A SpaceX vai ter de cumprir 75 recomendações se quiser prosseguir com os planos de lançamento da sua nave espacial Starship, a partir da base de Boca Chica, no Texas. As alterações são solicitadas pela Federal Aviation Administration (FAA), o regulador norte-americano da aviação, e decorrem de uma análise de impacto ambiental às atividades da empresa de Elon Musk na zona envolvente.

São a melhor das más notícias que a empresa podia receber, já que a análise acaba por concluir que, com este conjunto de ações, a companhia pode prosseguir os trabalhos na base e dispensa uma análise mais aprofundada e mais demorada.

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A base de Boca Chica é usada pela SpaceX desde 2012, mas o plano inicial não previa o lançamento de uma próxima geração de veículos espaciais da marca para órbita, algo que carece ainda de uma autorização da FAA para poder acontecer, que se torna agora mais provável.

Numa primeira fase, a plataforma foi comprada com o intuito de servir de base de lançamento para os foguetões Falcon 9 e Falcon Heavy. A previsão apontava para 12 lançamentos anuais e foi com base nesse plano que o espaço foi alvo de uma primeira análise de impacto ambiental, em 2014.

Esta análise foi mais aprofundada. Estudou em detalhe os planos da SpaceX, ouviu especialistas, populações e outros intervenientes, para poder antecipar e prevenir impactos da atividade da empresa, que temia agora ser sujeita a um longo e moroso processo com o mesmo detalhe, o que aparentemente não vai acontecer.

Em 2018, a Spacex mudou de planos e decidiu manter o lançamento dos seus rockets comerciais no Cabo Canaveral e dedicar a base de Boca Chica, perto da fronteira com o México, apenas aos desenvolvimentos da Starship. Para acomodar os novos planos, a operação ganhou escala, o volume de testes aumentou e as queixas dos moradores também aumentaram, porque sempre que há testes há restrições, seja de acesso a vias rodoviárias, ou mesmo de permanência nas habitações mais próximas.

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A Starbase tem desde então sido usada para construir protótipos da Starship, a aposta da SpaceX para o transporte de carga e humanos em viagens espaciais mais longas, até à Lua e posteriormente até Marte. A partir daí foram também já realizados vários testes de altitude do veículo que vai integrar o programa Artemis da NASA e que, se tudo correr como previsto, levará humanos de volta à Lua em 2025. O primeiro teste de voo bem-sucedido aconteceu em maio do ano passado, depois de várias outras tentativas com desfechos menos felizes.

A avaliação de impacto ambiental é um processo complexo e que já implicou um abrandamento das atividades no local ao longo do último ano e meio. Só no processo de consulta pública à decisão da FAA foram recebidos mais de 18 mil comentários, mas o resultado parece agradar à empresa, que assinalou a decisão agora conhecida como mais um passo em direção ao primeiro voo orbital da Starship.

Os documentos entretanto publicados pela FAA dão a conhecer alguns detalhes sobre os planos futuros da SpaceX para a Starship. Revelam que, durante a fase de testes, a SpaceX pretende lançar cerca de 20 voos suborbitais por ano com a Starship e outros cinco outros voos orbitais e suborbitais com todo o sistema montado: Starship e Super Heavy, o lançador que vai ajudar a nave espacial a ganhar o impulso necessário para entrar em órbita. Tudo isto pressupõe 500 horas de encerramento da autoestrada nas imediações, se tudo correr bem, mais 300 horas adicionais, se existirem anomalias.

Para poder prosseguir com os planos, a empresa de Elon Musk terá agora de fazer alterações que vão ter impacto na qualidade do ar, nível de ruído e acesso a uma praia nas imediações, por exemplo. Fica também sujeita a novas regras para o fecho de estradas, que terá de se concentrar num número limitado de fins de semana, entre outras medidas.

À cautela, a SpaceX já tinha começado a trabalhar num plano B, para o lançamento da Starship na sua plataforma no Cabo Canaveral, de onde têm sido lançados os rockets Falcon 9 ao serviço da NASA. Aparentemente vai poder manter o plano inicial.