ações humanas de forma eficiente, mas, mais importante, é capaz de tomar decisões, coordenar tarefas inter-relacionadas e comunicar com outros sistemas inteligentes para otimizar resultados. Novas arquiteturas e standards (como MCP, A2A ou ACP) estão a criar as condições para que estes sistemas colaborem e falem entre si, acelerando a adoção de soluções inteligentes nas empresas. Aliar à super inteligência, capacidades de comunicação e colaboração irão acelerar ainda mais as soluções inteligentes que muitas empresas estão a adotar.

Chegámos a um ponto de viragem. O tempo de nos focarmos apenas em assistentes que nos apoiam e aceleram é limitado perante o verdadeiro potencial da IA, seja com GenAI, ML/AL ou serviços cognitivos. A era dos agentes chegou, e irá acelerar a transformação dos nossos processos e das experiências que, como humanos, estávamos habituados a ter. Se um assistente é uma ferramenta, um agente é um validador de qualidade. Está na  hora de pensar de forma diferente e inovar. Mais do que acelerar indivíduos, precisamos de acelerar equipas, integrando humanos e sistemas inteligentes em equipas híbridas.

O nosso foco agora deve ser como extrair o potencial do AI Agente para elevar a qualidade e a eficiência dos nossos processos, e tornar as nossas empresas mais úteis e interessantes. Para isso, devemos incluir estes agentes como membros inteligentes das nossas equipas híbridas, designando-lhes funções específicas que agregam valor ao trabalho que produzimos e aos serviços que prestamos. Estas equipas híbridas devem ter agentes bem treinados e parametrizados, integrados nos nossos sistemas de comunicação habituais, sejam eles chats, e-mails ou plataformas de gestão de tarefas. A IA tem de ser parte da equipa e não um sistema externo que apenas responde a pedidos.

Esta profunda transformação será um desafio. O ser humano funciona por hábitos e, por natureza, é avesso à mudança. Além disso, abraçar o desconhecido acarreta riscos, especialmente sem as devidas bases. Tecnicamente, a IA está preparada para substituir-nos em muitas tarefas, mas estaremos nós dispostos a ceder-lhe esse nível de controlo? As empresas precisarão de definir políticas e práticas claras para a adoção destes sistemas. Uma coisa é ter superinteligência a contribuir para a equipa; outra é permitir que a gestão, a coordenação de processos ou a comunicação com terceiros seja inteiramente feita por sistemas inteligentes.

Quem ainda não o fez, terá de abraçar rapidamente esta transformação. Numa sociedade cada vez mais dinâmica e veloz, a adoção desordenada e irresponsável da IA poderá levar a consequências graves. Além da transformação tecnológica, é crucial que as empresas tratem melhor os seus dados e definam políticas sólidas de governação para a automação e IA. Sem uma base sólida, soluções desenvolvidas ou mantidas pela IA podem transformar-se no que eu chamo de Organizational Black Hole (OBL). Por exemplo, aplicações desenvolvidas ou mantidas por um agente de IA sem supervisão especializada, onde o código é tão complexo e imprevisível que se torna impossível para os humanos fazerem a manutenção, aumenta custos de manutenção, riscos diversos, tais como estabilidade, performance ou segurança.

A IA é o futuro, mas o caminho para lá chegar e o destino que teremos depende de nós. A adoção consciente e estratégica destas tecnologias é a chave para moldar esse percurso.

É precisamente este dilema – como adotar a Inteligência Artificial de forma responsável, equilibrando inovação, impacto organizacional, ético e cultural – que estará no centro do Fusion 2025, a 18 de setembro, no Auditório Mariano Gago. Estarei presente para debater esta mudança de paradigma com líderes de diferentes setores. Porque o desafio não é apenas tecnológico. O verdadeiro potencial da IA só será alcançado se soubermos integrá-la de forma equilibrada e responsável.

(*) Executive Director and Head of Creative Tech, Devoteam Portugal