Como se posiciona Portugal no domínio dos semicondutores e que oportunidades existem para desenvolver a investigação e a indústria, numa altura em que a Europa está a reforçar investimentos para garantir maior soberania nesta área? A aposta deve ser na industrialização, na investigação, na formação e fixação de talento? Ou só a combinação de todos estes elementos permitirá o desenvolvimento do sector?
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As questões e as respostas estiveram em foco num encontro que ontem reuniu investigadores, políticos e empresários na Assembleia da República, num Café de Ciência com o tema "Semicondutores: um mundo invisível com oportunidades à vista", organizado pela Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, com o apoio do POEMS – Centro de Competências Português em Semicondutores.
A União Europeia traçou em 2023 a estratégia para reduzir a dependência de semicondutores, com o EU Chips Act a garantir um reforço do apoio à investigação e desenvolvimento mas também à indústria, mobilizando mais de 43 mil milhões de euros de investimentos públicos e privados. O objetivo era prevenir e responder rapidamente a qualquer rutura da cadeia de abastecimento, garantindo a desejada soberania nesta área e uma quota de 20% da produção até 2030.
Mas os números são considerados curtos pela indústria, que já pediu uma "versão 2.0" do plano, com ajudas mais rápidas à indústria europeia de semicondutores e menos restrições à exportação.
Em Portugal a Estratégia Nacional para os semicondutores avançou em 2024, seguindo as linhas do Chips Act europeu, com um orçamento de 121 milhões de euros até 2027, mas neste encontro ficou claro que há ainda muito para fazer para garantir que as oportunidades são exploradas em todo o potencial, criando e desenvolvendo a indústria e a investigação, atraindo e fixando valor de investimentos estrangeiros e aumentando a literacia e formação nesta área, fixando profissionais e investigadores.
António Grilo, Presidente da Agência Nacional de Inovação, lembrou na sua intervenção que o tema não podia ser mais atual, dizendo que nesta semana o tema que mais trabalhou teve a ver com os semicondutores. "Deixou de ser uma questão puramente tecnológica", afirmou, lembrando que a alterações geopolíticas fizeram com que a garantia de abastecimento de chips se tornasse uma questão económica e geopolítica, que afeta a indústria, como aconteceu com o caso da Nexperia na Holanda que paralisou o fornecimento de chips."Foi a primeira vez que foi acionado o mecanismo de crise para a falta de semicondutores na Europa", explica.
Embora admita que não vale a pena ter a ilusão de que a Europa vai ser totalmente independente no design e produção de chips, António Grilo defende que este é um caminho para desenvolver a inovação, reforçar a capacidade de produção e criar os mecanismos de coordenação e monitorização para resposta a crises.
Startups e investimento internacional para uma indústria em desenvolvimento
Em Portugal a indústria de semicondutores soma mais de três décadas de experiência, e o ecossistema integra centros de investigação, laboratórios associados, universidades e laboratórios colaborativos. Entre as empresas contam-se as startups SiliconGate, PICadvanced, PETsys Electronics, Powertools Technologies, Koala Tech, IOBundle e IPblop, mas há também investimento de entidades internacionais como a Synopsys, Renesas, Aurasemi, Nanopower, Monolithic Power Systems e AMD/Xilinx.
O consórcio POEMS – Centro de Competências Português em Semicondutores, criado em abril deste ano, junta 16 entidades nacionais e tem um investimento próximo dos quatro milhões de euros, sendo liderado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL). A ideia é posicionar e diferenciar Portugal a nível internacional em competências relacionadas com a área do design, do packaging, dos sensores, da eletrónica flexível e com a área integrada de chips fotónicos.
Diogo Vaz, da PICadvanced, defendeu que a fotónica é a área onde Portugal deve investir, até porque ainda não está dominada por outras potências globais.
"É uma oportunidade gigantesca em Portugal", afirma Diogo Vaz, destacando que em conjunto com o packaging pode garantir o desenvolvimento de um sector importante para a economia com as competências que estão a ser criadas.
A discussão sobre as áreas onde Portugal deve apostar levantou alguma polémica no debate, com visões diferentes de várias áreas. A ideia de que sem a indústria não será possível a Portugal ter um papel de relevo nos semicondutores foi defendida por José Moreira da Silva, da Amkor Technologies, que diz que precisamos de boa educação e ciência, mas que é preciso capacidade produtiva, em especial na produção de wafers que implicam investimentos elevados que nem todos os países têm capacidade de fazer.
Para Marcelino Santos, professor no Instituto Superior Técnico fundador da SiliconGate, a aposta deve estar na área de design dos chips, onde se centra o maior valor, que pode ser atraído para Portugal, com a fixação de centros de competências. E nesta área alertou para a falta de visão política que já impediu a MPS (Monolithic Power Systems) de fixar em Portugal um investimento de 10 milhões de euros, que acabou por ser direcionado para Barcelona.
Atrair e fixar talento em Portugal
A aposta no desenvolvimento de competências, com a formação de profissionais nesta área e a atração dos jovens para os cursos tecnológicos e universitários nesta área, gerou grande consenso, com vários intervenientes a alertarem para a necessidade de reforço nesta área que permita criar talento muito necessário na Europa, mas também fixar os profissionais em Portugal, o que é uma questão também de salários e fiscalidade mais favorável. Paulo Marques da Inova Ria, Fernanda Ledesma da ANPRI (Associação Nacional de Professores de Informática) e uma representante da Associação de Professores de Física estiveram de acordo nesta área, e foi referido que a Ciência Viva está a criar um kit para as escolas para promover o ensino ligado aos semicondutores e chips.
Pedro Lima, Presidente do Instituto de Robótica e professor do Instituto Superior Técnico, lembrou ainda que a robótica é um bom exemplo da importância dos chips e também da capacidade de atrair talento, reforçando a importância de criar as condições para fixar as pessoas.
Dificuldades de financiamento, capacidade de executar e visão política
Para além dos recursos humanos, o que falta para conseguir concretizar o potencial e transformar o investimento em valor? Ao longo do debate foram apontadas as necessidades de financiamento e uma "science policy" que garante a visão política necessária para investir e atrair investimento internacional, como aconteceu com o caso da MPS referido.
Um dos intervenientes mais críticos foi o deputado José Miguel Teixeira, da IL, que defendeu que a Europa não terá a capacidade de chegar à meta dos 20% de quota de mercado em semicondutores que definiu até 2030.
"Não temos nem o dinheiro nem os meios para o alcançar", afirmou José Miguel Teixeira, sublinhando que é preciso mudar a forma como a União Europeia define estas metas que não consegue atingir e depois faz com que não execute os fundos.
Numa comparação da visão que defende estar desalinhada, o deputado lembra que a UE está a investir 43 mil milhões de euros quando os EUA estão a investir 280 mil milhões e "a pagar a peso de ouro" à TSMC para fixar fábricas de chips de IA nos Estados Unidos.
Também Carlos Alves, que fundou a HFA há 30 anos, uma empresa especializada na assemblagem e teste de equipamento electrónico e de telecomunicações, critica a demora nos tempos de decisão para aprovação de projetos financiados. Conta a sua experiência da candidatura de cinco empresas a uma mini agenda do PT2030 para um projeto de 10 milhões de euros para criar um chip inovador para as telecomunicações de fibra ótica, que não pode avançar porque não há ainda decisão.
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