A data estava marcada há várias semanas. A 12 de julho seriam reveladas as primeiras imagens a cores captadas pelo telescópio espacial James Webb, o instrumento mais avançado para conseguir fotografias do espaço que podem ajudar a descobrir os mistérios do universo distante, mas o presidente dos Estados Unidos acabou por tomar a dianteira e revelar a primeira imagem num evento na Casa Branca, com a benção das agências espaciais que desenvolveram o projeto mas sem grande sustentação científica.

A divulgação foi feita já depois da meia noite na Europa, ainda no dia 11 de julho nos Estados Unidos, e esta tarde foi revelado o pacote completo, com num evento especial que é seguido de um briefing que está marcado para as 17h30 em Portugal Continental. O SAPO TEK vai acompanhar tudo e pode ficar a saber o que se passa em direto através da transmissão da NASA.

A ideia de que este é um grande dia para a humanidade e que só é possível pelo trabalho conjunto das várias entidades é comum nos discursos que estão a marcar a introdução deste momento muito esperado, com a NASA recordar também alguns dos pontos-chave de todo o processo de preparação antes da partida do telescópio para o Espaço.

Como explicam os especialistas as imagens que começam agora a ser reveladas mostram o Universo de uma forma nunca antes vista, afirmando-se como o fruto do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 20 anos.

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Depois da primeira imagem, que já tinha sido revelada em antecipação ao evento, a segunda do conjunto retrata o exoplaneta WASP-96 b captado pelo telescópio espacial a uma distância de mil anos-luz. A imagem demonstra o primeiro espetro infravermelho de um exoplaneta, algo que nunca tinha sido conseguido com as anteriores ferramentas espaciais à sua disposição, como é o caso do Hubble.

Nesta segunda imagem, o telescópio conseguiu captar a presença de água, assim como provas da existência de nuvens e nevoeiro, na atmosfera do WASP-96 b.  

Embora possa parecer apenas um conjunto de linhas, no mínimo, estranhas, para olhos menos "treinados", os cientistas detalham que a imagem está repleta de informação útil, que os ajudará a obter uma maior compreensão dos fenómenos que se passam neste exoplaneta gasoso que orbita uma estrela distante com algumas semelhanças ao nosso Sol.

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A terceira das imagens retrata a nebulosa planetária NGC 3132 causada pela morte de uma estrela, a cerca de 2.500 anos-luz de distância. Os cientistas realçam as diferenças entre as cores que compõem a nébula, causadas pelos diferentes gases emitidos durante este fenómeno.

Depois da morte de uma estrela, segue-se uma "dança" cósmica. A quarta imagem, que toma o título "Stephan’s Quintet", retrata um agrupamento de cinco galáxias. Segundo os especialistas, ela apresenta-se como um mosaico de 1.000 ficheiros de imagem diferentes, contando com mais de 150 milhões de pixels, afirmando-se como a maior imagem captada pelo telescópio especial até à data.

Por fim, a quinta das imagens apresenta-nos uma visão da nebulosa de Carina, considerada como um "berçário" de estrelas. Os cientistas realçam os detalhes e texturas captadas pelo telescópio, incluindo estruturas outrora desconhecidas.

Bill Nelson, administrador da NASA, enfatiza que as descobertas feitas pelo telescópio representam o melhor de todo o trabalho feito pelos cientistas da agência espacial, mantendo a sua capacidade para levar a Humanidade mais longe a nível científico.

"Não queremos parar de explorar os céus, muito menos deixar de ter a audácia de avançar e de dar um passo em frente pela Humanidade. Nas palavras de Carl Sagan: «Algures, algo incrível está à espera de ser descoberto». Acredito que estas palavras se estão a tornar realidade", afirma Bill Nelson.

Primeiros "alvos" definidos e uma primeira imagem que descobre mais do universo distante

A primeira imagem que foi hoje divulgada pelo presidente Joe Biden, durante um evento na Casa Branca, mostra um cluster da galáxia SMACS 0723. A NASA explica que a imagem foi conseguida em apenas "um dia de trabalho" do supertelescópio.

Bill Nelson, administrador da NASA, sublinhou que esta não era apenas a primeira imagem a cores do Telescópio Espacial James Webb, mas a imagem de infravermelhos mais profunda e nítida do universo distante, até agora captada.

"Esta imagem cobre um pedaço do céu aproximadamente do tamanho de um grão de areia à distância de um braço. É apenas uma pequena lasca do vasto Universo", afirmou o administrador da NASA, Bill Nelson.
Primeira imagem Webb
créditos: NASA webb

Na verdade, a fotografia não é a mais profunda do universo já captada, porque algumas missões, como o COBE e WMAP, que não usam infravermelhos, conseguiram observar o universo mais próximo do Big Bang, quando existia apenas radiação de micro ondas, mas não havia estrelas ou galáxias. O Webb faz observações que atingem cerca de 100 milhões de anos depois do Big Bang.

