
Por Avelino Martins (*)
Se no século XVIII a Revolução Industrial transformou o processo de produção e se há cerca de 80 anos a chegada dos computadores alterou a forma como as pessoas realizam o seu trabalho, atualmente é a Inteligência Artificial (IA) que está a provocar uma verdadeira mudança de paradigma. De facto, a IA e, em particular, a IA generativa, estão a transformar muitos setores, e o ramo da programação não é exceção. O trabalho dos developers e a própria dinâmica das empresas tecnológicas está a mudar, pelo que importa, hoje mais do que nunca, responder à questão: como nos devemos preparar?
Hoje, a IA já consegue estar presente em todas as fases do ciclo de desenvolvimento de software (SDLC), desde ferramentas que escrevem código ou automatizam testes, sendo muito mais do que uma ajuda pontual: está a alterar profundamente o papel dos programadores.
O impacto da IA na programação está, assim, a trazer novos desafios às empresas, que precisam de os encarar e transformar em oportunidades. Segundo um estudo recente do MIT, apenas 40% das empresas investem atualmente em ferramentas de IA, mas a percentagem de colaboradores que as usa regularmente já se encontra nos 90%. Estes números permitem-nos antecipar vários problemas. Um dos mais prementes é a segurança dos dados. Aplicado ao exemplo de desenvolvimento de software, isto poderá significar que profissionais que recorrem, sem o conhecimento da empresa, a assistentes de código que estão disponíveis online e de forma gratuita correm o risco de expor inadvertidamente os dados dos clientes.
A outro nível, as empresas têm procurado balizar o uso de IA antecipando o impacto que terá nos seus profissionais. Por um lado, assiste-se em alguns casos a uma resistência natural por parte dos profissionais mais séniores, que encaram estas ferramentas com alguma desconfiança, receando que venham substituir postos de trabalho. Por outro, os juniores, sendo mais rápidos a adotar estas ferramentas, não têm ainda competências críticas de raciocínio, revisão e solução de problemas suficientemente desenvolvidas, pelo que o uso excessivo de IA pode comprometer o seu progresso.
Para superar estes desafios as empresas devem desenvolver medidas concretas, que passam por um investimento não só na IA como nas pessoas. A aposta na requalificação das equipas é essencial. Preparar os programadores – independentemente da sua faixa etária - para trabalharem com estas ferramentas, com formação adequada, será fundamental para garantir um crescimento sustentado e com vantagens a longo prazo.
Muitas empresas têm, de acordo com notícias recentes, optado por despedimentos em massa, e nos Estados Unidos da América, mas não só, vemos um decréscimo na contratação de juniores na área de TI. Face a esta realidade, deve ser da responsabilidade de universidades e empresas integrar esta ferramenta, de forma a garantir que os profissionais estão alinhados com a realidade do mercado e prontos para evoluir no futuro. Da mesma forma, os próprios programadores devem também estar dispostos a experimentar, testar e incorporar ferramentas de IA no dia a dia, uma vez que quem souber usar estas soluções de forma responsável e eficaz vai ganhar uma vantagem competitiva.
O uso destas ferramentas promovido pelas empresas tem ainda outro benefício - ajudar os seus colaboradores a identificar pain points da organização e oportunidades para a criação de ferramentas próprias que, adaptadas às necessidades de cada empresa, permitem poupar tempo e recursos. Isto possibilita que cada organização se diferencie da concorrência, com soluções próprias que refletem a sua experiência e valências. Temos visto exemplos interessantes de empresas que criam ferramentas para solucionar desafios em todo o ciclo de desenvolvimento de software, desde o levantamento de requisitos até a questões com legacy code.
Hoje, a dúvida já não é se a IA vai mudar a profissão de programador, uma vez que isso já está a acontecer. No campo do desenvolvimento de software, o futuro será menos sobre escrever código e mais sobre orientar da melhor forma as máquinas para o fazerem. Importa, por isso, agarrar esta oportunidade e reinventar o papel do developer de forma a construir um futuro com ainda mais valor.
(*) CIO da Present Technologies
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