Por Luis Bravo Martins (*)
A Comissão Europeia adotou uma estratégia para mundos virtuais e Web 4.0 em Julho de 2023. É bastante ambiciosa e prevê logo à partida um valor de 800 mil milhões de euros para este mercado já em 2030.
E se o número pode parecer elevado, o detalhe dessa estratégia reforça ainda mais a ambição: novos serviços públicos que recorrem a gémeos digitais (digital twins), assistentes de inteligência artificial (IA) e a dados em tempo real para assistir no planeamento e tomada de decisão; novos standards que facilitam o mercado em concorrência aberta, vencendo a fragmentação natural do espaço europeu e promovendo a segurança, privacidade e interoperabilidade; e uma pool de talento nesta área, cobrindo áreas avançadas de especialização tecnológica e novas funções que emergem destas.
Mas como sabemos, uma estratégia é tão boa quanto a sua aplicação. E muito embora esta estratégia se projete para os próximos 5 anos, já hoje é possível perceber como alguns building blocks desta se começam a estruturar.
14 estados-membro criaram a rede Citiverse, uma rede de local digital twins. Utilizam IA e dados em tempo real de espaços e equipamentos públicos para melhorar o planeamento urbano nas cidades.
O European Virtual Human Twin é um standard de replicação do corpo humano que está a ser testado em consultas remotas e em tratamentos personalizados. Todos estes dados privados serão controlados pelo cidadão através do futuro European Health Data Space.
A European Digital Identity Wallet responde à necessidade de identificação transversal dos utilizadores através dos vários mundos virtuais que visitem. Além de centralizar documentos pessoais e permitir que os possamos utilizar em segurança, garante que a partilha destes dados ocorre com o devido consentimento.
Finalmente, o programa Advanced Digital Skills Europe já oferece cursos em áreas que incluem ou combinam tecnologias emergentes com mercados verticais.
Todos estes projetos estão em curso e provam que a estratégia não ficou no papel. Igualmente, que não está centrada na tecnologia em si mas sim nas aplicações pessoais e profissionais que ela nos traz. Mas naturalmente, estamos no inicio da jornada e falta todo o processo de adoção e validação social que qualquer processo de inovação implica. Falta escala.
Em 2025, acredito que a escalada irá acelerar. Está prevista a criação de uma Virtual Worlds Partnership Association, uma organização que reunirá academia e empresas para criarem conjuntamente um roadmap para os Mundos Virtuais europeus. A discussão sobre este roadmap já se iniciou aqui.
Outros países, como a Finlândia, já avançaram com uma estratégia própria para os Mundos Virtuais e identificam uma oportunidade tremenda para o tecido empresarial. Todas as organizações podem contribuir para uma nova web com melhores serviços para todos e, em paralelo, para uma economia mais centrada nas pessoas e no seu talento.
Em Portugal, o número de organizações nacionais a trabalhar em tecnologias emergentes é já muito significativo para o nosso mercado (ex. Mais de 200 em Extended Reality e estimam-se mais de 700 em Web3 / Blockchain). Vemos vários cursos universitários a aplicar tecnologias emergentes a diferentes áreas de conhecimento, como este ou este. Diversos laboratórios nacionais de I&D são reconhecidos globalmente nestas áreas, como o MASSIVE VR Lab.
Temos talento e temos agora uma oportunidade de ganhar escala. E se esse é um desafio desde sempre para este cantinho à beira-mar plantado, nos mundos virtuais não estamos limitados pela nossa geografia ou pelo acesso. Só pelo nosso talento e ambição. E eventualmente pelo nosso timing de ação.
(*) Vice-Presidente da XR Safety Intelligence - Europe
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