Seis meses depois do lançamento do James Webb, as imagens do campo profundo do Webb têm muitos detalhes para revelar mas são apenas o principio do que o supertelescópio pode trazer para a investigação dos segredos do universo.

Esta fotografia está entre as primeiras imagens coloridas do telescópio. Algumas já tinham sido divulgadas, mas eram apenas testes e no fim de semana foi sabido que as primeiras imagens coloridas e espetros obtidos pelo telescópio espacial James Webb se reportam a cinco objetos cósmicos, incluindo uma das maiores e mais brilhantes nebulosas e um planeta extrassolar gigante.

A seleção das imagens e dos espetros que divulgados hoje ficou a cargo de um comité de representantes da NASA, ESA e CSA e do Space Telescope Science Institute, centro de operações científicas do telescópio, nos Estados Unidos.

Um dos objetos cósmicos captados pelo James Webb é a Nebulosa Carina, uma das maiores e mais brilhantes nebulosas no céu, localizada a cerca de 7.600 anos-luz da Terra, na constelação Carina. A Nebulosa Carina abriga muitas estrelas com uma massa várias vezes superior à do Sol.

Do planeta WASP-96b, descoberto em 2014, será revelado o seu espetro. Trata-se de um planeta gigante fora do Sistema Solar, composto principalmente por gás e localizado quase a 1.150 anos-luz da Terra. Orbita a sua estrela a cada 3,4 dias.

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A lista de “alvos” do James Webb inclui, ainda, o Quinteto de Stephan, um grupo de cinco galáxias situado a 290 milhões de anos-luz da Terra, na constelação Pegasus, a Nebulosa do Anel Sul, uma nuvem de gás que rodeia uma estrela moribunda, e o corpo celeste SMACS 0723, onde “grandes aglomerados de galáxias em primeiro plano ampliam e distorcem a luz dos objetos atrás deles, permitindo uma visão de campo profundo das populações de galáxias extremamente distantes”.

Um momento muito aguardado

"A publicação das primeiras imagens do James Webb vai proporcionar-nos um momento único em que vamos poder parar e maravilhar-nos com algo que nunca vimos", afirmou Eric Smith, director do projeto, quando a data de revelação foi marcada. "Estas imagens serão o culminar de décadas de dedicação, talento e sonhos, mas também o princípio de algo maior", rematou.

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Antes de poder operar como previsto, o telescópio teve de passar por um período de preparação que incluiu o arrefecimento de componentes, a calibração de sensores e o alinhamento dos espelhos. Antes disso, ESA, NASA, a Agência Espacial Canadiana e o Instituto Científico do Telescópio Espacial passaram cinco anos a debater o que é que o aparelho deveria captar assim que estivesse operacional.

A NASA já partilhou algumas imagens que o James Webb captou durante o processo de calibração, mas importa sublinhar que se tratavam de testes, pelo que ainda não foi possível aferir todo o potencial do aparelho. Joseph De Pasquale, cientista no Instituto Científico do Telescópio Espacial reforça essa ideia. "Claro que há coisas que estamos à espera de ver, mas com um telescópio novo e com esta tecnologia de infravermelhos de alta definição, não saberemos até ver", disse.

Veja as imagens

O telescópio James Webb tem o nome de um antigo administrador da NASA e foi enviado para o espaço em 25 de dezembro, após sucessivos atrasos, num foguetão de fabrico europeu. Está em órbita a 1,5 milhões de quilómetros da Terra.

O telescópio prepara-se também para iniciar uma série de observações científicas. Os dados recolhidos serão depois analisados e integrados em estudos mais extensos cujas conclusões acabarão por ser divulgadas em artigos científicos.

As infografias partilhadas pela NASA e a ESA mostram como funciona o supertelescópio

Antes de poder iniciar os seus trabalhos científicos, o telescópio passou por um período de seis meses dedicado à calibração dos seus instrumentos no espaço e ao alinhamento dos seus espelhos.

A astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira, que trabalha no Centro de Operações Científicas da ESA, em Espanha, é responsável pela calibração de um dos quatro instrumentos do James Webb, participando na campanha de preparação das observações com fins científicos. Vários cientistas portugueses estão envolvidos em projetos de investigação que implicam tempo de observação com o telescópio.

Os astrónomos esperam com o James Webb possa obter mais dados sobre os primórdios do Universo, incluindo o nascimento das primeiras galáxias e estrelas, mas também sobre a formação de planetas.

Nota de redação: A notícia foi atualizada com mais informação. (Última atualização: 17h47)