Por Pedro Santos (*) 

A pressão sobre os orçamentos públicos nunca foi tão intensa. Com o aumento das restrições económicas e a crescente exigência por responsabilidade fiscal, os decisores governamentais enfrentam o difícil desafio de fazer mais com menos. Neste contexto, não surpreende que muitas entidades públicas vejam no outsourcing uma tábua de salvação, principalmente pela promessa de poupanças imediatas. Esta perspetiva, contudo, está desatualizada e a travar a verdadeira transformação digital da administração pública.

Ao longo dos anos, tenho observado uma tendência preocupante na abordagem do outsourcing pelo setor público – é encarado como mera ferramenta de corte orçamental: "Quanto podemos poupar este trimestre?" ou "Como é que podemos reduzir esta despesa?". Temos todos testemunhado como esta persistência com poupanças imediatas afasta os governos de soluções verdadeiramente transformadoras.

Em Portugal, a Estratégia para a Inovação e Modernização do Estado e o Plano de Ação para a Transição Digital delineiam os esforços de transformação digital. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) alocou aproximadamente 4,5 mil milhões de euros para a transição digital, conforme dados oficiais do programa. No entanto, a implementação de alguns projetos tem enfrentado desafios. O programa SIMPLEX+, por exemplo, registou uma taxa de execução de 85% das suas medidas dentro dos prazos previstos para o biénio 2020-2021, segundo informações divulgadas pelo portal Portugal.gov.pt. Quando o critério principal de seleção é o preço mais baixo, perde-se a oportunidade de implementar sistemas que, apesar de exigirem um investimento inicial superior, geram retornos exponenciais no futuro.

O setor de Business Process Outsourcing (BPO) evoluiu significativamente, embora muitos decisores públicos ainda o associem apenas a call centers ou tarefas administrativas. Hoje, os BPOs são parceiros estratégicos que oferecem consultoria, transformação organizacional, implementação de IA e análise de dados — muito além da gestão operacional tradicional. Essa perceção desatualizada tem limitado o acesso da administração pública a serviços modernos e inovadores.

Para quem trabalha no setor é evidente que, ao priorizar de forma excessiva as poupanças imediatas, a administração pública acaba por aumentar as despesas totais ao longo prazo. Quando se escolhe o fornecedor mais barato para um projeto de digitalização, sem considerar a integração com sistemas existentes ou a adaptabilidade futura, criam-se ciclos constantes de ajustes, correções e eventualmente substituição integral das soluções.

Perante um cenário político menos estável do que o desejável, torna-se ainda mais urgente adotar uma abordagem pragmática e eficiente à gestão dos recursos públicos. A pressão para equilibrar as contas do Estado, enquanto se melhora a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, exige uma mudança de mentalidade em relação ao outsourcing — que deve ser visto não como um mero instrumento de redução de custos, mas como um investimento estratégico no futuro digital do país.

É necessária uma mudança de paradigma na forma como o setor público encara as parcerias externas. Esta transformação deve centrar-se em resultados, e não apenas em custos iniciais; em relações colaborativas, em vez de transacionais; e numa avaliação integrada de capacidades, com uma partilha equilibrada de riscos entre as partes.

Para tirar pleno partido do outsourcing estratégico, é fundamental promover um diálogo aberto com o mercado, basear as decisões em evidência concreta e valorizar o impacto a longo prazo, através de modelos contratuais focados em entregas e resultados — e não apenas no valor financeiro da proposta inicial.

As restrições orçamentais são reais e não vão desaparecer de forma imediata – particularmente com as metas estabelecidas pelo novo Pacto de Estabilidade europeu que Portugal se comprometeu a cumprir até 2028. No entanto, as entidades públicas que conseguirem ir além da lógica da contenção e adotarem uma abordagem estratégica ao outsourcing estarão melhor preparadas para liderar a transformação digital, aumentar a eficiência e, acima de tudo, prestar melhores serviços aos cidadãos.

(*) Country Leader da Foundever, em Portugal