Por Nuno Ribeiro (*)

A excelência em engenharia é, muitas vezes, o elemento invisível que separa equipas medianas de verdadeiras potências de inovação. Não se trata apenas de competências técnicas ou de seguir metodologias da moda — é uma mentalidade. Uma cultura. Uma forma de estar que exige rigor, curiosidade e vontade de melhorar todos os dias.

Na minha experiência, cultivar a excelência em engenharia de software implica investir de forma consistente em cinco pilares fundamentais. E é precisamente aí que muitas organizações falham: ignoram a base e depois questionam-se sobre os resultados.

Melhoria contínua: mais do que Agile e DevOps

É impossível falar de excelência sem falar de melhoria contínua. O mercado exige rapidez, e metodologias como Agile e DevOps prometem exatamente isso — mas só funcionam se forem aplicadas com sentido crítico. Infelizmente, muitas equipas perdem-se na burocracia das práticas e esquecem-se da filosofia que as sustenta.

Automatizar processos, reduzir erros e aumentar a eficiência deixou de ser uma vantagem: é um requisito básico. E com os avanços recentes da inteligência artificial, quem não estiver a investir nesta frente está a ficar perigosamente para trás. Retrospectivas regulares não são apenas uma formalidade — são oportunidades de ouro para aprender com o que corre bem e, sobretudo, com o que corre mal. Ignorar essa aprendizagem é desperdiçar valor.

Mestria técnica: a inovação exige estudo constante

Não podemos aspirar à excelência se não estivermos na linha da frente da tecnologia. E isso exige investimento de tempo e recursos. Estar atualizado sobre frameworks, ferramentas e práticas de desenvolvimento é uma responsabilidade coletiva que deve estar calendarizada — não é uma "folga" nem um luxo.

O processo de desenvolvimento ainda se baseia, maioritariamente, em escrever código. E esse código é, muitas vezes, produzido por grandes equipas que precisam de trabalhar de forma coordenada. A revisão de código e o feedback contínuo são, por isso, ferramentas essenciais para garantir qualidade. No fim do dia, o que entregamos ao utilizador é software. E esse software tem de ser monitorizado, ajustado e melhorado de forma contínua.

Cultura de colaboração: a base da confiança

A excelência técnica não serve de muito se for construída em silos. A colaboração entre engenharia, produto, design e outras equipas deve ser incentivada e, acima de tudo, valorizada. Sem comunicação aberta e honesta, não há confiança. E sem confiança, não há equipa.

Programas de mentoria são uma excelente forma de desenvolver líderes e de fazer crescer o potencial coletivo. Organizações que investem nas pessoas colhem os frutos no longo prazo.

Qualidade e manutenibilidade: a sustentabilidade do produto

Testes abrangentes, documentação clara e foco na manutenibilidade são frequentemente subestimados. E isso paga-se caro. Um produto só é bom se continuar a ser bom ao longo do tempo.

A dívida técnica, tantas vezes desvalorizada pelos decisores de negócio, é um dos maiores riscos para qualquer organização. Reduzi-la não é um custo — é um investimento em futuro.

Medição de desempenho: sem dados, só há intuição

Não se pode melhorar o que não se mede. Definir indicadores relevantes, acompanhar o progresso e partilhar essa informação com as equipas é um passo básico, mas crucial. Só assim é possível tomar decisões informadas e impulsionar melhorias reais.

Os dados têm de estar disponíveis, compreensíveis e ser usados para promover mudanças positivas. Caso contrário, são apenas números num relatório.

(*) Engineering Excellence Manager na Bliss Applications