O EIT Health integra cerca de 150 parceiros europeus entre entidades públicas e privadas, sendo uma das maiores redes de inovação em saúde da região. Junta empresas, universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento, além de hospitais e institutos. Trabalha nas áreas da formação, inovação e apoio à criação e aceleração de empresas, através de programas como o Innostars, que já distinguiu vários projetos nacionais.
Miguel Amador é responsável pelo “braço” português desta rede de inovação e falou com o SAPOTeK sobre o que se faz por nesta área e como compara com o resto da Europa, destacando alguns projetos que têm dado nas vistas internacionalmente e identificando as áreas onde Portugal tem maior potencial internacional na área da saúde.
O EIT Health tem uma perspetiva ampla da inovação na área da saúde em toda a Europa. Olhando para Portugal, em que áreas estamos mais e menos avançados, na comparação com o resto da Europa?
Portugal é um dos países pioneiros da Telemedicina na Europa. Em 2019, o relatório EIT Health Think Thank, “Optimizing Innovation Pathways”, com foco na Telemedicina, mencionou Portugal como forte player no sector de TI, com vários projetos de colaboração ao longo das últimas décadas e uma infraestrutura de dados de saúde bastante avançada. Nesse sentido, o EIT Health e os parceiros em Portugal acreditam que a Saúde Digital é uma oportunidade para o nosso país, visto que podemos alavancar a experiência nesta área, de modo a promover as nossas empresas, e todo o seu conhecimento e tecnologia, nos mercados internacionais.
SAPO TeK: Esse potencial está a ser bem aproveitado pelas startups e pelos restantes atores do mercado?
Miguel Amador: Portugal é um mercado pequeno, e ainda é difícil para as startups venderem para o SNS. Mas a nossa experiência tem mostrado que o país é ótimo para o desenvolvimento de protótipos e para desenvolver projetos inovadores junto de pacientes e prestadores de saúde. As instituições de saúde estão empenhadas em testar e apoiar inovações, e grandes empresas de TI como a Glintt, Microsoft, Altice, Critical, Altran ou Vodafone, entre outras, são parceiras tecnológicas ativas de novas soluções de Saúde Digital. As nossas organizações de investigação são também bastante ativas no desenvolvimento de novas soluções de Saúde Digital. Por exemplo, o Instituto Pedro Nunes de Coimbra desenvolveu um sistema que permite a formação à distância de médicos na realização de exames de ultrassom. A Universidade Nova lançou um dos primeiros cursos em Saúde Digital voltado para os profissionais de saúde e administradores hospitalares. Estes são alguns exemplos que o EIT Health identifica entre os seus parceiros e que apoia, ao permitir que estes projetos sejam desenvolvidos dentro de consórcios internacionais.
SAPO TeK: Há muito potencial de internacionalização nas soluções que desenvolvemos?
Miguel Amador: Olhando para outros setores que não o digital, o sector dos dispositivos médicos tradicionais ainda é pequeno em Portugal, com poucos fabricantes de tecnologias mais complexas. Atendendo ao investimento necessário para competir nesta área, a Saúde Digital oferece uma oportunidade para a indústria portuguesa se tornar competitiva a nível global, e não apenas na Europa. A biotecnologia é também uma área onde Portugal tem muito boa investigação e inovação, mas onde os investimentos necessários têm limitado o crescimento da indústria. O EIT Health reconhece, no entanto, que há uma indústria emergente a crescer na Biotecnologia, à medida que as equipas ganham maior experiência e financiamento internacional, e com isso alavanca o vasto talento nacional.
A implementação das soluções de IA será mais amplamente utilizada em Portugal, e noutros sistemas de saúde, de acordo com a aceitação por parte dos profissionais de saúde e do impacto das regulamentações previstas nesta área. Em Portugal, ainda vemos estas soluções limitadas a alguns pilotos de inovações, pelo que o desafio será como fazer dessas soluções produtos comercializáveis, que permitam o crescimento da indústria.
SAPO TeK: Especificamente em relação ao ecossistema das startups, qual é a vossa perceção no que se refere à inovação em saúde?
Miguel Amador: Vemos um ecossistema de startups de Saúde Digital a evoluir em Portugal. Mais de metade das startups apoiadas pelo EIT Health no país encontram-se nesta área. E temos excelentes exemplos, como a Swordhealth, que está a conquistar o mercado dos EUA com uma solução de telerreabilitação, a Peekmed, que vende para vários países do mundo a sua plataforma de planeamento cirúrgico ortopédico, ou a Promptly, que participa em projetos de telemonitorização que abrangem milhares de pacientes em toda a Europa. As startups portuguesas beneficiam do fácil acesso às instituições de saúde para desenvolver tecnologia e ciência sólidas, e desde cedo assumem um foco na internacionalização.
SAPO TeK: Estamos a conseguir atrair atenção internacional nesta área?
Miguel Amador: Temos visto exemplos de startups de Saúde Digital de toda a Europa a mudarem os seus escritórios para Portugal, pois encontram aqui o talento necessário para desenvolver os seus produtos. Há também mais investidores em estágios iniciais dispostos a investir em Saúde Digital, para além de uma maior facilidade de recorrer a investidores de outras regiões para rondas posteriores. A iLof, que foi inicialmente apoiado pelo EIT Health, atraiu investimentos principalmente oriundos dos EUA nas suas primeiras rondas. Com o trabalho das primeiras empresas a ser reconhecido no estrangeiro, espera-se que aumente o apetite pelo ecossistema português, o que beneficiará startups que são em geral criadas no sentido de chegar aos mercados internacionais.
SAPO TeK: Há um interesse crescente pelas startups e pela inovação na saúde. Essa tendência também se acentuou na Europa?
Miguel Amador: No último ano, verificou-se um grande impulso da Saúde Digital nas principais economias do globo, com a crescente adoção destas soluções desenvolvidas por startups e empresas. No EIT Health esperamos que se continue a verificar essa tendência, já que algumas preocupações foram descartadas pelo uso prático da tecnologia. Também os pacientes e cidadãos mostram-se mais exigentes no acesso a essas ferramentas. Com isto, verificámos também um investimento recorde em startups de Saúde Digital, que começou na Ásia, teve em 2020 o seu boom nos EUA e está a chegar à Europa em 2021. A Europa parecia ter-se atrasado no investimento nesta tendência, visto que a resposta económica à crise ainda está a ser implementada, mas a UE colocou no Programa-Quadro Horizonte Europa um grande investimento no Digital e nos Cuidados de Saúde.
SAPO TeK: E quais são as áreas onde esta inovação está a ser mais relevante?
Miguel Amador: Em relação à inovação, embora o boom tenha se concentrado principalmente em empresas de telemedicina, a adoção de tais ferramentas digitais abre as portas para uma disseminação mais ampla de soluções de IA (Inteligência Artificial). No entanto, a implementação das soluções de IA será mais amplamente utilizada em Portugal, e noutros sistemas de saúde, de acordo com a aceitação por parte dos profissionais de saúde e do impacto das regulamentações previstas nesta área. Em Portugal, ainda vemos estas soluções limitadas a alguns pilotos de inovações, pelo que o desafio será como fazer dessas soluções produtos comercializáveis, que permitam o crescimento da indústria.
Este artigo integra o Especial Saúde Digital: O que a tecnologia traz de mais valor para o combate à Covid-19
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