As evidências já apontavam nesse sentido e agora o Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia confirmou: 2023 foi o ano mais quente já registado no planeta Terra e por uma margem substancial.

O marco era amplamente esperado pela comunidade científica, depois da quebra sistemática dos recordes climáticos. O mês de julho de 2023 já tinha sido anunciado pelo serviço europeu como o mais quente alguma vez registado, depois de junho também ter batido recordes de calor.

Desde junho passado, todos os meses têm sido os mais quentes já registados no mundo, em comparação com igual mês dos anos anteriores, adianta agora o C3S.

"Este foi um ano muito excecional em termos climáticos... numa categoria à parte, mesmo quando comparado com outros anos muito quentes", disse o diretor do C3S, Carlo Buontempo, citado pela Reuters.
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O C3S confirmou 2023 como o ano mais quente nos registos de temperatura global desde 1850. Quando comparado com dados paleoclimáticos de fontes como anéis de árvores e bolhas de ar em glaciares, o investigador considera que foi "muito provavelmente" o ano mais quente dos últimos 100.000 anos.

Em média, em 2023, o planeta estava 1,48 graus Celsius mais quente do que no período pré-industrial de 1850-1900, quando os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis em escala industrial, bombeando dióxido de carbono para a atmosfera.

Apesar da proliferação de metas climáticas de governos e empresas, as emissões de CO2 permanecem teimosamente elevadas. As emissões mundiais de CO2 provenientes da queima de carvão, petróleo e gás atingiram níveis recorde em 2023. No ano passado, a concentração de CO2 na atmosfera subiu para o nível mais alto registado, de 419 partes por milhão, revelou o C3S.

O ano passado foi 0,17ºC mais quente que 2016, o ano mais quente anterior, quebrando o recorde por uma margem “notável”.

Aquecimento da água está a “stressar” e a pôr corais em risco em várias regiões do mundo
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Juntamente com as alterações climáticas causadas pelo homem, em 2023 as temperaturas foram impulsionadas pelo fenómeno climático El Nino, que aquece as águas superficiais no leste do Oceano Pacífico e contribui para o aumento das temperaturas globais.

Aquecimento da água está inclusive a “stressar” e a pôr corais em risco em várias regiões do mundo. Os corais ficam stressados quando a água está muito quente e isso leva a que expulsem as algas que vivem neles, perdendo a cor. O branqueamento extremo pode deixar um recife vulnerável à fome e a doenças ou mesmo levá-lo à morte.

Cada fração do aumento da temperatura agrava desastres climáticos extremos e destrutivos. Em 2023, o planeta mais quente agravou ondas de calor mortais da China à Europa, chuvas extremas que causaram inundações que mataram milhares de pessoas na Líbia e a pior época de incêndios florestais alguma vez registada no Canadá, por exemplo.

programa Copernicus consiste numa rede de satélites de observação do planeta Terra, sendo parte importante para diversas questões relacionadas com o ambiente e com a Proteção Civil, como a poluição do ar, o controlo da desflorestação, sismos, cheias e também as erupções vulcânicas e os grandes incêndios, como foi o caso do balanço dos 444 mil hectares ardidos na União Europeia entre janeiro e agosto do ano passado.

Os satélites do programa Copernicus e outros, assim como drones, garantiram algumas das imagens mais impressionantes de 2023, entre sismos, vulcões em erupção e ondas de calor – assim como de outras catástrofes como os ataques na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Foi o caso do impacto do calor que se sentiu em vários países europeus.

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