O Parlamento Europeu criou uma ferramenta de inteligência Artificial (IA) para os seus arquivos históricos que melhorou a pesquisa, a recolha e a compreensão de décadas de documentos legislativos e procedimentos parlamentares escritos em múltiplas línguas.

São 2,1 milhões de documentos oficiais que passaram a estar à disposição de investigadores, políticos, educadores e público. Estes documentos, arquivados desde 1952, equivalem a 5 km de registos em papel e 2 terabytes de dados digitais essenciais para promover a transparência da UE.

A equipa da Unidade de Arquivos do Parlamento Europeu desenvolveu a ferramenta “Ask the EP Archives”, ou Archibot, uma solução de IA generativa construída em Claude, o grande modelo de linguagem de última geração da Anthropic, sobre Amazon Bedrock.

Aquela unidade de arquivos tem a seu cargo “a preservação, gestão e tratamento de todos os documentos produzidos e recebidos pelo Parlamento Europeu”.

Já é possível tirar partidos desta IA nos Arquivos históricos do Parlamento Europeu, na internet, para procurar documentos do Parlamento, incluindo resoluções, posições, políticas e negociações interinstitucionais, desde a década de 50 do século passado.

“Avaliámos vários modelos de linguagem de grande dimensão e escolhemos o Claude porque utiliza a IA Constitucional, uma abordagem proprietária ao desenvolvimento de sistemas de IA que incute valores e princípios fundamentais na IA durante o processo de formação”, explica o Ludovic Délépine, chefe da unidade de arquivos, no Parlamento Europeu. Além disso, a implementação do Claude no Amazon Bedrock proporcionou ainda vantagens de segurança, permitindo aos arquivos manter o controlo da solução no seu próprio ambiente cloud da União Europeia.

Com o novo sistema é possível analisar dados e criar relatórios com mais eficiência. A velocidade de pesquisa de documentos baixou 80% desde que a solução foi lançada. A satisfação dos consumidores aumentou perto de 60%.

Antes do Archibot, “para aceder aos nossos arquivos, as pessoas tinham de se deslocar ao Luxemburgo ou enviar por correio eletrónico um pedido de um número limitado de digitalizações em formato .pdf”, explica Daniel Urse, chefe do serviço de tratamento de dados. “A chegada da IA generativa mudou radicalmente como os arquivistas e os investigadores podem navegar pelos milhões de documentos existentes nos arquivos”, abrindo-os também aos utilizadores em geral para explorar a história da governação da UE.

O Archibot permite resumir a legislação e a história da UE, ajudando “os utilizadores a compreender os principais pormenores sem terem de ler documentos completos”. É possível também consultar instantaneamente informações específicas e precisas, sem conhecimentos especializados ou presença física no Luxemburgo.

E o arquivo é apenas o início. Ludovic Délépine prevê aplicações mais alargadas: “No futuro, os parlamentos podem utilizar a IA generativa para simplificar os processos legislativos, apoiando a redação e a revisão de documentos. A IA pode ajudar a resumir relatórios extensos, permitindo uma tomada de decisões mais rápida e discussões mais bem informadas”.