O presidente e CEO da Yangtze Memory Technologies, um dos principais fabricantes de chips de memória da China, reforçou o alerta que outro gigante do sector já tinha feito este ano. As questões geopolíticas e as preocupações com questões de segurança nacional de alguns países estão a ter um impacto negativo no desenvolvimento global da indústria de chips, crítico numa fase em que a inovação é determinante para assegurar as evoluções que o mercado exige.

Cheng Nanxiang falava na abertura da Semicon China, que decorre em Shangai, onde mostrou dúvidas de que o sector tenha condições para concretizar as previsões de 1 bilião de dólares em vendas em 2030, graças ao impacto negativo destes fatores.

"O nosso sector é cíclico e cada operador tem a sua própria forma de lidar com estes ciclos. No entanto, o elevado grau de incerteza que enfrentamos deve-se precisamente à destruição da globalização", defendeu o responsável, considerando que a indústria, a nível global, está a entrar num "período de turbulência".

"Há muita intervenção dos governos e muito conteúdo político à mistura”, acrescentou, alertando para os mesmos riscos que o presidente da TSMC, Morris Chang, também já tinha sublinhado em março, quando antecipou o mesmo: que a globalização do mercado de semicondutores estava morta.

Os chips mais modernos são o resultado de uma combinação complexa de muitos elementos, produzidos e protegidos por propriedade intelectual em diferentes pontos do mundo. Quando as fronteiras ao cruzamento destas inovações se fecham isso tem impacto nos resultados, como têm vindo a alertar alguns interlocutores.

A YMTC é uma das empresas visadas pelos bloqueios impostos por Washington. Os fornecedores de componentes americanos que trabalhavam com a empresa tiveram de cancelar contratos para não infringir as novas regras de controlo de exportações.

Na intervenção na conferência, citada pela Reuters, o gestor deu por isso o exemplo da própria YMTC: "No caso do YMTC, que dirijo, já não podemos adquirir peças e componentes de equipamento que tínhamos comprado legalmente”, sublinhou, pedindo que sejam estabelecidas regras justas.

Se a exposição sensibilizou quem estava na audiência, não parece sensibilizar as autoridades norte-americanas que alegadamente se preparam para reforçar as medidas que tentam impedir a exportação para a China de quaisquer componentes, ou tecnologias, que facilitem o desenvolvimento de chips de última geração no país.

Também segundo a Reuters, que cita fontes próximas ao processo, em julho a administração Biden pode assinar uma nova ordem executiva, reforçando as exportações de semicondutores para a China, desta vez limitando a capacidade de computação dos chips comercializados.

As críticas à política norte-americana, que já tem alguns seguidores na Europa, não vêm apenas de empresas chinesas. A CFO da Nvidia, Colette Kress, alertou esta semana numa conferência com investidores para as oportunidades que os Estados Unidos podem vir a perder, a médio e longo prazo, com as restrições em marcha.

"A longo prazo, as restrições que proíbem a venda dos nossos GPUs para centros de dados na China, se forem implementadas, vão resultar numa perda permanente de oportunidades para a indústria dos EUA e para a sua capacidade de competir e liderar num dos maiores mercados do mundo”, defendeu a responsável.