
Por Jorge Valadares (*)
A inteligência artificial está a deixar a sua marca em praticamente todas as áreas, e o mundo da programação não é exceção. Com ferramentas como o GitHub Copilot, o ChatGPT e outras IA generativas a ganhar popularidade, muitos profissionais começam a perguntar-se: será que os programadores vão mesmo ser substituídos?
Na verdade, essa ideia é mais mito do que realidade. A IA não vai eliminar os programadores, mas acreditamos que irá transformar o seu papel. Em vez de passarem os dias a escrever linhas de código repetitivas, os programadores vão poder passar a desempenhar um papel mais estratégico, mais criativo e mais humano.
Apesar dos avanços da IA, há uma coisa que estas ferramentas ainda não conseguem fazer: compreender o contexto. Ou seja, podem gerar códigos de forma rápida e até funcional, mas não sabem porque é que aquele código é a melhor escolha para um determinado problema.
Quando um programador cria uma aplicação, não está apenas a escrever comandos, mas sim a resolver um problema do mundo real. É essencial pensar na experiência do utilizador, no orçamento, nos prazos, nas regras de negócio, na segurança e em outros mil outros fatores. É um trabalho que envolve muito mais do que apenas saber programar.
A IA pode sugerir soluções tecnicamente válidas, mas não sabe se são as mais indicadas para um projeto específico. Um sistema de pagamentos num banco, por exemplo, não pode ser só funcional, pois precisa de cumprir regulamentos apertados, garantir a segurança máxima e integrar-se com sistemas antigos. Isso exige julgamento, experiência e uma sensibilidade que a IA não tem.
Além disso, interpretar diferentes requisitos continua a ser um desafio essencialmente humano. Os clientes nem sempre sabem exatamente o que querem ou como explicar o que pretendem. Cabe ao programador ouvir, fazer perguntas e transformar ideias soltas em soluções concretas. Essa capacidade de comunicação e tradução entre mundos técnicos e não técnicos continua fora do alcance da IA.
A IA pode ajudar, mas não substitui a criatividade
Em vez de tirar o trabalho aos programadores, a IA está a ajudar a torná-los mais rápidos e produtivos. Um estudo com quase 5.000 programadores de empresas como a Microsoft e a Accenture mostrou que quem usou o GitHub Copilot foi capaz de concluir mais tarefas por semana (cerca de 26% a mais) sem comprometer a qualidade. E entre os menos experientes, os ganhos foram ainda maiores.
Isto mostra que a IA pode ser um excelente apoio e que funciona quase como um colega experiente que dá sugestões, aponta atalhos e ajuda a evitar erros básicos. Especialmente para quem está a começar, é uma forma de aprender mais depressa.
Mas é importante lembrar que a IA é melhor em tarefas repetitivas, isto é, a escrever aquele código mais “mecânico”, do que em resolver problemas fora da caixa. É aí que entra o lado criativo do programador.
Assim, programar não é só escrever código. É pensar numa boa arquitetura, criar interfaces intuitivas e encontrar soluções elegantes para problemas difíceis. É aqui que a intuição, a experiência e a criatividade fazem toda a diferença, e isso continua a ser exclusivo dos humanos.
Com tudo isto, o papel do programador está a mudar. Em vez de se focar apenas na implementação, passa a ser alguém que pensa no todo, que desenha soluções e coordena o trabalho entre pessoas e máquinas. Para isso, não basta saber programar: é preciso saber comunicar, pensar estrategicamente e ter espírito crítico.
A Gartner prevê que, até 2027, 80% dos programadores terão de aprender novas competências para se manterem atualizados. Parece muito? E é, mas também é uma enorme oportunidade para evoluir profissionalmente.
Apesar dos receios, o mercado tecnológico continua a crescer. Segundo o Fórum Económico Mundial, até 2030 a IA pode levar à eliminação de 85 milhões de empregos, mas também vai criar 97 milhões de novas funções, muitas delas em áreas ligadas à tecnologia, como desenvolvimento de software, ciência de dados ou cibersegurança.
Ou seja, a IA não está a acabar com o trabalho, mas sim a mudar o tipo de trabalho. Estão a surgir novas funções, como especialistas em prompt engineering, revisores de código gerado por IA ou arquitetos de sistemas inteligentes. São papéis que exigem conhecimento técnico, mas também visão estratégica e compreensão das limitações da IA.
Ao mesmo tempo, a própria IA está a facilitar o acesso ao mundo da programação. Hoje, mais pessoas conseguem criar as suas próprias aplicações, mesmo sem uma formação tradicional na área. Isto cria um novo grupo de “programadores cidadãos”, e aumenta ainda mais a necessidade de profissionais experientes que possam orientar, rever e garantir a qualidade do que está a ser desenvolvido.
Num cenário em que tudo muda a alta velocidade, já não chega tirar um curso e achar que a formação está feita. A aprendizagem passou a ser contínua, e quem não acompanhar fica rapidamente para trás.
Diversos estudos da McKinsey indicam que milhões de pessoas vão precisar de se requalificar até 2030, e a área da programação (especialmente assistida por IA) está entre as mais promissoras. Mas essa formação não se resume a aprender novas ferramentas, uma vez que é necessário ir mais fundo.
Os programadores devem apostar no desenvolvimento de competências que a IA não tem: pensamento crítico, design de sistemas, liderança, colaboração, e, claro, literacia em IA - perceber como funciona, onde é útil e onde pode falhar.
Aliás, até profissionais de outras áreas podem tirar proveito desta nova realidade. Profissionais de marketing, gestão, design ou outras áreas técnicas estão a aprender programação para conseguir encontrar soluções nos seus próprios contextos. E os programadores mais experientes têm aqui uma grande oportunidade: liderar, ensinar e acompanhar esta nova geração de criadores digitais.
O futuro pertence a quem souber trabalhar com a IA, não contra ela
É certo que a IA está a mudar o mundo da programação, mas não está a acabar com ele. Quem souber adaptar-se, aprender continuamente e trabalhar em conjunto com estas novas ferramentas vai ter um papel ainda mais relevante.
O futuro da programação vai ser feito por pessoas que saibam tirar partido da IA, não como uma ameaça, mas como uma parceira. E isso exige mente aberta, curiosidade e vontade de crescer. Mas, em troca, oferece uma profissão mais rica, mais desafiante e com impacto ainda maior no mundo.
(*) formador Rumos para as áreas de Programação e IA
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